Agamenon: ah, eu tô maluco!
Como todos os meus 17 seguidores estão cansados de saber, eu e Raul Seixas nascemos há dez mil atrás. E não tem nada neste mundo que eu não saiba de menos. Por isso, aproveito a pandemia para me dedicar ao enlouquecimento vertical e ao desespero horizontal, não necessariamente nesta ordem. Também procuro exercitar diariamente a paranoia de alto impacto, que é para conservar a minha saúde mental...
Como todos os meus 17 seguidores estão cansados de saber, eu e Raul Seixas nascemos há dez mil atrás. E não tem nada neste mundo que eu não saiba de menos. Por isso, aproveito a pandemia para me dedicar ao enlouquecimento vertical e ao desespero horizontal, não necessariamente nesta ordem. Também procuro exercitar diariamente a paranoia de alto impacto, que é para conservar a minha saúde mental.
Para manter a forma, caminho todo dia até uma agência da Caixa Econômica para pegar os meus 600 reais. A diferença é que, para combater o tédio, pego dois reais a cada dia. Assim, tenho 300 dias de programa garantido durante a quarentena. Os funcionários da Caixa nunca me reconhecem, pois, a cada dia, uso uma máscara diferente. Desconfiados de alguma patranha, os burocratas exigem que, além da identidade e do CPF, eu apresente também o meu atestado de óbito — que, por sinal, está vencido.
Agora é assim no Brasil: a certidão de óbito vence a cada dez anos. Para renovar o documento, o cidadão tem que pagar um DUDA e fazer prova. Uma teórica e outra prática. A parte teórica é no computador; a parte prática é “presencial”, o cidadão tem que levar um osso, uma caveira ou uma foto da sepultura (com data), que é para provar que continua “desencarnado” e, assim, tem direito ao “benefício”.
Enquanto isso, nas horas vagas (que agora são todas) aproveito para pôr em dia minha leitura. Só que não sei ler, só sei escrever. Mas, enquanto jornalista picareta e mau-caráter, procuro exercer meu ofício depois de lavar as mãos cuidadosamente com álcool em gel. O álcool foi providenciado pelo ex-presidentiário Luísque Inácio Lula da Silva, O Bem Mamado.
Nesses dias de quarentena, cada um se defende como pode. O presidente É Melhor Jair Se Internando Bolsossauro não é dupla sertaneja, mas também faz as suas “lives” no X-Vídeos. As Bolsolives têm atraído muitos seguidores com a proposta genial de abertura progressiva dos hospícios. Os mais radicais passam fazendo buzinaço na porta de hospital, espancam os profissionais de saúde, invadem as UTIs e arrancam os doentes dos respiradores dizendo que tudo isso é mimimi de comunista que não quer trabalhar. É o que eu digo: é melhor não contrariar…
Enquanto isso, no Palácio do Pinelalto, o presidente Jair Bolsonero quer ver o circo pegar fogo. Agora o Dilmo Roskoff da direita está enrolado com umas fitas íntimas mostrando reuniões de embalo nas noites quentes do cerrado. Foi o juiz Sério Morô quem denunciou que a alta cópula do poder deseja fazer umas coisas esquisitas com os rapazes da Polícia Foderal aqui do Rio de Janeiro. É que em Brasília a moçada não tem mesmo o que fazer. O próprio Bolsossaco declarou que não pode fazer nada. E daí? Daí que o ócio é a oficina do Diabo. Por isso mesmo, inventaram essa história de fita, que é para a gente Jair se distraindo. É o Bolsogate. Felizmente, a verdade é como um cocô: sempre vem à tona.
O problema é que, no meio desta pandemia mundial, o Brasil é uma ilha de paz e tranquilidade. Não vai ter mais nenhum problema para resolver. Nem de fome, nem de doença, nem de esgoto ou educação. Os pobres vão morrer tudinho. O governo resolveu adotar a estratégia do isolamento radical. Estamos isolados de qualquer coisa que seja minimamente racional. O que se sabe é que, no futuro, todos os brasileiros terão garantidos os seus 15 minutos de fome.
Apesar de ser ateu praticante, tenho fé na ciência. Um dia ainda vão encontrar a cura da burrice. Os cientistas acham que até julho a vacina fica pronta. Discordo. Acho que antes de 2022 ele não sai — quer dizer, a vacina.
Domingo é o Dia das Mães, e não posso finalizar sem uma homenagem àquela que me pariu e sempre me dizia: “A vida era muito melhor antigamente. Quando você ainda não tinha nascido.”
Agamenon Mendes Pedreira está acompanhando a série “Breaking Mad”.
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