Nós avisamos sobre Trump
Grande parte da imprensa americana — e, por consequência, a brasileira — sustentou uma série de ilusões ao longo da eleição americana
Donald Trump foi eleito para um segundo mandato na Casa Branca nesta quarta feira, 6 de novembro, quase dez meses depois da reportagem de capa de Crusoé, de 19 de janeiro de 2024, intitulada “Ele voltou”.
Àquela época, o concorrente do ex-presidente republicano era o atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que acabou deixando a corrida eleitoral no meio do caminho, após seus aliados constatarem o que O Antagonista também já vinha dizendo: o democrata não tinha mais condições físicas de concorrer.
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Grande parte da imprensa americana — e, por consequência, a brasileira — optou, contudo, por sustentar uma série de ilusões ao longo do processo eleitoral. Com um agravante: isso já tinha ocorrido na primeira eleição de Trump, em 2016, quando derrotou Hillary Clinton.
Embora boa parte do noticiário namorasse a ideia de ver Kamala Harris, uma política pré-moldada etnicamente pelo Partido Democrata para compor a chapa de Biden em 2020, comandar a Casa Branca, nós apontávamos uma questão decisiva para a vitória de Trump, além do desgaste democrata com as políticas de imigração.
A economia
“Se é a economia o fator principal que define as eleições, então é preciso entender, primeiro, o que está acontecendo nos Estados Unidos”, dizia a reportagem de Crusoé em 19 de janeiro.
O texto segue assim: “A principal questão nesse ponto é que os bons índices macroeconômicos da gestão Biden ainda não se traduziram em uma melhor qualidade de vida para os americanos. A inflação anualizada caiu de 7,1%, em julho de 2022, para os atuais 3,4%. É uma ótima notícia, mas que não tem sido muito comemorada por lá”.
O economista americano Michael Walden, professor da Universidade Estadual da Carolina do Norte, explicava na reportagem: “Outro problema é que, embora os rendimentos das famílias tenham aumentado nos últimos anos, eles não subiram o suficiente para compensar a inflação dos preços. Isso quer dizer que a quantidade de produtos e serviços que uma família média pode adquirir hoje ainda é menor do que ela comprava no início de 2021 ou em 2020”.
Não era verdade
Enquanto os americanos se preparavam para ir às urnas de olho no próprio bolso, a imprensa americana e seus replicadores chamavam a atenção para questões menos relevantes ou menores, como resumiu o estrategista político Scott Jennings, ex-assessor de George W. Bush, em análise que viralizou:
“Nos disseram que Porto Rico iria mudar a eleição, Liz Cheney, eleitores de Nikki Haley, mulheres que mentiam para seus maridos [sobre o voto]. Antes, que era Tim Walz e os bonés. Noite após noite, nos disseram que todas essas coisas e truques iriam de alguma forma empurrar Harris além da linha, e estávamos apenas ignorando as questões fundamentais, a inflação, as pessoas sentindo que mal conseguiam se manter com água, na melhor das hipóteses”, enumerou.
Eleitor de Kamala, o empresário Sean Johnson viralizou com outra análise, mais sucinta, que expõe como se tornou inócuo o fantasioso discurso contra a “extrema direita” e a “ameaça à democracia”, que a esquerda brasileira já deu sinais de que vai continuar sustentando por aqui mesmo após a surra nas eleições municipais.
“Votei nela. Acho que ele é um cara mau. Mas se você perde o Senado, a Câmara, o colégio eleitoral E o voto popular, e você acha que a lição é que metade do país é racista, sexista, homofóbica, transfóbica e estúpida… lição errada. E a mesma coisa provavelmente ocorrerá em 2028”, alertou Johnson, professor da Kellogg School of Management.
A realidade
Trump tem defeitos evidentes, como O Antagonista e Crusoé já destacaram e vão seguir destacando sempre que necessário. Não há por que negar as falhas morais do presidente eleito dos Estados Unidos, mas elas não justificam a tentativa de mascarar a realidade na esperança de alterá-la magicamente.
No editorial que escreveu para explicar por que seu The Washington Post não endossaria nenhum candidato na eleição deste ano, o bilionário Jeff Bezos disse que “os americanos não confiam na mídia”. Parte da desconfiança se justifica por essa dificuldade, deliberada ou não, de expor a realidade dos fatos.
O compromisso de O Antagonista e Crusoé com seus leitores é continuar se atendo aos fatos, por mais inconvenientes que eles possam soar.
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