Uma fala de Carlos Bolsonaro em sessão da Câmara carioca chamou a atenção das redes sociais. Em apenas 45 segundos, o “pitbull” de Jair Bolsonaro destrata os colegas com expressões como “cabeça de balão“, “zero à esquerda literalmente“, “gordinho” e até “fofinho“. Quando cobrado, rebate de imediato: “respeito é o cacete, eu respeito quem eu quiser“. Dois meses antes, o vereador anunciava uma nova fase na vida, “longe de todos que de perto nada fazem a não ser para si mesmos“. Mas, constatava a Crusoé, a nova fase era igual à anterior, com Carlos logo voltando ao ataque. – Pitbull Naquele mesmo abril, buscando um mínimo de diálogo com o Palácio do Planalto, Rodrigo Maia elogiou Bolsonaro, mas criticou os filhos. E arriscou uma explicação para o comportamento do “Zero Dois”:

O Bolsonaro colocou o filho com 17 anos para disputar contra a própria mãe desse filho. Ele derrotou a mãe para vereador. Isso deve ser normal na cabeça de um ser humano? Derrotar uma mãe com 17 anos? Isso deve ter gerado muito problema na cabeça do Carlos. Rodrigo Maia

O “problema na cabeça do Carlos” faz com que nem mesmo a líder do governo no Congresso seja poupada. No Twitter, o pitbull colocou em dúvida as motivações do Brasil 200, comandado por Joice Hasselmann.

Sei exatamente o que muitos de vocês pretendem e como farão! Boa sorte! De Carlos Bolsonaro para uma das coordenadoras do Brasil 200

Como O Antagonista observou, o movimento busca um candidato a presidente para 2022. E há chances de este nome ser João Doria. – Hamilton Mourão Nada se assemelha, entretanto, ao inferno vivido pelo núcleo militar do governo. No canal que Bolsonaro mantém no YouTube, foi publicado em abril um vídeo em que Olavo de Carvalho criticava as Forças Armadas. Apagada a mensagem, Carlos dedicou-se a criticar o vice-presidente. Mas Hamilton Mourão tentou evitar a briga.

A minha mãe sempre dizia uma coisa: quando um não quer, dois não brigam. Hamilton Mourão

Bolsonaro usou o porta-voz para arrefecer o conflito, mas a fala parecia proteger o filho.

De uma vez por todas, o presidente gostaria de deixar claro o seguinte: quanto a seus filhos, em particular o Carlos, o presidente enfatiza que ele sempre estará a seu lado. O filho foi um dos grandes responsáveis pela vitória nas urnas, contra tudo e contra todos. Otávio do Rêgo Barros, porta-voz da Presidência da República

Os militares chegaram à conclusão de que pai e filho estavam afinados – e indignados com a participação de Mourão em evento nos Estados Unidos. Após três dias de conflito, o vice-presidente tratou o assunto como “página virada“. Um mês depois, quando presidia o país interinamente, ironizou o armistício: “o Carlos sumiu”. Foi quando o vereador reapareceu no Twitter.

Saudades do Presidente que é pró-armamento da população e contra o aborto. Volte logo Presidente de verdade! Carlos Bolsonaro

Mas Carlos de fato sumiria – da sessão da Câmara Municipal do Rio que homenageava Mourão. – Carlos dos Santos Cruz Enquanto atacava Mourão, o Zero Dois utilizava parte da munição contra o general Santos Cruz. O vereador tinha interesse nas atribuições da Secom e do PPI, ambos aos cuidados da Secretaria de Governo. Santos Cruz escalou o problema ao presidente da República. Mas os ataques se intensificaram de tal forma que sobrou até para o general Villas Bôas, que sofre de uma doença degenerativa. Enquanto imprensa e setores importantes do Governo recriminavam a forma como Olavo de Carvalho xingava Villas Bôas, Carlos se vangloriava do estrago feito contra o xará. Um mês antes de Carlos dos Santos Cruz ser finalmente demitido, já se comentava nos corredores do Congresso sobre o filho do presidente: “Carlos mira, Carlos tira“. – Jair Bolsonaro Rodrigo Maia espalhou a versão pela qual Carlos Bolsonaro passara sete anos sem falar com o pai.

A informação que eu tenho, apenas de ouvir falar, é que eles ficaram sete anos sem se falar, ele e o pai. E você vê que ele tem uma admiração enorme pelos filhos, diz que devia ser ministro, que só chegou à Presidência por causa dele. Rodrigo Maia

Mesmo nos momentos mais difíceis, Jair Bolsonaro deixa explícita a admiração que sente pelo Zero Dois. Mas, quando o presidente passou três dias sem atualizar as redes sociais, a imprensa noticiou que o filho tinha novamente se afastado – e vetado o acesso ao Twitter do presidente. Bolsonaro reagiu ironizando:

Vocês estavam massacrando, dando pancada em mim, dizendo que eu devia governar e não ficar no Twitter. Fiquei três dias agora fora do Twitter e você está reclamando. Quer que eu volte? Jair Bolsonaro

O Antagonista confirmou, no entanto, que a dupla ficara 20 dias sem se falar. Neste intervalo, Janaina Paschoal comentou que Carlos estava “em uma situação emocional que precisa ser compreendida“. No mesmo dia, o vereador reclamou que vinha “literalmente” se matando pelo Governo – certamente sem fazer uso adequado da expressão. Ao final de maio, Bolsonaro deu detalhes da relação conflituosa.

O Carlos tem muita impetuosidade, quer resolver as coisas muito rapidamente. De vez em quando há um atrito entre mim e ele em função da velocidade com que ele quer resolver as questões. Jair Bolsonaro

– Carlos mira, Carlos tira Gustavo Bebianno caiu ainda em fevereiro. Desde então, a Secretaria-Geral da Presidência ficou com Floriano Peixoto Neto. Mas, com a demissão de Santos Cruz da Secretaria de Governo, Bolsonaro redistribuiu cargos, e a Secretaria-Geral foi entregue a Jorge Antônio de Oliveira, um amigo de infância de Carlos e Eduardo Bolsonaro. Quando Joaquim Levy se demitiu, Carlos perguntou se não jogariam a culpa nele mais uma vez. Ironicamente, acharam fotos do novo presidente do BNDES “na balada” com Carlos e Eduardo. Após seis meses de guerra virtual, Carlos viu a demissão de quem servia de obstáculo à Secom, um amigo de infância ascender à Secretaria-Geral, e – ativa ou passivamente – um amigo de balada assumir o BNDES. O PPI, que estava na mira do vereador, foi entregue à Casa Civil. Um dia depois, iniciou-se um lento processo de fritura de Onyx Lorenzoni. Enquanto isso, o Congresso atrasou a tramitação da reforma da Previdência reclamando de ataques do pitbull. Marcelo Ramos, presidente da Comissão Especial, acionou a Polícia Legislativa contra ameaças que diz vir da “milícia virtual do Carlos Bolsonaro”. Não por acaso, há nas redes sociais quem chame o filho mais polêmico de Bolsonaro de “vereador federal”.