Washington Post: Ícone do jornalismo americano enfrenta crise sem precedentes
Jornal que revelou o escândalo de Watergate lida com êxodo de talentos, prejuízos financeiros e questionamentos internos sob gestão de Jeff Bezos
O Washington Post, jornal de propriedade de Jeff Bezos, atravessa um momento crítico em 2025, marcado por uma crise de identidade que se arrasta há anos e agravada por problemas financeiros.
As tensões na redação e o declínio na audiência foram exacerbados após a nomeação de Will Lewis como CEO e publisher, cuja gestão tem sido alvo de fortes críticas.
Em uma reunião realizada em junho de 2024, após a saída da editora-executiva Sally Buzbee, Lewis afirmou aos funcionários: “Estamos perdendo grandes quantidades de dinheiro. Sua audiência foi reduzida pela metade nos últimos anos. As pessoas não estão lendo o que vocês publicam.” Desde então, sua relação com a equipe só piorou.
Fontes internas descrevem a situação no jornal como “sem direção”. Lewis, que teria se distanciado dos funcionários desde a reunião mencionada, é acusado de falhar em apresentar um plano de negócios claro e de se comunicar apenas por meio de veículos externos.
A demissão de Buzbee levou à nomeação temporária de Matt Murray como editor-executivo interino. No entanto, a busca por um substituto permanente resultou na efetivação de Murray, que implementou políticas controversas, como a de não permitir que o jornal cubra seus próprios problemas, o que gerou críticas entre os jornalistas.
Além disso, a decisão de Bezos de não endossar a então candidata à reeleição, Kamala Harris, pouco antes das eleições, causou forte repercussão. O movimento, que muitos consideraram uma tentativa de agradar ao agora presidente eleito Donald Trump, resultou na perda de 250 mil assinantes e na renúncia de membros importantes da redação, incluindo Robert Kagan e outros do conselho editorial.
A crise de credibilidade e a fuga de talentos — com jornalistas renomados como Josh Dawsey e Ashley Parker migrando para outros veículos — refletem o descontentamento com a gestão de Lewis. Ex-funcionários, como o ex-escritor Paul Farhi, descrevem as recentes decisões como “desastrosas”, enquanto analistas questionam se o Washington Post conseguirá se reerguer.
Enquanto Bezos tenta reformular a postura editorial do jornal, argumentando em um artigo que “a mídia é vista como tendenciosa”, o futuro do Post permanece incerto, com um público cada vez mais fragmentado e uma equipe desmotivada.
A crise no Washington Post reflete desafios mais amplos enfrentados pela mídia tradicional, que tenta se adaptar a novas dinâmicas econômicas e políticas em um cenário de mudanças rápidas e pressões internas.
A luta para salvar o legado de um gigante da imprensa
Fundado em 1877, o Washington Post se consolidou como um dos jornais mais influentes dos Estados Unidos, sendo sinônimo de jornalismo investigativo e liberdade de imprensa.
Sua atuação foi decisiva na revelação do escândalo Watergate, que culminou na renúncia do presidente Richard Nixon em 1974. A cobertura, liderada pelos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, é até hoje um marco na história do jornalismo mundial.
O episódio foi imortalizado em livro e no filme Todos os Homens do Presidente, estrelado por Robert Redford e Dustin Hoffman, consolidando a imagem do Post como um símbolo de integridade e vigilância contra os abusos de poder.
Décadas depois, outro filme trouxe o Post de volta aos holofotes: The Post – A Guerra Secreta (2017), estrelado por Meryl Streep e Tom Hanks. O longa retrata a batalha do jornal, liderado por Katharine Graham, para publicar os Pentagon Papers, documentos secretos que revelaram mentiras governamentais sobre a Guerra do Vietnã.
Em 2013, a história do jornal ganhou um novo capítulo com sua aquisição pelo bilionário Jeff Bezos, fundador da Amazon. A compra, por 250 milhões de dólares, foi vista como uma tentativa de revitalizar o veículo em meio à crise enfrentada pela imprensa tradicional diante da ascensão do jornalismo digital.
Bezos trouxe inovações tecnológicas e ampliou a presença do jornal na internet, mas também enfrentou críticas por decisões editoriais e estratégicas que, segundo funcionários e analistas, comprometeram o espírito do Post.
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