O jornalista Laurentino Gomes, que está lançando o segundo volume de sua trilogia de livros sobre a escravidão no Brasil, falou a O Antagonista sobre a relação entre escravidão e corrupção.
“Essa é uma ideia do Joaquim Nabuco (1849-1910)”, diz Laurentino, citando um dos principais líderes abolicionistas. “[Ele] defendeu que a escravidão corrompeu toda a maneira como o Brasil poderia ter se organizado. Corrompeu as relações econômicas, sociais, familiares. Permitiu que um grupo de brasileiros explorasse o outro, inclusive na sua sexualidade. Distorceu a noção de trabalho, porque no Brasil escravista quem trabalhava era escravo – o branco que fosse fidalgo não podia nem carregar um guarda-chuva”.
A ordem escravista, acrescenta Laurentino, “resultou num Brasil muito informal, em que todo mundo tenta tirar algum proveito, alguma coisa dessa ordem aparente. O Brasil é uma miragem, né? A ordem jurídica, institucional no Brasil a mim até hoje me parece muito uma miragem. Você olha a Constituição, você olha as leis brasileiras, ‘nossa, que país bem organizado, como tudo foi previsto nos seus detalhes’. Quando você vai na realidade, é uma confusão, é uma bagunça, cada um tentando encontrar um espaço de sobrevivência que esse Estado não garante”.
O Brasil foi o principal destino de escravizados do comércio transatlântico – 4,9 milhões de africanos foram transportados e vendidos no Brasil. Também fomos o último país das Américas a abolir a escravidão, em 1888.
Na entrevista, Laurentino também falou das novas descobertas de historiadores sobre a escravidão, a importância dos métodos de resistência dos escravizados, e a banalidade do sistema: “Todo mundo que não fosse escravo no século XVIII ou era dono de escravo ou sonhava em ser dono de escravo, inclusive ex-escravos que conseguiam a liberdade”.
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