Biden critica bilionários, mas elite progressista apoia democratas
A despedida de Joe Biden da presidência, marcada por críticas à concentração de riqueza e à influência das elites, contrasta com a realidade do partido
O Partido Democrata, que recebeu o apoio de ao menos 83 bilionários na campanha de Kamala contra Donald Trump, reforça um padrão político denunciado numa frase atribuída a Richard Nixon décadas atrás: os democratas seriam o partido dos muito ricos e dos muito pobres, deixando de lado a classe média trabalhadora.
Essa visão, apresentada também por autores como Christopher Lasch, em A Revolta das Elites, e Christophe Guilluy, em O Fim da Classe Média, aponta para um realinhamento em que a classe média é progressivamente excluída das prioridades políticas de partidos progressistas.
Segundo essas análises, a combinação de políticas voltadas para interesses corporativos e narrativas de esquerda centradas em identitarismo acaba afastando a classe média.
O apoio dos bilionários à campanha de Kamala é evidência clara desse novo alinhamento. Figuras como Laurene Powell Jobs, viúva de Steve Jobs, Reid Hoffman e George Soros (foto) contribuíram milhões de dólares para promover causas associadas ao Partido Democrata, enquanto os democratas continuam a enfatizar políticas que agradam às elites urbanas e programas assistencialistas para a população mais carente.
Laurene Powell Jobs, por exemplo, não apenas financiou campanhas, mas também desempenhou papel ativo na organização do partido, influenciando a retirada de Biden da corrida presidencial em favor de Kamala. Ao mesmo tempo, as agendas financiadas por Soros, como a eleição de procuradores de esquerda, enfrentaram críticas por contribuírem para o aumento da criminalidade em comunidades já vulneráveis.
Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn, exemplifica a dualidade dessa aliança. Ele defende causas alegadamente progressistas enquanto pressiona por políticas corporativas que beneficiam diretamente seus interesses financeiros, como a substituição de Lina Khan, presidente da Comissão Federal de Comércio, que combate fusões empresariais prejudiciais ao consumidor.
Esse realinhamento coloca o Partido Democrata em uma posição paradoxal. Enquanto recebe apoio massivo de bilionários e promove políticas voltadas para as classes mais baixas, a classe média, que por décadas foi sua base de sustentação, sente-se cada vez mais negligenciada.
O foco do partido em narrativas identitárias e na promoção de uma “elite progressista” cria uma desconexão com trabalhadores e pequenos empresários, que se veem mais representados pelos republicanos.
Autores como Guilluy argumentam que o enfraquecimento da classe média não é apenas econômico, mas também simbólico. À medida que políticas urbanas e culturais priorizam interesses de elites globais e minorias urbanas, os eleitores de regiões periféricas e rurais – brancos e não brancos – são deixados de lado.
Donald Trump, por sua vez, capitalizou esse descontentamento. Sua retórica contra as elites, aliada a políticas voltadas para a classe média e os trabalhadores, resultou em um aumento significativo de apoio entre minorias e eleitores de baixa escolaridade, que historicamente votavam nos democratas.
Como apontam Lasch e Guilluy, essa mudança reflete uma revolta contra uma elite que parece desconectada das preocupações reais da maioria da população.
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