Witzel lembra conversa com Bolsonaro sobre 2022 e lista “desapontamentos”
Na entrevista a O Antagonista, Wilson Witzel disse que não votaria mais em Jair Bolsonaro “em hipótese alguma”, voltou a rebater as acusações de que teria interferido na investigação do assassinato de Marielle Franco para prejudicá-lo e lembrou um diálogo que teve com o presidente sobre a próxima eleição presidencial. “Infelizmente, [Bolsonaro] foi uma grande decepção. Não só pelo...
Na entrevista a O Antagonista, Wilson Witzel disse que não votaria mais em Jair Bolsonaro “em hipótese alguma”, voltou a rebater as acusações de que teria interferido na investigação do assassinato de Marielle Franco para prejudicá-lo e lembrou um diálogo que teve com o presidente sobre a próxima eleição presidencial.
“Infelizmente, [Bolsonaro] foi uma grande decepção. Não só pelo que ele me acusou, indevidamente, de forma leviana. Ele me acusou de manipular a Polícia Civil, de manipular o Ministério Público, até o Poder Judiciário, contra o [senador] Flávio [Bolsonaro], contra ele, contra o vereador Carlos Bolsonaro. Isso é uma acusação leviana que mereceria eu ter iniciado uma queixa-crime contra ele no STF. Não fiz isso para preservar minimamente a governabilidade. Não quero contribuir ainda mais para trazer problemas para o nosso país. Então eu tomei a decisão de dizer a ele que ele foi leviano, que ele foi irresponsável e que a acusação que ele fez ele não tem como provar, até porque é mentirosa. E isso foi, infelizmente, o meu primeiro desapontamento com Jair Bolsonaro”, lembrou o governador.
“Agora, outros vieram. Quando ele disse que não seria candidato à reeleição, eu acreditei que ele não seria candidato à reeleição. Na primeira conversa que nós tivemos a respeito de sucessão presidencial, eu falei: ‘Presidente, se o senhor não vai ser candidato em 2022, então muitos serão candidatos e eu pretendo ser candidato em 2022. Não pretendo ser candidato à reeleição no Rio de Janeiro. E ele disse para mim que tinha mudado ideia: ‘Não, eu mudei de ideia, vou ser candidato à reeleição e vou estar contigo em 2026.’ Então eu falei: ‘É uma mudança de opinião. Vamos conversar, vamos continuar conversando.’ A reeleição é garantida constitucionalmente, só foi uma mudança dele de opinião. Só que ele passou a me atacar ainda mais usando essa afirmação de que eu pretendia ser candidato a presidente em 2022 e, para isso, eu iria destruí-lo com essa fake news de que eu estaria interferindo no caso Marielle”, contou.
Witzel também listou outros desapontamentos: disse, por exemplo, que Bolsonaro “não seguiu adiante” no combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas, sobrecarregando a Segurança Pública dos estados; que as licitações dos PPIs [Programas de Parcerias de Investimentos] estão concentradas no Ministério da Infraestrutura, quando a proposta era de descentralização; que o ‘Mais Brasil, menos Brasília’ não acontece, porque está “tudo centralizado” e o presidente prioriza aliados na distribuição de verbas, então “fica um jogo político muito ruim”; e que a condução da Educação, sem investimento em pesquisa e formação do professor, “é vexatória”, “por isso nós estamos perdendo no cenário internacional a competitividade”.
Witzel criticou, ao mesmo tempo, o petismo e o bolsonarismo:
“Eu sou contrário a muitas das políticas que o PT fez, porque foram ruins. O ProUni foi um programa de venda de diplomas, as universidades lucraram, mas o Ensino Superior não cresceu, muitos tiraram seus diplomas com cursos superiores de péssima qualidade. O PT, além de ter programas que foram mal conduzidos, ainda colaborou para a corrupção no nosso país. A corrupção é que levou várias estatais ao declínio e fomentou o conluio de empresários com políticos, o que foi nefasto para o nosso país, além de [o PT] não combater aquilo que eu acredito que é importante [combater], que é o crime organizado envolvido no tráfico de armas e de drogas”, frisou.
“O nosso país tem potencial, o que não pode é voltar a ter uma esquerda no poder que não tem compromisso com o limite de gastos e muito menos com a qualidade daquilo em que se gasta. E, por outro lado, ter um presidente [Bolsonaro] que não é confiável, que não fez aquilo que se esperava que ele fizesse e que, quando se imaginava que ele pudesse liderar o país para poder enfrentar o coronavírus que nós estamos enfrentando hoje, ele se acovardou e resolveu jogar nas costas dos governadores a responsabilidade que é dele. Infelizmente, o Brasil tem uma esquerda que não se presta mais a conduzir os destinos do país – eu acho que o próprio PSDB, no modelo que desenhou para o Brasil, não deu certo – e [em relação a] esse presidente, o Paulo Guedes não conseguiu trazer para a prática as propostas que defendeu na campanha”, disse o governador.
“Então é bom deixar bem claro isso: que eu não mudei. Eu continuo sendo o mesmo candidato que ganhou a eleição em 2018, com as mesmas bandeiras. Sou conservador nos costumes, continuo defendendo os meus princípios morais. Mas, infelizmente, não era isso que eu esperava do atual presidente e continuo seguindo o meu trabalho. Espero que ele não me atrapalhe mais do que já me atrapalhou e que tenha sensibilidade de que o que ele fizer de mau para mim ele estará fazendo para a população do estado do Rio de Janeiro, que é o povo que votou nele, ele teve mais de 5 milhões de votos [aqui]”, concluiu.
Assista à íntegra da entrevista: aqui.
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