Jesus, segundo Pier Paolo Pasolini
Já faz anos, em todo sábado de aleluia, eu, Mario, saio do mundo para assistir ao mais belo filme já realizado sobre a história de Jesus: "O Evangelho Segundo São Mateus", de Pier Paolo Pasolini. Se você não o viu, compre e faça como eu. É uma ótima experiência, garanto...Alguns minutos com o melhor Jesus de todos os tempos, à exceção do original
Já faz anos, em todo sábado de aleluia, eu, Mario, saio do mundo para assistir ao mais belo filme já realizado sobre a história de Jesus: “O Evangelho Segundo São Mateus”, de Pier Paolo Pasolini. Se você não o viu, compre e faça como eu. É uma ótima experiência, garanto.
O filme, de 1964, é naturalista, encenado por uma maioria de amadores, preto-e-branco, sem efeitos especiais, em meio a uma aridez que seca os olhos de qualquer lágrima que possa ser vertida. As falas são integralmente aquelas do Evangelho escrito por Mateus, ex-cobrador de impostos. As cenas com São João Batista têm como fundo “Sometimes I Feel Like a Motherless Child”, com Odetta. É antípoda às produções bíblicas de Hollywood.
Jesus é interpretado por um espanhol, Enrique Irazoqui, comunista e judeu por parte de pai. Ele foi convencido a interpretar Jesus, depois que lhe disseram que o cachê poderia ser doado à causa antifranquista. Quanto voltou para a Espanha, Irazoqui foi preso por ter participado de um “filme de propaganda comunista”. Maria, quando anciã, é Susanna Pasolini, mãe do diretor. Maria de Betânia, que perfuma Jesus na Última Ceia, é a escritora Natalia Ginzburg.
Pasolini fez um filme no espírito do Concílio Vaticano II, que queria varrer a poeira da Igreja Católica, simplificá-la e integrá-la ao mundo moderno. É, assim, dedicado ao papa João XXIII. O figurino tem detalhes nada sutis nesse sentido: os juízes do Sinédrio portam mitras; os jovens encarregados de colocar o corpo de Jesus no túmulo estão vestidos como frades franciscanos.
A Igreja Católica deteriorou-se ainda mais desde então, Pasolini morreu assassinado em 1975, a sua memória ainda sofre depredações, mas o filme permanece uma obra de arte ímpar — e, como tal, a sua mensagem continua poderosa.
O mais belo filme já realizado sobre a história de Jesus é a mais bela homenagem à fé católica. O seu idealizador, roteirista e diretor tinha relações conflituosas com comunistas, burgueses e padres. Intelectual combativo, homem de opiniões fortes, artista esplêndido, Pasolini era homossexual. Não deixa de ser irônico que o seu Jesus seja o melhor Jesus de todos os tempos, à exceção do original.
Alguns minutos com o melhor Jesus de todos os tempos, à exceção do original
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