Documentando de que lado?
Em tese, os documentários têm compromisso com a realidade. Na prática, costumam adotar uma versão e defendê-la a qualquer custo.
Em apenas quatro horas de projeção, Deixando Neverland consegue inutilizar 45 anos da carreira de Michael Jackson. Dirigido por Dan Reed para a HBO, o documentário apresenta o “Rei do Pop” em detalhados relatos sexuais da parte de pessoas que, na época dos acontecimentos, ainda eram crianças.
Impactante, o trabalho foi aplaudido pela crítica na mesma proporção em que chocou a audiência. Mas uma reclamação se fez justa: todo o roteiro se sustenta no relato das vítimas, sem qualquer atenção ao “outro lado”, ou mesmo a especialistas que confirmassem algum sentido nas acusações.
Esse vício tem sido uma das marcas do gênero, por mais que o documentarista simule alguma imparcialidade. A segunda temporada de Making a Murderer, por exemplo, é protagonizada por Kathleen Zellner, advogada que tenta anular a prisão perpétua de Steven Avery, um condenado por homicídio. Amanda Knox, por sua vez, coloca a própria Amanda Marie Knox narrando o caso que injustamente a fez ser presa pelo assassinato de Meredith Kercher.
Em apenas quatro horas de projeção, Deixando Neverland consegue inutilizar 45 anos da carreira de Michael Jackson. Dirigido por Dan Reed para a HBO, o documentário apresenta o “Rei do Pop” em detalhados relatos sexuais da parte de pessoas que, na época dos acontecimentos, ainda eram crianças.
Impactante, o trabalho foi aplaudido pela crítica na mesma proporção em que chocou a audiência. Mas uma reclamação se fez justa: todo o roteiro se sustenta no relato das vítimas, sem qualquer atenção ao “outro lado”, ou mesmo a especialistas que confirmassem algum sentido nas acusações.
Esse vício tem sido uma das marcas do gênero, por mais que o documentarista simule alguma imparcialidade. A segunda temporada de Making a Murderer, por exemplo, é protagonizada por Kathleen Zellner, advogada que tenta anular a prisão perpétua de Steven Avery, um condenado por homicídio. Amanda Knox, por sua vez, coloca a própria Amanda Marie Knox narrando o caso que injustamente a fez ser presa pelo assassinato de Meredith Kercher.
Também disponível na Netflix, Morte na Escadaria chega a abrir espaço aos promotores, mas logo se fecha na versão de Michael Peterson. No decorrer dos trezes episódios, contudo, endossa a versão que o inocenta – sem explicar que o acusado se relacionava com Sophie Brunet, uma das editoras do projeto televisivo.
Hollywood está tão habituada a leituras seletivas que não se furtou a entregar um Oscar a Tiros em Columbine, obra de Michael Moore que endossa a versão do partido Democrata. Mas os republicanos entenderam como o jogo é jogado. E Dinesh D’Souza vem aproveitando as corridas presidenciais para entregar petardos como 2016: Obama’s America e Os Estados Unidos da Hillary: A História Secreta do Partido Democrata.
Essa onda aos poucos chega ao Brasil. Em A Cruz e a Espada, a produtora Brasil Paralelo usou o YouTube para narrar uma versão conservadora do descobrimento do Brasil.
Boicotado pelas redes de cinema, precisou também da internet para lançar 1964 – O Brasil entre armas e livros, um visão alternativa dos acontecimentos que findaram no Regime Militar. Se nenhum boicote impedir, ainda em 2019 o MBL lançará Não Vai Ter Golpe, documentário sobre o impeachment de Dilma Rousseff com a visão de quem convocava os atos pelo processo.
Democracia em Vertigem surgiu na Netflix neste contexto. Protagonizado pela própria diretora, narra em primeira pessoa a crise política dos protestos de junho de 2013 à eleição de Jair Bolsonaro. O roteiro até tenta ouvir alguns dos “antagonistas”, como Aécio Neves e o atual presidente da República. Mas, com o grosso das imagens saindo da câmera do fotógrafo oficial de Lula, o produto final não esconde que tem lado.
Neste sentido, Bandidos na TV soa uma bem-vinda exceção. Em sete episódios, a produção britânica ora escuta os investigadores, ora escuta os investigados. Todavia, o que poderia soar forçado dá luz a um roteiro rico em reviravoltas. Desta forma, a Netflix faz um bem enorme aos fatos, por apresentá-los de múltiplos pontos de vista, e ao entretenimento, prendendo a atenção do público até os créditos finais.
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