Kajuru é um agente provocador, um agente duplo, um irresponsável?
Brasília é um circo em que os cidadãos são os eternos palhaços no picadeiro. Esses requerimentos que querem incluir a investigação de governadores e prefeitos na CPI da Covid visam apenas a tirar o foco do objetivo inicial -- debruçar-se sobre a atuação calamitosa do governo federal no enfrentamento da pandemia --, confundir o indistinto público e não indiciar ninguém ao final. Quando a culpa está em todo lugar, ela não está em lugar nenhum. A manobra é manjada, mas ninguém se constrange em reprisá-la. Para completar, ainda temos a história do impeachment de Alexandre de Moraes, sugerida por Jair Bolsonaro em telefonema a Jorge Kajuru...
Brasília é um circo em que os cidadãos são os eternos palhaços no picadeiro. Esses requerimentos que querem incluir a investigação de governadores e prefeitos na CPI da Covid visam apenas a tirar o foco do objetivo inicial — debruçar-se sobre a atuação calamitosa do governo federal no enfrentamento da pandemia –, confundir o indistinto público e não indiciar ninguém ao final. Quando a culpa está em todo lugar, ela não está em lugar nenhum. A manobra é manjada, mas ninguém se constrange em reprisá-la, com a ajuda dos ingênuos que acham que daqui para a frente tudo pode ser diferente.
Para completar, ainda temos a história do impeachment de Alexandre de Moraes, sugerida por Jair Bolsonaro em telefonema a Jorge Kajuru, autor do mandado de segurança impetrado no Supremo Tribunal Federal para que a CPI da Covid fosse instalada no Senado, juntamente com Alessandro Vieira. Luís Roberto Barroso concedeu liminar favorável, cumprindo a sua obrigação de defender a Constituição Federal. A conversa com o presidente foi divulgada pelo senador não se sabe ao certo por qual motivo. No diálogo erudito, Jair Bolsonaro sugere a Jorge Kajuru incluir o impeachment de ministros do Supremo no bolo, a fim de melar a CPI da Covid. O senador diz, então, que já havia entrado com o pedido de afastamento de Alexandre de Moraes. “Você é dez”, responde Bolsonaro.
De fato, na sexta-feira passada, dia 9, Diego Amorim havia noticiado em primeira mão, em O Antagonista, que Jorge Kajuru havia solicitado a Luís Roberto Barroso, por meio de outro mandado de segurança, que determinasse ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a abertura do processo de impeachment de Alexandre de Moraes. O pedido de impeachment, assinado também pelo próprio senador, está pendente de análise na casa. Jorge Kajuru sabe que um ministro do STF não tem esse poder sobre o Senado, mas mesmo assim foi adiante. De acordo com o que ele disse a O Antagonista, tratava-se de uma provocação a Jair Bolsonaro, que, irritado com a ordem de Luís Roberto Barroso para que a CPI da Covid fosse instalada, cobrou do ministro do STF que mandasse o Senado “analisar também pedidos de impeachment de seus companheiros”.
Disse Jorge Kajuru a O Antagonista: “Esse meu pedido é para ‘calar a boca’ do Bolsonaro. Era ele, Bolsonaro, que não deixava isso [pedidos de impeachment de ministros do STF] avançar aqui. Ele não queria briga com o Supremo. Mas agora quer? Então, estou atendendo a um pedido do presidente. Está aí, presidente.”
Apesar dessa declaração a este site, Jorge Kajuru parece entender-se com Jair Bolsonaro no telefonema que o próprio senador divulgou no domingo. A conversa, obviamente, aprofundou o fosso entre o Planalto e o Supremo. Não contente, Kajuru divulgou uma segunda parte da conversa. Nela, o presidente da República ameaça agredir o senador Randolfe Rodrigues, autor do pedido de instauração da CPI da Covid.
Que jogo é esse, afinal de contas? Jorge Kajuru é um agente provocador, um agente duplo, está fazendo teatro ou é simplesmente um irresponsável? Talvez ele seja tudo isso, sob o argumento tosco de que está sendo transparente. A única certeza é que tocar mais fogo no circo é do interesse de Jair Bolsonaro. Já não basta apenas confundir o indistinto público com uma CPI da Covid que de tão abrangente não levaria a lugar nenhum, É preciso também queimar a lona que ainda nos protege das intempéries: a da democracia.
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