Moro: da prisão de Lula ao superministério
Dois fatos foram marcantes na vida pública de Sergio Moro em 2018: a prisão de Lula, em abril, e a decisão do então juiz da Lava Jato de deixar a magistratura para comandar, a partir de 2019, o superministério da Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro. Moro decretou a prisão de Lula no dia 5 de abril...
Dois fatos foram marcantes na vida pública de Sergio Moro em 2018: a prisão de Lula, em abril, e a decisão do então juiz da Lava Jato de deixar a magistratura para comandar, a partir de 2019, o superministério da Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro.
Moro decretou a prisão de Lula no dia 5 de abril, dando prazo de 24 horas para o petista se apresentar à PF.
Antes dele, o STF rejeitara um habeas corpus em favor de Lula, e o TRF-4 enviara a Moro a autorização para a execução da pena.
Ou seja, tudo ocorreu exatamente como manda a lei.
Assim mesmo, o PT armou seu circo.
Lula permaneceu enfurnado por dois dias no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC: enquanto fingia que não se entregaria, negociava com a PF.
Entregou-se apenas no dia 7 de abril, desrespeitando o prazo estabelecido por Moro.
Três meses depois, nova farsa envolvendo Lula exigiu a intervenção de Moro.
No posto de plantonista do TRF-4, o desembargador Rogério Favreto concedeu habeas corpus para Lula, aceitando a alegação fantasiosa de que a candidatura de Lula à Presidência configurava fato novo suficiente para justificar a libertação do petista.
Moro interveio e ordenou que a PF mantivesse Lula preso.
Favreto, então, soltou outro despacho, reiterando novamente a libertação do petista e pedindo que Moro fosse investigado pelo CNJ por infração funcional — o caso foi arquivado em dezembro.
O ato político mal disfarçado de jurídico só chegou ao fim quando o relator do caso no TRF-4, desembargador João Pedro Gebran Neto, invocou para si o assunto e revogou definitivamente as decisões de Favreto.
Lula seguiu preso.
Moro voltaria à cena pouco antes do segundo turno eleitoral.
Com a revista Crusoé revelou, o juiz fora sondado por integrantes da campanha de Jair Bolsonaro: poderia escolher o cargo que quisesse, do Ministério da Justiça ao STF (quando houvesse uma vaga), em caso de vitória do candidato do PSL.
Discreto, Moro se manteve afastado dos holofotes eleitorais. Apareceu, ao fim do processo, para parabenizar Bolsonaro pela vitória.
O convite para compor o futuro governo, de fato, seria feito, intermediado por Paulo Guedes.
Moro disse “sim” no dia 1º de novembro.
Em nota, afirmou que pretendia “consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afastar riscos de retrocessos”.
Juízes, peritos criminais e procuradores da Lava Jato festejaram.
Petistas atacaram, afirmando que o fato de ter aceitado ser ministro de Bolsonaro provava que as decisões de Moro contra Lula tinham motivação política, incluindo aí o fato de o juiz ter levantado o sigilo da delação de Antonio Palocci (que mais uma vez alvejava Lula), poucos dias antes da realização do primeiro turno eleitoral.
O vice-presidente eleito, Hamilton Mourão, definiu bem a gritaria: “Choro de bandido.”
Para a equipe que vai auxiliá-lo, Moro escolheu profissionais tarimbados no combate ao crime, muitos deles com passagem destacada na Lava Jato.
O futuro ministro já detalhou a estratégia de atuação da pasta: combater duramente a corrupção e o crime organizado — por isso, o Coaf, órgão de inteligência que monitora transações financeiras, será transferido da Fazenda para a Justiça.
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