A realidade de Rodrigo Maia, cria do Centrão sempre raiz
Há uma hora em que o noticiário político, mesmo o mais pródigo na falação e análise, precisa confrontar-se com a realidade. E a realidade de Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara dos Deputados, é que ele é um parlamentar de apenas 74.232 votos. Esse foi o total obtido por ele no Rio de Janeiro, em 2018...
Há uma hora em que o noticiário político, mesmo o mais pródigo na falação e análise, precisa confrontar-se com a realidade. E a realidade de Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara dos Deputados, é que ele é um parlamentar de apenas 74.232 votos. Esse foi o total obtido por ele no Rio de Janeiro, em 2018.
Na tradição oligárquica brasileira, ele foi catapultado pelo seu pai, Cesar Maia, que permaneceu por mais de uma década como titular da prefeitura do Rio de Janeiro. O pai não transmitiu nem um pouco do seu carisma a Rodrigo Maia. Mas o Botafogo da planilha da Odebrecht teve alguma escola: Cesar Maia foi condenado por improbidade administrativa e segue enrolado com a Justiça.
O pai de Rodrigo Maia é, ao menos, divertido. Certa feita, presenciei um cena protagonizada por Cesar Maia. Na qualidade de redator-chefe da Veja, eu tinha ido ao Rio de Janeiro para um almoço com o então prefeito. Na saída da prefeitura, então instalada no planetário da cidade (Rio de Janeiro…), deparamos com setoristas de rádios e jornais que precisavam entrevistá-lo sobre absolutamente nada. “Dá uma olhada no que vou fazer”, ele disse para mim, antes de dirigir-se ao grupo. “Prefeito, prefeito, o senhor pode dar uma palavrinha?”, perguntaram os setoristas, naquele vazio setorial de hábito. “Tenho uma declaração importante a dar”, declarou Cesar Maia, com pompa. Fez-se o silêncio. “Quero declarar que lutarei para transformar o Rio de Janeiro num principado. O principado da Guanabara. Será o Mônaco dos trópicos”, afirmou, sem corar. Afastado, caí na risada, enquanto os setoristas buscavam saber detalhes sobre o “novo projeto” de Cesar Maia.
Rodrigo Maia, por sua vez, não tem a menor graça, o menor carisma. Pelos sondáveis caminhos da política brasileira, viu-se alçado à presidência da Câmara, onde promoveu lambanças contra os interesses da nação, com votações noturnas para enterrar a luta anticorrupção no país e salvar a pele dele próprio e dos seus colegas de Parlamento. Com a eleição de Bolsonaro, ele assumiu o papel de defensor intransigente da democracia e grande promotor das reformas. Na verdade, ele só não transige com relação à Lava Jato e os seus protagonistas, que Botafogo odeia, e no que diz respeito aos interesses do pessoal da Faria Lima, que Botafogo ama.
O ex-presidente da Câmara é cria do Centrão sempre raiz, ao qual deu tanta força com as suas votações noturnas, que o Centrão sempre raiz cresceu e se tornou ainda mais frondoso, dando sombra a Bolsonaro, que agora lhe propicia fazer nascer frutos suculentos. Derrotado nas suas ambições de reeleger-se e, em seguida fazer o seu sucessor, Rodrigo Maia banca o bebê chorão, um dos seus papéis favoritos, diz-se traído, brigou com o seu grupo político (ele voltará às boas com a turma do DEM de um jeito ou de outro, não se preocupe, leitor) e, pelo que se publica, pode até ser fundador de um novo partido político, juntamente com Rodolfo Rodrigues (Randolfe, digo) e Luciano Huck. Que supostos partidários da Lava Jato possam a associar-se a Botafogo, um coronel da impunidade maquiado de modernidade (leia aqui a reportagem da Crusoé de outubro do ano passado, aberta para não assinantes), é outra prova de que novidade na política brasileira é ficção ruim. Só não é barata.
Nada disso importa, contudo. Rodrigo Maia é um parlamentar de apenas 74.232 votos e ouso prever que nunca subirá de patamar. Só terá chance de deixar de ser uma nulidade eleitoral, talvez, se Luciano Huck for candidato à presidência e lhe der uma mão em 2022.
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