O medo une os inimigos de Sergio Moro
O medo de Sergio Moro ser candidato em 2022 une Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre, Lula, Ciro Gomes, Ciro Nogueira, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e todas as suas adjacências. Os integrantes do partido anti-Lava Jato são os mesmos do partido anti-Moro, por óbvio. Só medo os une, assim como na poesia de Carlos Drummond de Andrade. Não é Congresso Internacional do Medo, mas nacional, brasileiríssimo...
O medo de Sergio Moro ser candidato em 2022 une Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre, Lula, Ciro Gomes, Ciro Nogueira, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e todas as suas adjacências. Os integrantes do partido anti-Lava Jato são os mesmos do partido anti-Moro, obviamente. Só o medo os une, assim como na poesia de Carlos Drummond de Andrade. Não é Congresso Internacional do Medo, mas nacional, brasileiríssimo.
Esse medo aflorou com a notícia de que o ex-ministro da Justiça reuniu-se com o apresentador Luciano Huck, em Curitiba, para tratar sobre uma possível chapa para a próxima eleição presidencial. Depois de a notícia apavorante ser publicada pela Folha, Moro deu entrevista a O Globo. Disse que não havia decidido ser candidato, que a conversa com Luciano Huck foi para tratar de temas gerais e que há vários nomes que podem lançar-se como candidatura de centro (além dele próprio): o próprio Huck, João Doria, João Amoêdo, Luiz Henrique Mandetta — e Hamilton Mourão. Sim, o bolsonarismo conseguiu a proeza de transformar Mourão em centrista. O centro ideológico brasileiro é um centro espírita, a respeito do qual Doria acha que é muito cedo para falar em nomes de presidenciáveis. Compreende-se, a eleição municipal é na semana que vem, mas o candidato de Doria em São Paulo ainda não proferiu o seu nome na propaganda de televisão.
Morrendo de medo, Rodrigo Maia, que namora e continua a namorar Huck, encrespou: “Não posso apoiar uma chapa integrada por alguém de extrema direita”. Pois é, o prócer do DEM, partido que Lula queria exterminar por representar a direita da direita quando o petista era presidente, acusou Moro de ser de extrema direita. O presidente da Câmara especializado em votações noturnas que transmutam alhos em bugalhos recorreu a uma batatada assada no forninho do PT. Moro é tão de extrema direita quanto Maia é físico nuclear. Basta ler os artigos que ele publica quinzenalmente na Crusoé. Basta ler os tuítes do ex-ministro. Extremista de direita não faz elogio fúnebre da juíza Ruth Ginsburg, ícone da esquerda americana. A fala de Maia serviu de recado a Huck, com quem almoçou hoje, no Rio de Janeiro, quase em caráter emergencial. E o apresentador, rapaz de convicções duradouras como um break comercial, captou a mensagem e saiu dizendo que a turma dele é a do presidente da Câmara.
Maia deu a deixa e Ciro Gomes partiu para cima de retroescavadeira: “Moro vendeu a toga em troca de um cargo e é um cara da extrema direita. O Moro se veste como os fascistas italianos da década de 30. O Moro é fascista.” Salvo engano, Moro nunca apareceu vestido de Benito Mussolini, mas aparentemente Ciro não gosta de terno com camisas escuras, ainda que eventuais. Há de se reconhecer que tem bom gosto quanto a esse aspecto, mas a verdade para por aí — ou quem sabe num nó de gravata semi-Windsor, nem muito magro nem muito gordo.
Do lado de Bolsonaro, o único a falar hoje contra Moro — até o momento — foi o ministro da Propaganda, Fábio Faria. Falar, não, escrever. Moço geralmente educado, ele mostrou que pode ser mais sauvage no ânimo beligerante do que a barba e cabelos longos meticulosamente malcuidados: “Não basta trair no governo, trair na saída, tem que continuar flertando com a traição. É um triplo mortal carpado”. Pelo jeito, bolsonaristas acham que divorciado tem de continuar fiel à ex, não importa a circunstância da separação.
Gilmar Mendes e Dias Toffoli, por sua vez, nada disseram até agora sobre o noticiário de hoje, mas as diretas para o ex-ministro virão cedo ou tarde. O mesmo vale para Lula. Provavelmente, repetirão a balela de que Moro, como juiz, agiu como político, eis outras provas e toda aquela conversa mole de sempre.
Um estrangeiro pode achar curioso que um ex-juiz sem cargo, mandato, dinheiro ou partido cause tanto medo em gente tão poderosa. Se um gringo me perguntasse o motivo, eu diria apenas que é porque o ex-juiz sem cargo, mandato, dinheiro ou partido tem votos. Votos de quem acredita, talvez piamente, que ele pode mudar o Brasil e fazer crescer flores amarelas e medrosas sobre os túmulos de toda essa gente. Não é preciso ser partidário de Moro para constatar o fato. É suficiente ser seu inimigo.
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