Lula, FHC, o Polo Democrático e as garotas assanhadas do neolulismo
O Brasil é de uma previsibilidade que dá sono. Em 2 de abril, escrevi que o perigo era Lula virar o Polo Democrático. Ele já virou. Depois de ser anistiado, digamos assim, pelo Supremo Tribunal Federal, numa decisão extravagante até mesmo para os largos padrões judiciários nacionais, o ex-condenado por corrupção e lavagem de dinheiro reabilitou-se politicamente com a rapidez de uma viagem de jatinho de São Paulo a Brasília...
O Brasil é de uma previsibilidade que dá sono. Em 2 de abril, escrevi que o perigo era Lula virar o Polo Democrático. Ele já virou. Depois de ser anistiado, digamos assim, pelo Supremo Tribunal Federal, numa decisão extravagante até mesmo para os largos padrões judiciários nacionais, o ex-condenado por corrupção e lavagem de dinheiro reabilitou-se politicamente com a rapidez de uma viagem de jatinho de São Paulo a Brasília.
O “encontro histórico” de Lula e Fernando Henrique Cardoso na semana passada, na casa do ex-ministro Nelson Jobim, sócio de André Esteves, banqueiro que tem como prioridade o bem do Brasil, como todo mundo sabe, é parte visível de uma articulação que começou logo que o chefão petista ganhou a peculiar condição de ex-condenado. Lula passou a encontrar-se com todo mundo, inclusive velhos e novos amigos do empresariado. Um dos novos, como revelou a Crusoé, é o banqueiro Roberto Setúbal. Previsivelmente (bocejo), o chefão petista voltou a bater na tecla de que o seu radicalismo é enganação de palanque (disse que seria candidato até à revista Paris Match, poxa) e que, agora, ele é a segunda e terceira vias ao mesmo tempo — um nome capaz de aglutinar a esquerda e essa massa meio amorfa a que chamamos centro, o que inclui os eleitores arrependidos de Jair Bolsonaro. A aposta é que o antipetismo foi substituído pelo antibolsonarismo e o argumento é que não existe candidato mais seguro do que Lula para derrotar o atual presidente nas eleições de 2022.
Petistas são profissionais, inclusive na política. A divulgação do encontro com Fernando Henrique Cardoso foi feita apenas hoje, porque era preciso calcular o efeito no PT, no PSDB e sobre personagens que se apresentaram como possíveis candidatos a ser terceira via (eventuais muxoxos fazem parte da cena): Luciano Huck, que já desistiu e deverá substituir Faustão nas tardes domingo da Globo (estranho país, este, no qual a opção é entre ser postulante a presidente da República ou apresentador da Dança dos Famosos), e Luiz Henrique Mandetta, o ex-ministro da Saúde que seria um vice-presidente dos sonhos para Lula, mas mantém firme a sua intenção de concorrer ao Planalto. Ao que parece, o cálculo chegou a um resultado não de todo mau. União nacional é isso aí, com Fernando Henrique como destaque dessa escola de samba, skindô, skindô. Quanto a João Doria e Ciro Gomes, nenhuma surpresa: eles vão chiar de qualquer maneira, mas ninguém os vê como nomes viáveis para chegar ao Palácio do Planalto, a não ser eles próprios. E Sergio Moro? Não sei se você já percebeu, o ex-juiz foi queimado no auto de fé promovido pelo establishment do qual faz parte Jair Bolsonaro, aliás. Pode acabar falando apenas com João Amoêdo no grupo de WhatsApp.
Nas redes sociais, o sujeito encarregado de escrever por Lula disse o seguinte sobre o encontro com FHC, como publicamos: “A convite do ex-ministro Nelson Jobim, o ex-presidente Lula e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se reuniram para um almoço com muita democracia no cardápio. Os ex-presidentes tiveram uma longa conversa sobre o Brasil, sobre nossa democracia, e o descaso do governo Bolsonaro no enfrentamento da pandemia”. Um evento, portanto, bem presidencial, acima das rusgas e divergências (de resto, bem poucas, apesar de todo o teatro da polarização entre PT e PSDB até 2018). Notícia veiculada, Fernando Henrique, disse a Sonia Racy, do Estadão, que continua “buscando uma terceira via entre Bolsonaro e Lula. Se possível, no PSDB. Se essa não acontecer, não vou deixar meu voto em branco”. Bocejo outra vez.
As garotas do neolulismo estão assanhadíssimas e a Lava Jato é passado a ser esquecido pela maioria dos eleitores, se é que já não foi. Agradeçam a Bolsonaro, não sejam ingratos.
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