“Bolsonaro é menor que a cadeira de presidente da República”
Merval Pereira comparou Jair Bolsonaro a Boris Johnson, que também pegou Covid-19...
Merval Pereira comparou Jair Bolsonaro a Boris Johnson, que também pegou Covid-19:
“Boris Johnson, na Inglaterra, teve uma atuação de estadista, depois de menosprezar os riscos e sair às ruas abraçando e cumprimentando seus simpatizantes, como um Bolsonaro descabelado.
Apanhado pelo vírus, esteve quase à morte e, ao retornar são e salvo ao dia a dia de primeiro-ministro de um país que enfrenta uma crise sanitária sem precedentes, caiu em si e pediu desculpas por ter desprezado os riscos.
O momento seria uma oportunidade de ouro para Bolsonaro se redimir de sua atuação pífia diante da pandemia, e unir os brasileiros nessa guerra que ainda está longe de terminar. Mas ele não tem esse tamanho, é menor que a cadeira de presidente da República.”
Embora tenha esboçado um comportamento um pouco mais civilizado nas últimas semanas — diminuindo a quantidade de declarações controversas e acenando com um diálogo maior com os demais Poderes –, Bolsonaro parece ter incorporado novamente um figurino mais radical desde que foi diagnosticado com a Covid-19.
Na manhã de hoje, por exemplo, o presidente voltou ao Twitter para recomendar o uso da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com a doença. Além de não ter eficácia comprovada, o remédio provoca efeitos colaterais como arritmia cardíaca.
“Aos que torcem contra a hidroxicloroquina, mas não apresentam alternativas, lamento informar que estou muito bem com seu uso e, com a graça de Deus, viverei ainda por muito tempo”, tuitou Bolsonaro.
Ele escreveu ainda que “nenhum país do mundo fez como o Brasil”. “Preservamos vidas e empregos sem propagar o pânico, que também leva a depressão e mortes. Sempre disse que o combate ao vírus não poderia ter um efeito colateral pior que o próprio vírus.”
Ontem, também nas redes sociais, Bolsonaro apareceu tomando o medicamento. “Estou tomando aqui a terceira dose da hidroxicloroquina, diz o presidente, rindo. “Estou me sentindo muito bem.”
Como noticiamos, Bolsonaro encontrou ao menos seis ministros ontem, dia em que recebeu o diagnóstico, segundo sua agenda oficial: Paulo Guedes (Economia), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência), Augusto Heleno (GSI), Braga Netto (Casa Civil) e José Levi (AGU). Deles, apenas Augusto Heleno já foi diagnosticado com a doença.
Além dos ministros, Bolsonaro encontrou Mário Frias, Roberto Mira (vice-presidente da NTC&Logística) e Marcos Heleno Guerson (presidente do Inmetro).
Na entrevista coletiva em que anunciou que foi infectado pelo novo coronavírus, Bolsonaro voltou a dizer que “houve um superdimensionamento” em torno da Covid-19.
O presidente afirmou que tem consciência da “fatalidade do vírus para quem tem uma certa idade ou comorbidade”, mas criticou o que chamou de “pânico” em torno do assunto.
Na mesma entrevista — em que repórteres ficaram a menos de dois metros de Bolsonaro –, ele comparou a Covid-19 a uma “chuva”.
“Muita gente tem morrido em casa. Não vai ao hospital porque tem medo de pegar o vírus. O pânico também mata. O que eu posso falar para todo mundo, e eu já dizia no passado e era criticado, é que esse vírus é como uma chuva. Vai atingir você. Alguns, não. Alguns têm que tomar mais cuidado com esse fenômeno, vamos assim dizer. As pessoas de certa idade com problema de saúde, uma vez contaminado [sic], a chance de óbito é grande. Acontece.”
Bolsonaro disse que continuaria despachando do Alvorada, participaria de videoconferências — e que não sabe “ficar parado”.
“Eu não sei ficar parado. Estou sendo vigiado pela primeira-dama, que manda bastante. Vou ficar despachando por videoconferência, e alguns papéis vou assinar aqui.”
Vale lembrar que chefes de governo de outros países decidiram se isolar em casa mesmo sem ter tido resultado positivo no exame de Covid-19.
A alemã Angela Merkel e o canadense Justin Trudeau, que não chegaram a apresentar a doença, se isolaram por causa da contaminação de pessoas próximas. O britânico Boris Johnson, que foi hospitalizado com Covid-19, passou dez dias trabalhando da residência oficial antes da internação.
Como dissemos ontem, Bolsonaro tem de ficar mesmo isolado no Alvorada, ainda que apresente sintomas leves. Manter contato direto com outras pessoas é uma irresponsabilidade grave.
A Covid-19 de Bolsonaro é causa e consequência dele próprio.
Atualização feita em 08/07/2020, às 17h38.
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