O ex-presidente Barack Obama, em evento em Milwaukee, afirmou que nenhum judeu americano deveria confiar em alguém “que se encontrou com negacionistas do Holocausto” e “disse que havia pessoas muito boas em ambos os lados de um comício supremacista branco”.

A declaração foi direcionada a Donald Trump, mas omite um contexto importante da fala do ex-presidente republicano sobre os eventos de Charlottesville, em 2017, e mostra o clima de vale-tudo na reta final da campanha eleitoral.

Após uma violenta manifestação no estado da Virgínia, onde grupos supremacistas brancos e manifestantes contrários se enfrentaram nas ruas, Trump foi criticado pela imprensa ao mencionar que havia “pessoas muito boas em ambos os lados”. Contudo, no próprio discurso, ele especificou claramente que não se referia aos neonazistas e nacionalistas brancos, que, segundo ele, “deveriam ser condenados totalmente”.

Trump enfatizou que suas palavras se aplicavam às pessoas que protestavam pacificamente contra a retirada de uma estátua de Robert E. Lee, um general confederado, destacando que “não estava falando dos supremacistas”.

A mídia sabia do contexto completo na época, já que as declarações eram públicas, numa coletiva de imprensa oficial da presidência, mas optou por distorcer deliberadamente as falas de Trump. Até veículos como o The New York Times, radicalmente opositor a Trump, reconheceram a presença de manifestantes pacíficos em Charlottesville, que não compactuavam com a ideologia supremacista.

A polêmica sobre as declarações de Trump e sua suposta simpatia por grupos de ódio foi usada amplamente por seus críticos e se tornou uma narrativa recorrente nas eleições. O episódio ilustra como, em um ambiente polarizado, falas são frequentemente distorcidas, criando divisões que são exploradas politicamente.

O uso de uma leviandade desta magnitude por Obama, na reta de final de campanha, mostra a sua certeza de impunidade e blindagem, que ajudam a entender a queda de credibilidade dos veículos tradicionais de comunicação.