Quem é quem na disputa final pela PGR
Prestes a indicar o novo procurador-geral da República, Jair Bolsonaro tem um variado cardápio de opções para uma escolha de considerável impacto jurídico, administrativo e político. Eis um breve perfil de cada um que está no páreo...
Prestes a indicar o novo procurador-geral da República, Jair Bolsonaro tem um variado cardápio de opções para uma escolha de considerável impacto jurídico, administrativo e político.
Afinal, a PGR concentra as investigações sobre políticos e ministros, influencia a formação da jurisprudência nas cortes superiores em todas as áreas e tem força para conseguir no Supremo Tribunal Federal a manutenção ou revogação de qualquer política pública.
Também tem importância porque encabeça a administração de todo o Ministério Público. Assim, o PGR responde pela gestão dos recursos, estrutura equipes, faz a defesa institucional do órgão – importante neste momento de ataques à Lava Jato — e lidera os principais órgãos disciplinares dos procuradores.
Após meses de uma intensa disputa política de bastidores, o presidente deverá anunciar até segunda-feira o escolhido, que ainda precisará ser sabatinado e aprovado pelo Senado.
Concorrem nomes de fora e de dentro da lista tríplice formada em votação interna do MPF. Cada um é visto com prós e contras entre os membros da instituição e dentro do governo.
Abaixo, um breve perfil de cada um que está no páreo:
Raquel Dodge
Escolhida por Michel Temer para conter o tsunami sobre o mundo político da era Rodrigo Janot, a mais intensa da Lava Jato, diminuiu o ritmo de delações, investigações e denúncias.
Por outro lado, pegou um momento diferente, de aprofundamento das apurações, e vem apresentando no STF acusações mais consistentes e eficazes para punir os corruptos.
Na base, perdeu apoio, pois é vista como centralizadora, de pouco diálogo interno. Apesar de ter mantido a estrutura das forças-tarefas, com verba e apoio administrativo, as equipes se queixam da falta de defesa institucional.
Exemplo: acompanhou o acordo da Lava Jato que trouxe R$ 2,5 bilhões dos EUA, mas depois pediu ao STF que tirasse o dinheiro do controle do MPF-PR, o que foi visto como traição.
Na pauta de costumes, tem viés de esquerda, de defesa das minorias. Dificilmente tiraria de postos-chave do MPF subprocuradores abertamente progressistas, como deseja Bolsonaro.
Mário Bonsaglia
Líder na lista tríplice, tem o maior apoio interno no MPF, inclusive das forças-tarefas da Lava Jato do Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo, que sempre defenderam esse método de escolha.
Já foi diretor da associação de procuradores e integrou a cúpula da PGR nos últimos anos como membro do Conselho Superior do MPF. Muito conhecido internamente, dialoga bem com as bases e demais poderes.
É considerado mais independente em relação aos ministros do STF e, na campanha, prometeu reforçar o apoio institucional à Lava Jato.
Por outro lado, é o mais corporativista dos candidatos e passou a campanha defendendo mais direitos para os procuradores e prometendo mais dinheiro para o MP. Por isso, é visto com ressalvas pelo governo em momento de reformas para ajuste fiscal.
Augusto Aras
Cresceu na disputa porque desde o início atacou a lista tríplice, argumentando que o presidente deve ter total autonomia para escolher o PGR, o que seduziu Bolsonaro.
Aproximou-se dos filhos do presidente e conseguiu várias audiências com ele, apresentando-se com discurso conservador, muito embora no passado sempre demonstrou viés esquerdista.
Foi advogado militante e defensor de policiais na Bahia, o que também agrada ao Planalto. Promete apoiar a agenda liberal do governo na economia, sem questioná-la no STF.
Dentro do MPF, porém, é o mais rejeitado, porque pouco se sabe sobre seus planos para o órgão. Também tem antipatia da Lava Jato, porque defendeu enquadrar as forças-tarefas sob um discurso da “unidade e indivisibilidade” da instituição.
Na mesma entrevista à Folha, disse que a operação errou por contribuir com a crise econômica e com a criminalização da política, típico discurso do PT para atacar as investigações.
Paulo Gonet
Católico e conservador, é um dos maiores constitucionalistas do país e foi secretário de Raquel Dodge na área. Fundou com Gilmar Mendes o IDP, escola de direito conceituada de Brasília, onde ainda dá aulas.
Deixou a sociedade em 2017, quando vendeu sua parte para o filho do ministro. Por causa da parceria acadêmica e empresarial, ficou com a imagem arranhada.
Como não fez campanha aberta, teve pouca interlocução com as bases e pouco se sabe sobre seus planos para a PGR. Há dúvida sobre sua capacidade e empenho para administrar o MP, em momento de aperto fiscal e grande pressão de procuradores por verbas e estrutura.
Por outro lado, goza de enorme simpatia entre quem o conhece pessoalmente – é elogiado como alguém simpático, de bom trato, suave e de bom senso. Como atua no Supremo, também conhece e se dá bem com todos os ministros, que passaram a apoiá-lo.
Lauro Cardoso
Em seu favor, tem a trajetória parecida com a de Bolsonaro: formado pela Academia das Agulhas Negras, também foi paraquedista do Exército.
Como foi secretário-geral nas gestões de Roberto Gurgel e Rodrigo Janot, sabe administrar a casa e é rigoroso no controle de gastos, o que, por outro lado, pode desagradar a categoria.
É duro no combate ao crime, defendeu com ênfase a Lava Jato durante a campanha, sinalizando que dará apoio institucional à força-tarefa no momento de crise.
Pesam contra ele dois fatos: não é subprocurador da República, o que desagrada aos ministros do STF. E ficou em quarto na lista tríplice, tendo se comprometido anteriormente a defender que a escolha ficasse entre os três mais votados. Se aceitar agora, fica mal internamente.
Blal Dalloul
Como secretário-geral do MPU na gestão Janot e também do CNMP, é considerado gestor de excelência, criativo e que revolucionou a administração da instituição.
Mas, assim, como Lauro Cardoso, não é subprocurador. Defende que seja escolhido nome da lista tríplice e, como ficou em terceiro lugar, poderia aceitar sem questionamentos.
É querido internamente e tem bom diálogo com o Legislativo e Executivo. Promete defesa mais forte da Lava Jato diante dos ataques.
Luiza Frischeisen
É coordenadora da câmara criminal, responsável por consolidar o entendimento do MPF na área. Elogiada por ser técnica, inteligente, resolutiva e rápida.
Adepta do direito penal duro, promete defender com vigor nos tribunais superiores os posicionamentos dos procuradores que atuam na primeira e segunda instância.
Segunda colocada na lista tríplice, tem apoio interno e está ciente do dever de diálogo harmônico com todos os poderes.
Mas também tem pouca chance, porque é identificada com a ala esquerdista em matéria de direitos humanos e minorias e é do grupo de Janot, o mais turbulento dos PGRs.
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