Advogado critica TPI por inação contra Maduro: “Impunidade enfraquece a Justiça”
Claudio Grossman renunciou a cargo no tribunal em protesto contra a falta de ações concretas para responsabilizar o regime de Maduro
O advogado chileno de direitos humanos Claudio Grossman (foto) renunciou ao cargo de conselheiro especial no Tribunal Penal Internacional (TPI) em protesto contra a falta de ações concretas para responsabilizar o regime de Nicolás Maduro por crimes cometidos na Venezuela.
Grossman, renomado por sua atuação em casos internacionais como os litígios entre Chile, Peru e Bolívia, ocupava o cargo pro bono desde 2021.
Em entrevista ao jornal chileno La Tercera, Grossman afirmou que sua decisão reflete uma postura ética diante da “inação injustificável” do tribunal em relação à Venezuela.
“Não posso justificar a ausência de medidas eficazes contra os responsáveis por violações graves dos direitos humanos”, disse.
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Milhões de venezuelanos exilados
Ele destacou que, desde 2020, organizações internacionais apontam a necessidade de ações mais firmes contra o regime de Maduro, mas o TPI não avançou nos processos.
“Não há órgão internacional que não tenha condenado os crimes contra a humanidade naquele país, incluindo o crime internacional de perseguição, que consta do Estatuto de Roma, além dos desaparecimentos e da tortura, entre outros, como método de ataque e intimidação de civis população (…).
O impacto dos crimes cometidos naquele país tem sido tremendo, não afetando apenas e destruindo a vida de numerosos indivíduos e das suas famílias. As violações contribuíram para um êxodo sem precedentes da Venezuela, com mais de oito milhões de pessoas forçadas a deixar o seu país. Perante esta situação, que de resto continua a agravar-se, concluí que poderia contribuir mais de fora, porque quero ter liberdade para poder agir. Para mim é uma questão ética. Não se pode ser assessor do Ministério Público e ao mesmo tempo criticar a sua inação injustificada.”
Judiciário independente?
O advogado também criticou a postura do procurador do TPI, Karim Khan, por exigir que a Venezuela desenvolvesse um Judiciário independente, mesmo diante de evidências claras de que o sistema judicial do país é cúmplice das violações de direitos humanos.
Grossman considerou essa abordagem como “incompatível” com o Estatuto de Roma, que fundamenta o TPI.
A renúncia também ocorre em meio a alegações de conflitos de interesse envolvendo a cunhada de Khan, que teria atuado em defesa de Maduro no tribunal.
Embora Grossman tenha evitado comentar diretamente o caso, ele afirmou que a situação enfraquece a credibilidade do TPI e os valores fundamentais da luta contra crimes internacionais.
“A inação apenas perpetua a impunidade e mina os esforços globais por justiça”, concluiu.
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