Tio Barnabé: a Santa Luzia invisível
"Adoro ler a respeito de religiões, até porque quem não se aprofunda nos estudos de mitologia e religião, especialmente a católica, não consegue compreender 80% do Louvre ou da Galeria degli Uffizi.Dia 13 de dezembro, comemora-se o dia de uma santa muito cara aos católicos de todo o mundo: Santa Luzia. Luzia, siciliana, foi martirizada por Diocleciano. Diz-se que ela teria arrancado os próprios olhos, entregando-os ao carrasco. Preferiu isso a renegar a fé em Cristo. Dante Alighieri, na "Comédia", atribuiu à santa a graça iluminadora e assim, dizem, começou sua fama de protetora dos olhos.Aexatos 17 quilômetros da praça dos Três Poderes, mais de 12 mil pessoas vivem em barracos, em uma das áreas mais miseráveis do Distrito Federal, sem água potável, energia e esgoto. O lugar se chama Chácara Santa Luzia. É próximo do Lixão da Estrutural, para quem conhece Brasília...
“Adoro ler a respeito de religiões, até porque quem não se aprofunda nos estudos de mitologia e religião, especialmente a católica, não consegue compreender 80% do Louvre ou da Galeria degli Uffizi.
Dia 13 de dezembro, comemora-se o dia de uma santa muito cara aos católicos de todo o mundo: Santa Luzia. Luzia, siciliana, foi martirizada por Diocleciano. Diz-se que ela teria arrancado os próprios olhos, entregando-os ao carrasco. Preferiu isso a renegar a fé em Cristo. Dante Alighieri, na “Comédia”, atribuiu à santa a graça iluminadora e assim, dizem, começou sua fama de protetora dos olhos.
A exatos 17 quilômetros da praça dos Três Poderes, mais de 12 mil pessoas vivem em barracos, em uma das áreas mais miseráveis do Distrito Federal, sem água potável, energia e esgoto. O lugar se chama Chácara Santa Luzia. É próximo do Lixão da Estrutural, para quem conhece Brasília.
Na Chácara Santa Luzia vivem, repiso, mais de 12 mil pessoas e não há coleta diária de lixo e, ironia do destino, 70% dos moradores de lá são coletores no Lixão que é considerado o maior em atividade da América Latina.
A Chácara Santa Luzia não é “regularizada” e, por isso, o poder público não faz o seu dever e resolve o problema dos pobres diabos que por ali sobrevivem.
Mas a questão é que, em Brasília, não ter “área regularizada” é quase a regra! São inúmeros os condomínios elegantes edificados em áreas não regularizadas, perto de mananciais e habitados por gente importante como magistrados, procuradores e servidores públicos do alta escalão do governo federal e do Distrito Federal. O preço de um lote de um desses condomínios irregulares, num lugar chamado Jardim Botânico, pode chegar a 1 milhão de reais.
Para a invasão chique brasiliense, no entanto, toda a infraestrutura foi concedida. Para os pobres da Chácara Santa Luzia, o governo do Distrito Federal faz “ouvidos de marcador”. Não, não é “mercador” — o marcador era o sujeito que marcava os escravos com um ferro em brasa e, naturalmente, tinha o dom da não escuta aos suplícios que infligia aos infelizes.
O brasiliense, modo geral, como todo servidor público, julga-se de “esquerda”. Mas por aqui o esquerdismo é a crença no Estado grandalhão e em maiores oportunidades para trabalhar para o governo. O brasiliense de “esquerda” só é solidário na reivindicação salarial (parafraseando o Nelson). Ah, sim, também é solidário a uma árvore que pode ser cortada na quadra em que habita, à destruição do horrível prédio do antigo Touring, ao Parque Olhos D’água e à ciclovia.
A Chácara se chamar Santa Luzia é de uma ironia formidável. Até hoje ela não foi vista pelos brasilienses.”
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