Radicalização ideológica divide homens e mulheres da Geração Z
Pesquisa mostra aumento da polarização ideológica entre jovens de 18 a 26 anos
Um estudo recente do Financial Times revela que a diferença ideológica entre homens e mulheres da Geração Z, composta por jovens nascidos entre 1997 e 2012, está mais acentuada do que nunca. Os dados mostram uma disparidade crescente entre as visões políticas dos gêneros dentro dessa geração, e sugerem mudanças sociais de longo prazo.
A pesquisa, que cobre dados dos Estados Unidos e Reino Unido, aponta que 44% das mulheres da Geração Z afirmam adotar valores progressistas, enquanto apenas 31% dos homens da mesma faixa etária se identificam com essas pautas — uma diferença de 13 pontos percentuais. Essa lacuna vem crescendo nas últimas duas décadas, refletindo um processo acelerado de polarização ideológica que leva a transformações culturais profundas.
Historicamente, no início dos anos 2000, o distanciamento ideológico entre os gêneros na juventude era mínimo. No entanto, dados do FT mostram que desde 2012 observa-se um salto significativo: enquanto a identificação com pautas de esquerda entre jovens do sexo feminino aumentou em 20%, os homens da mesma faixa etária mantiveram-se praticamente estáveis em relação a essas pautas.
Além disso, o estudo indica que essa mudança vai além de temas como o meio ambiente e a igualdade de gênero. As mulheres da Geração Z são mais propensas a apoiar maior intervenção estatal na economia e nas políticas sociais, em contraste direto com seus pares masculinos, que tendem a aderir menos a essas visões.
O impacto dessa divisão se torna visível nas redes sociais e na cultura pop, onde influenciadoras como Greta Thunberg exercem grande poder de mobilização. Thunberg, que se tornou um ícone global aos 15 anos e hoje, com 21, representa uma postura anticapitalista e ambientalista da Geração Z feminina. Greta publicamente adotou ideologias que questionam o crescimento econômico e defendem a “desaceleração” como uma solução para a crise climática, espelhando um sentimento que encontra ressonância entre jovens mulheres progressistas.
Esse fenômeno encontra seu contrapeso entre os homens da Geração Z, muitos dos quais resistem ao discurso esquerdista e encontram inspiração em figuras como CJ Pearson, jovem conservador norte-americano que defende uma menor dependência do Estado e valores de autossuficiência. Pearson, que já ocupou posições de destaque na juventude republicana dos EUA, reflete uma visão política que privilegia o individualismo e a responsabilidade pessoal, em oposição às pautas progressistas que buscam maior presença estatal.
Essas diferenças ideológicas entre os gêneros da Geração Z também podem ser observadas no contexto familiar. Dados do Pew Research Center revelam que 23% das crianças nos Estados Unidos vivem em famílias monoparentais, em contraste com apenas 7% globalmente.
Esse cenário sugere uma transformação no papel do casamento e da concepção de família. Catherine Pakaluk, doutora em economia por Harvard e pesquisadora da Heritage Foundation, argumenta que, ao se transformar em uma instituição “auto-orientada” e menos compromissada com o coletivo, o casamento perdeu parte de sua função social essencial, fomentando um individualismo que fragiliza o tecido social.
A conexão entre mulheres solteiras e o progressismo
A ligação entre a esquerda e mulheres solteiras, especialmente jovens, revela-se essencial nesse processo de radicalização ideológica. Ao longo das últimas décadas, pesquisas demográficas e sociais têm evidenciado que mulheres solteiras, em especial aquelas que investem em educação e carreira, tendem a adiar o casamento e a maternidade, o que resulta em maior independência financeira e em um alinhamento ideológico estatista.
Essa independência favorece uma adesão a políticas que ampliam o acesso a redes de proteção social, assistência à saúde, educação pública e iniciativas de igualdade de gênero — temas fortemente associados a pautas progressistas.
Esse alinhamento com a esquerda vai além de uma simples escolha política: ele reflete um estilo de vida e uma visão de mundo que priorizam o bem-estar individual e a segurança coletiva por meio do suporte estatal.
Estudos conservadores, como os da Heritage Foundation, argumentam que o declínio do modelo familiar tradicional promove uma dependência das mulheres em relação ao Estado, substituindo papéis que antes eram exercidos pelo núcleo familiar.
Esse fenômeno, conhecido como “marriagelessness”, representa a transição para uma cultura onde o apoio social é transferido da família para o Estado, o que, segundo essas análises, pode gerar uma “cultura de isolamento” que enfraquece laços sociais.
Para muitas mulheres solteiras, o progressismo representa uma plataforma que reconhece e responde a desafios contemporâneos, oferecendo soluções que incluem maior flexibilidade no mercado de trabalho, uma rede de segurança social e igualdade de oportunidades — papéis que, de certa forma, substituem as funções antes centralizadas na família.
O Financial Times alerta que, enquanto as mulheres da Geração Z se engajam cada vez mais em causas sociais e ambientais, seus pares masculinos tendem a se afastar dessas pautas. O resultado é uma juventude marcada por contrastes ideológicos que apontam para uma divisão cultural cada vez mais acentuada, refletindo uma nova configuração das preferências políticas e sociais de acordo com o gênero.
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