Agamenon: Quem Não Deve Não Temer!
Enquanto jornalista desempregado (coisa cada vez mais comum no Brasil), tenho passado os dias perambulando pelas ruas de Brasília. Como a Capital Federal não tem esquina, anda-se pra caramba e não se chega a lugar nenhum. Mais ou menos como o Brasil. Sobrevivendo como figurante de passeata, passo o dia entre um sanduíche de mortadela aqui, uma coxinha ali e vai-se levando. Vocês sabem aonde...Enquanto isso, no Palácio da Alvorada, uma criatura solitária pedalava a sua bicicleta pelos imensos salões desertos e escuros. Era a presidenta Zica Roskof dando as suas últimas pedaladas, alheia a tudo e a todos
Enquanto jornalista desempregado (coisa cada vez mais comum no Brasil), tenho passado os dias perambulando pelas ruas de Brasília. Como a Capital Federal não tem esquina, anda-se pra caramba e não se chega a lugar nenhum. Mais ou menos como o Brasil. Sobrevivendo como figurante de passeata, passo o dia entre um sanduíche de mortadela aqui, uma coxinha ali e vai-se levando. Vocês sabem aonde.
Fiquei dois dias sem dormir perambulando pelos corredores do Congresso na tentativa de passar por deputado e assim descolar algum qualquer vendendo o meu voto, contra ou a favor, tanto faz. Na madrugada cheguei a ocupar os microfones do Parlamento por duas vezes, onde pronunciei dois discursos candentes: um contra e outro a favor do impeachment. Faço qualquer negócio para aparecer na GloboNews.
Exausto, arrumei um canto no plenário para repousar o meu encanecido esqueleto. Tirei o meu surrado paletó, que dobrado funciona como travesseiro, e adormeci profundamente crente que estava em local seguro. Ledo e ivo engano. Ao acordar, na manhã seguinte, percebi que tinha sido roubado. Levaram tudo o que eu tinha, se é que eu tinha alguma coisa. Um bando de Deputados de Rua promoveu um arrastão de madrugada levando o que viam pela frente. Me deixaram totalmente despido, nu e pelado. Pior! Para completar o esculacho, espetaram uma bandeirinha escrito “Não Vai Ter Golpe” em orifício remoto da minha anatomia.
Graças a funcionários piedosos da Câmara dos Deputados, consegui uns trapos andrajosos para tampar as minhas partes pudendas, que, afinal, não são tantas assim. Recomposto, passei a assistir à romaria de deputados ao microfone onde, um a um, proferiam seus intermináveis votos. É comovedor como os nossos parlamentares pensam nas suas famílias. Antes de cada voto faziam questão de declarar que votavam pela mulher, pelos filhos, pelo pai, pela mãe, pela vó e pela tia. Agora eu entendo por que os políticos brasileiros quando se elegem para um mandato a primeira coisa que fazem é arrumar um emprego para cada um dos seus familiares.
Justiça seja feita, um marco histórico foi alcançado e vai ficar para os pósteros: pela primeira vez o povo brasileiro viu os parlamentares brasileiros trabalharem. Chegaram mesmo a virar a noite fazendo serão!!!! Desconfio de que eles só fizeram isso para aparecer na GloboNews.
E, para finalizar, apesar de não ter emprego nem mandato, em nome de minha patroa, a Isaura, em nome do meu psicoproctologista, Dr. Jacintho Aquino Rego, em nome do Enéas, o meu cunhado esquisitão, eu, Agamenon Mendes Pedreira, voto assim!!!! E assado.
Agamenon Mendes Pedreira é jornalista desempichado.
Enquanto isso, no Palácio da Alvorada, uma criatura solitária pedalava a sua bicicleta pelos imensos salões desertos e escuros. Era a presidenta Zica Roskof dando as suas últimas pedaladas, alheia a tudo e a todos
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