Vai para cima dele, Celso de Mello, enquanto o Kassio não vem
Imagine você se Donald Trump tivesse ido jantar na casa de Clarence Thomas, juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, acompanhado de Amy Coney Barrett, antes de indicá-la formalmente para o tribunal, do presidente pro tempore do Senado americano, Chuck Grassley, e da secretária de Imprensa, Kayley McEnany. No jantar hipotético, também estaria presente outro juiz da Suprema Corte, como John Roberts. Mais uma exercício de imaginação: depois de indicar a juíza, ela foi almoçar na casa de Roberts, onde, mais tarde o presidente foi recebido com um abraço fraternal pelo anfitrião. Grassley também apareceu por lá. O encontro foi tão gostoso que se estendeu até a hora do jantar. Se você acha que seria um escândalo de proporções tectônicas, acertou...
Imagine você se Donald Trump tivesse ido jantar na casa de Clarence Thomas, juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, acompanhado de Amy Coney Barrett, antes de indicá-la formalmente para o tribunal, do presidente pro tempore do Senado americano, Chuck Grassley, e da secretária de Imprensa, Kayley McEnany. No jantar hipotético, também estaria presente outro juiz da Suprema Corte, como John Roberts. Mais uma exercício de imaginação: depois de ser indicada, a juíza foi almoçar na casa de Roberts, onde mais tarde o presidente foi recebido com um abraço fraternal pelo anfitrião. Grassley também apareceu por lá. O encontro foi tão gostoso que se estendeu até a hora do jantar. Se você acha que seria um escândalo de proporções tectônicas, acertou. Estimo que Barrett seria reprovada na sabatina do Senado, se é que Trump conseguiria manter a indicação. A separação dos poderes nos Estados Unidos é coisa séria demais para começar com costelão e terminar em pizza.
No Brasil, porém, a avacalhação institucional de Executivo, Legislativo e Judiciário é tamanha, nunca foi tão grande, que houve apenas um suspiro de indignação em Brasília com a notícia dos convescotes de Jair Bolsonaro e Kassio “100% alinhado” Marques com Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Davi Alcolumbre e demais convivas. Tudo passou a ser do jogo, o que equivale a dizer que não existem regras para o jogo: ministro do Supremo pode dar festa de aniversário para réu de processo que ele está julgando, presidente do Senado pode tentar reeleger-se contrariando o regimento, parlamentar pode ficar impune por roubar em votação, presidente da República pode receber lobista que chega secretamente ao Palácio do Alvorada de jet ski – e nada tem consequências, além de gente como eu resmungando na imprensa.
Se você que tem outra profissão e pode deixar de ler o noticiário de vez em quando está cansado, imagine eu, que não tenho outra profissão. Sou obrigado a falar de uma gente que certamente não convidaria para tomar um café, muito menos almoçar ou jantar. São muitos ossos para pouco ofício.
Feito o mimimi, concluo: já que a avacalhação é ampla, geral e irrestrita, mudei de ideia. Disse aqui, em 17 de setembro, que Celso de Mello errara ao determinar que Bolsonaro prestasse depoimento presencial no inquérito sobre a interferência na PF, visto que “ter pulso firme na condução de uma investigação não significa atropelar ritos ou afrontar poderes, ainda mais quando não há risco de um acusado mudar a sua versão sobre o assunto examinado ou alterar rumos do inquérito. Como os fatos são notórios e as contradições de Bolsonaro nesse caso já estão mais do que evidentes, as perguntas feitas presencialmente a ele por um delegado de polícia e os advogados da parte contrária só serviriam para submetê-lo a humilhação desnecessário”. Eu era contra, agora sou a favor. Que ponham Bolsonaro na frente de um delegado de polícia, mesmo que não tenham feito o mesmo com Michel Temer. Aderi à jurisprudência de ocasião.
O meu raciocínio é da ordem da lei do Talião: se o presidente da República pode ofender a inteligência dos cidadãos, com explicações indecentes para comportamentos inadmissíveis, nada mais justo de que possa ser ofendido também no exercício do seu cargo. Pelo menos teremos catarse coletiva quanto a um dos protagonistas dessa chanchada a que estamos condenados. Trump é um lorde perto deles.
Vai para cima dele, Celso de Mello, enquanto o Kassio não vem.
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