O “posto Ipiranga” do futuro presidente
O candidato procurava um economista de base sólida e liberal, que lhe desse conteúdo e abrisse um canal de comunicação com o mercado; o economista procurava um candidato competitivo que topasse aplicar suas ideias à combalida economia brasileira. Deu a dobradinha...
O candidato procurava um economista de base sólida e modernizante, que lhe desse conteúdo e abrisse um canal de comunicação com o mercado; o economista procurava um candidato competitivo que topasse aplicar suas ideias à combalida economia brasileira.
Deu a dobradinha Jair Bolsonaro e Paulo Guedes.
Assim que a candidatura de Bolsonaro à Presidência começou a tomar forma, no final de 2017, Guedes rapidamente assumiu o papel de “posto Ipiranga” do capitão da reserva, ou seja: o economista teria respostas para todas as questões da sua área, sobre as quais Bolsonaro diz ser ignorante.
De formação francamente liberal, forte defensor das privatizações (“Se você privatizar tudo, você zera a dívida”), Guedes não demorou a apresentar a sua agenda.
A aproximação dos dois rendeu desconfiança e “patrulhamento“, porque Bolsonaro não tinha no currículo posições claramente liberais na área da economia — havia se contraposto às privatizações, por exemplo. Mas o que era um “noivado hétero”, segundo Bolsonaro, avançou, então, para “quase um casamento”.
Guedes, a “mulher gostosa” de Bolsonaro, é um dos formuladores do plano de governo do candidato e, após a vitória nas eleições, foi anunciado, sem nenhuma surpresa de ninguém, para o comando da economia, com status de superministro — terá seis secretarias sob seu comando.
Nas primeiras movimentações públicas, jogou duro, dando algumas caneladas. Disse que seria necessário “dar uma prensa” no Congresso, para garantir a aprovação da reforma da Previdência.
Eunício Oliveira reagiu e disse acerca do comentário de Guedes: “Ou se expressou mal ou não sabe como funciona o Congresso.”
Guedes deve ter aprendido, porque logo em seguida Eunício colocou em votação no Senado o reajuste de salários dos ministros do STF, cujo efeito-cascata deve gerar despesas extras de R$ 4 bilhões aos cofres públicas — uma bomba que vai estourar no colo de Bolsonaro.
Em outra manifestação de que pretende mudar as coisas no Brasil, Guedes disse que é necessário “meter uma faca no Sistema S”, acabando ou reduzindo as contribuições obrigatórias pagas pelas empresas.
Os representantes do Sistema S (Sesc, Senai, Sebrae etc.), é claro, reagiram.
Mas a grande batalha será mesmo a da reforma da Previdência. A questão agora é se, para aprová-la, será preciso fatiá-la.
Para ajudá-lo na tarefa de tapar esse buraco que só faz crescer, ele escolheu o tucano Rogério Marinho para o cargo de secretário especial de Previdência, como revelou a Crusoé.
A superexposição de Guedes em 2018 trouxe ainda questões pessoais à tona.
O futuro ministro faturou R$ 600 mil na Bolsa em operações que, segundo a Justiça Federal, são fraudulentas, como revelou a revista Crusoé.
Além disso, estava sendo investigado pelo MPF em Brasília, suspeito de praticar fraudes em negócios com fundos de pensão de estatais: Guedes teria captado ao menos R$ 1 bilhão dessas entidades.
No início de dezembro, a PF abriu inquérito para investigar o caso.
Guedes nega as acusações.
Que o “Posto Ipiranga” não seja inflamável.
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