Agamenon: gripezinha espanhola
Não sou daqueles que passam os dias de quarentena fazendo lives e se "amostrando" para os outros na internet. Sou um mau-caráter íntegro e me recuso a expor minha vida íntima e a da Isaura, a minha patroa, nas redes sociais e, principalmente, nas redes antissociais, mesmo porque minha vida é um livro-caixa aberto, ninguém precisa arrombar...
Não sou daqueles que passam os dias de quarentena fazendo lives e se “amostrando” para os outros na internet. Sou um mau-caráter íntegro e me recuso a expor minha vida íntima e a da Isaura, a minha patroa, nas redes sociais e, principalmente, nas redes antissociais, mesmo porque minha vida é um livro-caixa aberto, ninguém precisa arrombar.
No entanto, Isaura e eu estamos ganhando uns trocados fazendo lives de demonstração de sexo na terceira, quarta e até quinta idade.
Para tanto, conseguimos o apoio cultural da Catuaba do Norte – aquela que não te deixa na mão, através da Lei Rouanet. Essa live de sexo implícito e explícito (em movimentos contínuos e ritmados) tem como objetivo o resgate cultural de antigas práticas e posições sexuais praticadas pelo nosso povo antes do advento da Covid-19.
Por falar em gripe e inspirada na pandemia, a Isaura, minha patroa, sempre criativa, inventou uma nova forma de coito sexual para ser praticada durante esse período de quarentena, que é a Covid-69.
Outro dia mesmo, vieram à minha mente imagens, sons e cheiros de uma pandemia muito pior do que essa. Sim, meus 17 seguidores e meio (não esqueçam do anão infectado), eu, Agamenon Mendes Pedreira, sou o único brasileiro vivo que participou da gripe espanhola e escapou com vida. Testemunhas oculares e anelares confirmam a minha presença heroica no trágico evento epidêmico-viral.
Consegui escapar da Peste (de Camus) graças à ajuda de Nelson Rodrigues, Olavo de Carvalho e Ruy Castro, que, aliás, nem tinha nascido. Para escaparmos dos miasmas venenosos que infectavam a população, nós quatro nos escondemos dentro de um frasco de lança-perfume.
Naquele tempo, no começo do século, ainda não existia álcool em gel. Álcool era utilizado exclusivamente como cachaça, e gel só era utilizado no cabelo como Gumex, uma gosma viscosa usada pelos homens para endurecer o penteado e, assim, praticar o sexo anal. Certa vez, um cidadão embriagado besuntou o seu membro de gumex e em seguida, para retirar o produto gorduroso, resolveu utilizar a cachaça para se livrar daquela gosma nojenta. Foi em vão. De nada adiantou. Desesperado, o cidadão resolveu, então, como último recurso, se “automasturbar” o próprio membro viril. O calor provocado pela fricção manual associada ao álcool e ao fixador de cabelo ateou um fogo inextinguível na genitália do cidadão, que ficou milionário ao patentear o álcool-gel.
Mas voltando à vaca fria…
Enquanto ficávamos inebriados pelos eflúvios do lança–perfume (que ainda não era da Rita Lee), Nelson escrevia suas crônicas, Olavo de Carvalho fazia mapas astrais e Ruy Castro aproveitava para escrever a biografia da Carmen Miranda. Eu, por meu lado, enlouquecido pelo éter, aproveitava para bater as suas carteiras. Infelizmente, todas estavam vazias. Naqueles dias, estava começando no jornalismo. Trabalhava de dia em A Noite e de noite em O Dia. Também fazia bicos n’O Globo, no Jornal do Brasil e no Correio da Manhã, onde rapidamente me destaquei. Me destaquei e fui tentar outra profissão porque, sempre audacioso, me recusava a aprender a escrever para trabalhar no jornalismo, o que, aliás, não sei até hoje, o que muito me orgulha.
Por isso, quando vejo hoje em dia o coronavírus comendo solto e sem lavar as mãos com água e sabão depois, só tenho algo para dizer à humanidade: isso não é nada, galera, no meu tempo era muito pior!
Agamenon Mendes Pedreira é jornalista incurável
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