Tio Barnabé: o barnabé estratégico
Brasília vista do alto é um espetáculo. O projeto urbanístico vencedor de Lúcio Costa era poético. Não podemos nos esquecer que era 1957. Suas considerações sobre o traçado são de uma elegância... Dentre todas as diatribes que atribuo ao seu projeto, além da pouca área de convivência de seres humanos já tão falada em prosa e verso, do excesso de áreas públicas vazias e do isolamento dos menos afortunados, é a privatização da orla do lago. Toda a Esplanada deveria estar por ali, num imenso centro de convivência lacustre, gente e patos, gansos, peixes e outras criaturas. lindo de se ver e péssimo para se conviver...
Brasília vista do alto é um espetáculo. O projeto urbanístico vencedor de Lúcio Costa era poético. Não podemos nos esquecer que era 1957. Suas considerações sobre o traçado são de uma elegância… Dentre todas as diatribes que atribuo ao seu projeto, além da pouca área de convivência de seres humanos já tão falada em prosa e verso, do excesso de áreas públicas vazias e do isolamento dos menos afortunados, é a privatização da orla do lago.Toda a Esplanada deveria estar por ali, num imenso centro de convivência lacustre, gente e patos, gansos, peixes e outras criaturas. lindo de se ver e péssimo para se conviver.
Contudo, no caso do planejamento estratégico, Brasília é muito pior. É um nada absoluto.
Hoje em dia, todos os órgãos públicos, tribunais e empresas públicas têm suas áreas de planejamento estratégico. Vou me deter mais precisamente na chamada administração direta.
Nos Tribunais Superiores, por exemplo, os casos são dramáticos. Para as áreas de planejamento se enviam aqueles servidores que, modo geral, não fazem nada de útil nas áreas finalísticas. A partir daí você já vê como a coisa pode complicar. E complica. Como o setor público procura copiar a iniciativa privada, projetos ou modas que ocorrem por lá são trazidas para dentro do setor público. Poderia citar inúmeros, tipo qualidade total, 5 s, reengenharia etc., mas vou ficar no Balanced Scorecard (BSC).
O BSC foi criado por dois sujeitos da Harvard Business School (Kaplan e Norton), em 1992. No serviço público virou uma desgraça. Não entenderam nada. Transformaram tudo, no dizer de um amigo, na DR (discutir a relação) do barnabé. Depois de longas, imensas, tonitruantes, vazias, chatíssimas, caríssimas reuniões para se decidir sobre missão, visão e valores, o que se tem é uma bobagem atroz. Ou como dizia Don Rigoberto “semelhante àquelas complicadas e diligentes máquinas de Jean Tinguely, as quais, movendo correntes, polias, trilhos, pás, colheres e êmbolos, acabam parindo uma bolinha de pingue-pongue”. Mas vou no linguajar popular mesmo: a montanha costuma parir um rato.
O ratinho, orgulho do barnabé estratégico, depois se deriva em outros bichos, tais como o chamado “mapa estratégico” (se fosse comparar, todos são muito parecidos, quase cópia, como já disse em outra ocasião).
Mas até aí tudo bem. Como toda DR, poderia ficar por isso mesmo. Mas o problema, tal como nos casamentos, é que tem gente que leva a sério a DR e dá consequência. O que seria apenas uma pausa para os barnabés discutirem, falarem mal do chefe, da organização, do salário e da vida alheia, da estagiária bem saudável, torna-se, quando existe um barnabé proativo no planejamento estratégico, um suplício na vida de todos.
O barnabé estratégico vai cobrar de “todas as áreas”, diligentemente, os planejamentos tático e operacional. Tal como numa ópera bufa, um faz de conta de malucos, esses planejamentos acabam sendo praticamente tocados pelos estagiários.
Para encerrar, há o pior: quando o desdobramento chega às metas para o bimestre ou semestre. Nesse ponto, toda a organização prende a respiração e se arrepia. Metas? No serviço público? Resultados aferidos? Consequência? Tudo por conta daquele tal de BSC? Mas, num átimo, tudo se resolve! O pessoal logo percebe que o barnabé estratégico quer mesmo é só um documento (que se torna público no Boletim Interno) e todos, alegremente, estipulam aquelas metas que já estão praticamente cumpridas — e assim segue a vida.
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