Washington Post aponta ambiguidades de Lula sobre queimadas
Após citar trechos do discurso de Lula, a matéria publicada no Washington Post aponta que “a fiscalização foi prejudicada por uma greve de seis meses Ibama
O jornal Washington Post publicou em seu site, na terça-feira, 24 de setembro, um texto produzido pela agência de notícias Associated Press com o seguinte título: “Lula fala sobre clima na ONU, mas incêndios na Amazônia minam sua mensagem”
Lula apelou para que o mundo faça mais para combater as mudanças climáticas e chegou a mencionar os incêndios que devastam a floresta tropical em casa mas mencionou “o fato de que eles estão aumentando as críticas à administração ambiental de sua própria administração”, diz a matéria. O texto segue expondo os dados alarmantes da nossa situação climática:
“A Amazônia brasileira viu 38.000 incêndios no mês passado, o maior número para qualquer agosto desde 2010, de acordo com dados do instituto espacial do país. Setembro está a caminho de repetir esse feito ignóbil. A fumaça tem sufocado moradores de muitas cidades, incluindo a metrópole São Paulo, que fica a milhares de quilômetros de distância.”
Após citar trechos do discurso de Lula, a matéria publicada no Washington Post aponta que “a fiscalização foi prejudicada por uma greve de seis meses no regulador ambiental Ibama, que terminou em agosto — três meses depois de seu governo estar ciente do risco significativamente maior de incêndios em meio à seca histórica.”
O texto mostra também a contradição entre o discurso ambientalista de Lula e as políticas energéticas do seu governo:
“Ao mesmo tempo, membros de seu Gabinete apresentaram visões conflitantes sobre políticas ambientais e energéticas. E a retórica de Lula sobre explorar reservas de petróleo perto da foz do Rio Amazonas preocupou ambientalistas que querem que o Brasil conduza uma transição global para energia limpa. Este mês, ele prometeu pavimentar uma estrada na Amazônia que, segundo especialistas, impulsionará o desmatamento.”
“O líder climático que o mundo esperava não apareceu”
Esse conflito entre políticas ambientais e políticas energéticas no governo Lula foi motivo de crítica por parte do Observatório do Clima, que emitiu um comunicado com críticas a essa ambiguidade e também à dispersão discursiva que acabou apagando um pouco questão do clima:
“O clima foi apenas mais um tópico em uma longa lista de temas abordados por Lula, do recente conflito no Líbano à urgência de regular a inteligência artificial e o antigo clamor por reforma da ONU. O presidente prometeu entregar este ano uma meta climática… mas não ofereceu uma visão do que o Brasil pretende fazer como presidente da COP 30 (cúpula do clima) para acelerar a luta contra esta crise.”
A matéria traz também o comentário do consultor político brasileiro Thomas Traumann. Segundo ele, Lula não é mais o “campeão do meio ambiente” e a sua retórica sobre o clima já não soa como verdade. Ao comentar as queimadas no Brasil, Traumann não culpa totalmente o governo Lula, mas também não o inocenta: “Não podemos dizer que sua administração é culpada por todos esses incêndios. Mas parte disso nunca teria acontecido se a greve do Ibama não tivesse durado tanto tempo”, conclui.
Preservar a Amazônia ou explorar petróleo?
Na terça-feira, 23, Lula se encontrou com o secretário-geral da ONU, António Guterres, para discutir a cúpula climática COP-30 do ano que vem na cidade amazônica de Belém. E falando com líderes globais na Assembleia Geral, Lula manteve seu tom desafiador sobre as mudanças climáticas, buscando responsabilizar as nações desenvolvidas.
O texto da Associated Press não deixou de apontar que “seu apelo pela redução de emissões contrastou com os comentários do ministro da Energia, Alexandre Silveira, em uma conferência sobre petróleo no Rio de Janeiro na segunda-feira, dizendo que o Brasil explorará reservas de petróleo offshore perto da Amazônia.”
“Não podemos e não desistiremos de conhecer o verdadeiro potencial petrolífero do país. Enquanto houver demanda por gás e petróleo, o Brasil seguirá esse mercado”, disse o ministro de Lula.
A ambientalista Tica Minami disse durante um protesto do lado de fora da conferência do petróleo que o governo Lula “enviou sinais conflitantes em suas políticas.”
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