Cristianismo sob ataque? A briga sobre intervalos bíblicos em Pernambuco
“Por que a Bíblia, que é o livro mais lido do mundo, virou alvo de tanto ódio?”, questionou o deputado estadual Joel da Harpa (PL-PE)
Os intervalos bíblicos, uma prática religiosa em escolas públicas de Pernambuco, se tornaram um campo de batalha ideológico e cultural.
Parlamentares conservadores defendem a iniciativa como um instrumento para fortalecer valores morais e combater a violência entre os jovens, enquanto críticos apontam denúncias de imposição religiosa e discriminação contra outras crenças, como religiões de matriz africana. O que está em jogo, porém, vai além das denúncias: a luta pelo espaço do cristianismo no Brasil.
A polêmica começou após a Secretaria de Educação e o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) receberem queixas de que os intervalos bíblicos, que deveriam ser voluntários, estariam sendo impostos em algumas escolas, enquanto alunos de outras religiões não têm o mesmo espaço para manifestações. Relatos de discriminação contra praticantes de candomblé acirraram ainda mais o debate.
Em uma das denúncias, segundo matéria da Agência Pública, estudantes de religiões afro-brasileiras relataram agressões verbais, como serem chamados de “macumbeiros”. Professores também apontaram resistência de alunos evangélicos a conteúdos que abordem cultura negra, mesmo havendo lei federal que obriga o ensino dessas tradições.
Do outro lado, parlamentares e lideranças evangélicas denunciam o que classificam como uma crescente perseguição ao cristianismo. Para o deputado Joel da Harpa (PL), a reação contra os intervalos bíblicos é parte de um movimento mais amplo para apagar os valores cristãos da sociedade brasileira. “Por que a Bíblia, que é o livro mais lido do mundo, virou alvo de tanto ódio?”, questionou.
Para os defensores dos intervalos bíblicos, a prática transcende a religião e reforça a herança cultural do Brasil, um país cuja história foi moldada por valores cristãos. Líderes como o pastor Teo Hayashi acusam críticos de usarem a laicidade do Estado como pretexto para marginalizar o cristianismo, ignorando seu papel histórico na educação, na saúde e no desenvolvimento social.
“O cristianismo construiu hospitais, escolas, alfabetizou milhões. Agora querem apagar isso”, disse Hayashi, em um vídeo amplamente compartilhado nas redes sociais. O pastor também criticou o que chamou de “dois pesos e duas medidas”. “Se fosse umbanda ou candomblé, ninguém ousaria criticar. Mas contra o cristianismo, vale tudo.”
Na Assembleia Legislativa de Pernambuco, dois projetos de lei defendem a manutenção dos intervalos bíblicos, enquanto outros dois foram apresentados na Câmara dos Deputados. Um deles, da vereadora Missionária Michele Collins (PP), prevê multas de até 30 salários-mínimos para escolas que proíbam rituais religiosos.
A proposta reacendeu discussões sobre liberdade religiosa e a laicidade do Estado. Para o deputado estadual Renato Antunes (PL), os intervalos bíblicos não só respeitam a liberdade religiosa como também oferecem um espaço seguro para os jovens. “Estamos falando de momentos que ajudam a tirar adolescentes das drogas e da violência. Por que tanta resistência?”, disse.
Entidades como a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) também entraram no debate, oferecendo suporte jurídico aos parlamentares. “A Constituição brasileira garante a liberdade de culto. Negar isso é ferir um direito fundamental”, argumentou a entidade.
“Estamos vivendo um momento de batalha cultural. Não é só sobre intervalos bíblicos, é sobre manter viva a nossa identidade”, afirmou Joel da Harpa.
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