A Areopagítica de Lula
O advogado de Lula comparou o processo contra seu cliente a um “auto da fé”.O Estadão, sabe-se lá por qual motivo, deu-lhe meia página.Com sua retórica involuntariamente cômica, José Roberto Batochio acusou a Lava Jato de forjar provas contra o amigo da Odebrecht...
O advogado de Lula comparou o processo contra seu cliente a um “auto da fé”.
O Estadão, sabe-se lá por qual motivo, deu-lhe meia página.
Com sua retórica involuntariamente cômica, José Roberto Batochio acusou a Lava Jato de forjar provas contra o amigo da Odebrecht:
“Para forjá-lo certos roteiristas (uma espécie de societas punitionis) cuidam de inserir, como num filme ou romance histórico, achegas ficcionais. As ‘provas condenatórias’ são costuradas com a linha imaginária do desejo (wishful thinking). Basta um anódino grão fático para construírem seu castelo de areia (sem trocadilhos). Na sua falta, recorrem à arte divinatória, com argumentos de dedução retórica do tipo ‘talvez’, ‘só pode ser’, ‘tudo indica’, ‘disseram que disseram’. Aliás, adivinhar tem sido um dom paranormal a mais exigido dos advogados desta quadra brasileira, pois muitas vezes os inquéritos são secretos e o investigado nem sabe de que é suspeito.
O processo desfigurado por paixões políticas é cediço nos regimes de exceção, nas autocracias, mas pode vicejar na ambivalência das conjunturas em que o Estado de Direito esteja vincado pela hipertrofia da supremacia partidária, ideológica, ou pela intolerância de maiorias sobre minorias. A causa política do mais forte subjuga o direito do mais fraco. Urdem-se maliciosas tessituras normativas e, sobretudo, praticam-se heterodoxias procedimentais para, em cumplicidade autoritária, perseguir oponentes indesejáveis (…).
Advogado que compõe a banca de defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, encurralado por seis processos políticos (com direito a media trial e power point em horário nobre), empenhamo-nos em realizar sua defesa técnica, em todas as instâncias, na esperança de que a cascata persecutória dê lugar à fonte cristalina onde se possa saciar a sede de justiça. A convicção que nos move é a manifestada pelo poeta inglês John Milton, em 1644, na Areopagítica: ‘Deixemos que a verdade e a falsidade se batam. Quem jamais viu a verdade levar a pior num combate franco e livre?’”.
Na segunda-feira, durante o depoimento de Emilio Odebrecht, a verdade a respeito de Lula vai levar a melhor.
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