ENTREVISTA: Temer aconselhou Bolsonaro sobre relações com China e Congresso: “Ele está dando sequência ao que eu fiz”
O ex-presidente Michel Temer recebeu O Antagonista em seu escritório de advocacia, em São Paulo, e revelou detalhes de sua relação com Jair Bolsonaro. Temer contou, pela primeira vez, que, dias após o segundo turno da eleição presidencial no ano passado, Bolsonaro o procurou no Palácio do Jaburu para "pedir conselhos"...
O ex-presidente Michel Temer recebeu O Antagonista em seu escritório de advocacia, em São Paulo, e revelou detalhes de sua relação com Jair Bolsonaro.
Temer contou, pela primeira vez, que, dias após o segundo turno da eleição presidencial no ano passado, Bolsonaro o procurou no Palácio do Jaburu para “pedir conselhos”.
“Logo em seguida que foi eleito, ele me visitou no Palácio para pedir conselhos. Ele me disse: ‘Presidente, que conselho o senhor me dá?’ Eu disse: ‘Olha, você foi eleito. Eu não vou dar conselho para quem teve quase 60 milhões de votos. Se você quiser que eu dê uns palpites, eu dou’.”
Temer, então, transpareceu sua preocupação com declarações de Bolsonaro sobre as relações com a China, os países árabes e o Mercosul.
“Eu dei palpites referente à China. Eu disse que a China é um grande parceiro comercial nosso. Porque ele tinha umas palavras… você, sabe não é? Disse a ele: ‘Se nós perdermos essa parceria, será um desastre aqui para nós. Segundo, os países árabes, Bolsonaro. Eu vou dizer para você: você andou dizendo umas coisas aí… Essa gente, os árabes, compram 40% da nossa carne de frango. Então, nós temos que ser multilateralista, Bolsonaro. Nós não podemos ser unilateralista, nem os Estados Unidos podem. Os Estados Unidos têm poder político, econômico. Nós não temos. Nós temos que nos dar bem com todo mundo. Porque nós vivemos dessas exportações’. Argentina, por exemplo, ele tinha dito uma palavra… Eu disse: ‘Nós temos um superavit extraordinário, nós não podemos perder a Argentina. E o Mercosul, para nós, é importante. Foram os palpites que eu dei.”
No mês passado, Bolsonaro visitou a China e países do Oriente Médio para tratar de oportunidades de investimento e aprofundamento das relações comerciais.
Temer também disse ter aconselhado o então presidente eleito sobre a relação com o Congresso.
“Eu disse: ‘E a relação com o Congresso. Você passou no Congresso tanto tempo como eu passei. A relação com o Congresso é fundamental. Precisa acabar com essa bobagem, com a devida vênia, de presidencialismo de coalizão, de cooptação. Existe o presidencialismo estabelecido na Constituição. E é o seguinte: quem governa é o Executivo junto com o Legislativo. Eu fiz isso, Bolsonaro. Quando eu ia fazer reunião de líderes, eu tinha o presidente da Câmara de um lado e o presidente do Senado de outro lado. Isso que me permitiu governar, fazer as reformas’.”
Em pelo menos outras duas ocasiões, os dois se falaram: quando Bolsonaro foi internado em São Paulo para a retirada da bolsa de colostomia e quando da Assembleia Geral da ONU.
“Ele me telefonou na ONU, quando foi falar na ONU. Ele me telefonou para cumprimentar. Eu disse: ‘Muito sucesso. Fica tranquilo. Boa sorte a você aí’. Acho que ele quis fazer uma espécie de agrado a mim, porque eu falei bem dele, do governo dele’.”
Temer sustenta que Bolsonaro tem “dado sequência” ao seu governo.
“Ele tem sido até correto comigo, confesso. Porque ele tem reconhecido muitas vezes a modernização trabalhista. Sobre a Previdência, ele disse: ‘Lá atrás, quem enfrentou isso foi o Temer’. Ele está dando sequência ao que eu fiz. O que é interessante no nosso país é que cada governo que entra quer desmoralizar o governo anterior. Ele não fez isso com o meu governo. Você pode perceber que ele está dando sequência ao meu governo. No ângulo econômico e nos demais planos também. Ele tem uma boa relação com o Congresso, interessante. Ele foi mais ao Congresso do que eu fui. De vez em quando, ele sai andando e vai para o Congresso. Acho que ele encontrou mais com o Rodrigo Maia e com o [Davi] Alcolumbre do que eu me encontrava com os presidentes [da Câmara e do Senado].”
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