Marcelo Madureira: Bárbara Heliodora
Ontem faleceu a grande ensaísta e a maior autoridade em Shakespeare de todos os tempos: Bárbara Heliodora. Mas Bárbara, além de brilhante intelectual, ficou conhecida como implacável crítica de teatro. Com conhecimento de causa, diga-se de passagem. Seus artigos demolidores eram capazes de reduzir a pó qualquer produção que não estivesse dentro dos padrões rigorosos da jornalista...
Ontem faleceu a grande ensaísta e a maior autoridade em Shakespeare de todos os tempos: Bárbara Heliodora. Mas Bárbara, além de brilhante intelectual, ficou conhecida como implacável crítica de teatro. Com conhecimento de causa, diga-se de passagem. Seus artigos demolidores eram capazes de reduzir a pó qualquer produção que não estivesse dentro dos padrões rigorosos da jornalista. Bárbara foi uma personagem polêmica no mundo da dramaturgia. Reverenciada e odiada mas, sobretudo temida, a publicação de suas análises era esperada com mais frio na barriga por atores e diretores do que a estreia propriamente dita.
Em derradeiro artigo Bárbara fez questão de escrever ela mesma uma critica do seu passamento e velório. Artigo este que tive a honra de psicografar mediunicamente e que agora publico com exclusividade:
A MORTE E A MORTE DE BÁRBARA HELIODORA
“O tema da Morte, desde os tempos do teatro grego clássico, vem sendo explorado em suas diferentes formas e abrangências. Ésquilo, Sófocles, Shakespeare, Moliére, Ibsen e até Gugu Olimecha utilizaram-se desta temática mas, até hoje, não se extinguiram todas possibilidades cênicas que a Morte representa.
A súbita montagem de “A Morte e a Morte de Bárbara Heliodora“, com a direção de Gerald Thomas (ele sempre ele), acaba naufragando nos lugares comuns e soluções dramáticas simplistas que o tema da morte suscita, resultando em pura e reles apelação demagógica dramatúrgica. Na frágil carpintaria teatral concebida por Gerald Thomas (ele, sempre ele) falta pathos, dramaticidade e conflito. A personagem, única e principal, vai em busca de sua húbris que, por falhas gritantes de texto e direção, acaba encontrando a sua nêmesis. Mais uma vez o raso, vago e melancólico “teatro do absurdo“… É necessário que a direção lance mão de um redundante e canhestro “deus ex-machina”, no caso o coveiro, para se dar um fim a trama mais do que banal.
Ao final da peça o público não sabe se assistiu a uma tragédia ou uma comédia.
O elenco faz o que pode para salvar (se é que existe algo a ser salvo) no espetáculo. A protagonista que sempre abominou o gênero teatral do monólogo, entrou muda e saiu calada. Com uma ressalva: o único momento cênico salvável da peça em que ,empunhando uma caveira, faz uma referência (e reverência) a Shakespeare no clássico solilóquio de Hamlet do “ser ou não ser”. No caso “não ser”.
O cenário do carnavalesco Paulo Barros é um ponto salvável do espetáculo. Barros, que sempre lança mão de efeitos especiais, surpreende a plateia quando a morta, no caso eu, se levanta do caixão. É a carnavalização da tragédia. A iluminação de Maneco Quinderé é adequada, porém pouco criativa, chegando a esbarrar no óbvio no uso exagerado de tocheiros, velas e eças.
O figurino, preparado adrede por Kalma Murtinho, é sóbrio e adequado ao perfil da protagonista. O visagismo e a maquiagem de Vavá Torres, discretos como pede o tema do espetáculo, deixaram a protagonista com aspecto bem conservado.
Outro ponto digno de nota é o coro das carpideiras, outra referência ao teatro clássico grego, formado por Fernanda Montenegro, Marilia Pera e Natália Thimberg.
Ao final do espetáculo o público foi efusivo e generoso nos aplausos. Mas não voltei para o bis.
A Morte e a Morte de Bárbara Heliodora tem o apoio da Petrobras, BNDES e da Caixa Econômica Federal através da Lei Rouanet de incentivo à cultura.
Apoio cultural de:
A Camélia Flores (Obrigado Álvaro!), do restaurante A Fiorentina e da Termas Centaurus (neste caso não entendi até agora qual foi o tipo de permuta).
Em curtíssima temporada (somente ontem) no Teatro do Caju. Entrada Franca.
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