Tio Barnabé: o amor pelo Estado
Que o brasileiro ama o Estado, todos sabemos. Mas o brasiliense ama o Estado acima de todas as coisas.Bruno Garschagen, em seu livro “Pare de acreditar no governo” (que li por meio de um médium), dá pistas interessantíssimas do motivo de o brasileiro não confiar nos políticos e, contudo, amar o Estado. Vale muito a pena a leitura. João Pereira Coutinho, na introdução do livro, esclarece que desconfiamos das raposas, mas as queremos tomando conta do galinheiro...
Que o brasileiro ama o Estado, todos sabemos. Mas o brasiliense ama o Estado acima de todas as coisas.
Bruno Garschagen, em seu livro “Pare de acreditar no governo” (que li graças a um médium), dá pistas interessantíssimas do motivo de o brasileiro não confiar nos políticos e, contudo, amar o Estado. Vale muito a pena a leitura. João Pereira Coutinho, na introdução do livro, esclarece que desconfiamos das raposas, mas as queremos tomando conta do galinheiro.
De onde vem essa mentalidade estatista? Das raízes portuguesas? Do compadrio das elites da República Velha? Do viés burocratizante de Getúlio Vargas? Do Brasil Grande dos militares e seus tecnocratas? Do “esquerdismo” que resultou no petismo? As fontes são muitas.
O fato é que o Estado brasileiro é um sujeito obeso e o contribuinte é o joelho desse corpulento e já não suporta mais suas arrobas. O Estado custa muito, faz pouco e, quando faz, é de baixa qualidade. O contribuinte, que paga a conta, se contenta com o pouco e com a precariedade. O Estado drena recursos privados e não consegue realocá-los de forma eficaz.
Garschasen relê a história brasileira sob essa ótica. Informa que, desde a Constituição de 1988, foram editadas 4.960.610 normas para aborrecer a vida do cidadão brasileiro. Relembra que a legislação tributária brasileira é um livro de 41 mil páginas, 7,5 toneladas e 2,10 metros de altura (estudo elaborado durante 23 anos por um obsessivo advogado mineiro).
De minha vivência no setor público, conheço Tribunal Superior que só falta criar resolução e portaria para a ida ao banheiro.
Essa miríade de regras só pode gerar ineficácia, paralisia e corrupção. O jornalista satírico americano P. J. O’Rourke matou a charada: “Quando comprar e vender são controlados pela legislação, a primeira coisa a ser vendida e comprada são os legisladores“.
Bem, mas e os brasilienses? Para um brasilense típico, aquele cujo pai é barnabé, o avô já foi barnabé no Rio, nada mais natural do que amar o Estado. Para quem não sabe, em Brasília já tem escola de segundo grau que incluiu nos seus currículos os conteúdos de direito administrativo, constitucional e contabilidade para que os adolescentes saiam na frente para o concurso público! Por aqui, o cartão de visita resplandece com a boa posição em alguma burocracia, especialmente se for do Judiciário ou do Legislativo Federal (muito embora justiça seja feita, o Rio de Janeiro ainda consiga ter mais funcionários públicos – incluindo os aposentados – que Brasília).
Pois bem, o brasiliense barnabé entende melhor que ninguém o ritmo da máquina, as entranhas do poder, o ar sentencioso de um chefe e pratica com perfeição a arte de bajular os de cima e espezinhar os de baixo.
O barnabé ideologizado (sim, existe) ainda confia que o abismo no qual precipitamos será resolvido com mais Estado e mais intervenção. Obra secular, o estatismo brasileiro não é coisa para amadores. Consegue congregar gente de todos os matizes políticos. No Congresso, alguns discursos podem até ter viés liberal, mas político bom mesmo é aquele que arranja uma verba da Caixa, do BB ou do BNDES para o seu financiador de campanha.
O empresário brasileiro, desde Mauá, também adora o Estado e nunca perde a boquinha. E o Estado, perpetuamente, está a postos para ajudá-lo na alegria e na tristeza, socializando os prejuízos com o contribuinte, exercendo o populismo orçamentário mais insidioso e jogando para as futuras gerações a conta do almoço grátis.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)