O Datafolha e a leitura de tripas
A lógica da falta de lógica em ler o futuro por meio de cartas ou das linhas das mãos é até compreensível. Números ou figuras podem ser associados a coisas melhores e piores, assim como as suas combinações; linhas das mãos mais ou menos longas ou os seus traçados, idem. Já a leitura do futuro por meio das tripas de animais é algo, pelo menos para mim, inalcançável. As pesquisas de aprovação de políticos às vezes se assemelham à prática de ler tripas de animais. Mas não vou culpar quem as interpreta, porque talvez o problema esteja principalmente nas tripas: parecem legíveis sem que o sejam inteiramente...
A lógica da falta de lógica em ler o futuro por meio de cartas ou das linhas das mãos é até compreensível. Números ou figuras podem ser associados a coisas melhores e piores, assim como as suas combinações; linhas das mãos mais ou menos longas ou os seus traçados, idem. Já a leitura do futuro por meio das tripas de animais é algo, pelo menos para mim, inalcançável. As pesquisas de aprovação de políticos às vezes se assemelham à prática de ler tripas de animais, hoje extinta, imagino. Mas não vou culpar quem as interpreta, porque talvez o problema esteja principalmente nas tripas: parecem legíveis sem que o sejam por inteiro.
Veja-se o caso da pesquisa Datafolha publicada hoje. De acordo com ela, 54% dos brasileiros acham que Jair Bolsonaro age ruim ou pessimamente no enfrentamento da pandemia. Um aumento de seis pontos percentuais em relação ao final de janeiro, quando esse número era de 48%. É o número em destaque nas manchetes. Eu diria que esses são os cidadãos que têm alguma coisa na cabeça, dado o evidente quadro de descalabro no governo federal. No entanto, 44% reprovam o seu governo (contra 40% no mês passado). Como explicar essa diferença de 10%? As porcentagens das duas respostas não deveriam ser iguais ou dentro da margem de erro? Para onde foi toda essa gente neste momento em que não há diferença entre gestão da pandemia e administração de tudo o mais: saúde, economia, educação, infraestrutura?
Ainda no quesito “gestão da pandemia”, segundo o Datafolha, 22% dos brasileiros acham Bolsonaro ótimo ou bom (contra 26% em janeiro). Eu diria que é o contigente de cidadãos descerebrados. Avaliam que o presidente tem uma atuação “regular”, 24% (contra 25% em janeiro). Meio cérebro? Somados ambos os números, Bolsonaro tem uma taxa de 46% da qual ele não pode reclamar. Porém, ai porém, quando se vai para o quadro sobre a avaliação geral do governo, a taxa de reprovação de 44% tem como contraponto 30% de aprovação (31% no mês passado) e 24% de regular (26% em janeiro). Ou seja, o mesmo índice de 54% que acham a gestão da pandemia ruim ou péssima.
Vá entender as tripas, especialmente as nacionais. Talvez as próximas tripas sejam mais esclarecedoras sobre o presente e o futuro.
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