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“Eu sou racista?”

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Alexandre Borges
6 minutos de leitura 20.09.2024 07:48 comentários
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“Eu sou racista?”

Jason L. Riley, jornalista negro especialista em questões raciais nos EUA, comenta o novo documentário de Matt Walsh que expõe a indústria da diversidade, equidade e inclusão (DEI)

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Alexandre Borges
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“Eu sou racista?”
Foto: Divulgação

No artigo “Um novo filme hilário questiona: ‘Eu sou racista?'”, publicado no The Wall Street Journal, o colunista e escritor Jason L. Riley analisa o documentário de Matt Walsh (trailer abaixo), que tem como alvo a indústria da diversidade, equidade e inclusão (DEI) nos Estados Unidos.

Robin DiAngelo, conhecida por seu best-seller Fragilidade Branca e uma das vozes mais influentes na defesa das políticas de DEI, é duramente criticada no filme e, conforme Riley destaca, opôs-se publicamente à produção. O colunista sugere que as críticas de Robin DiAngelo estão enraizadas mais em questões financeiras do que em preocupações legítimas, já que ela cobra “15 mil dólares por cerca de duas horas de seu tempo” em consultorias.

O documentário, lançado em 13 de setembro de 2024, foi dirigido por Justin Folk e produzido por Walsh junto com o estúdio The Daily Wire. Com orçamento de 3 milhões de dólares, o filme já arrecadou 6,07 milhões de dólares, se tornando um dos maiores sucessos no gênero de documentários satíricos da última década.

A trama segue Walsh em sua jornada para entender se ele próprio é racista, usando o humor e a sátira para desmascarar as contradições do setor de DEI. Em uma das cenas mais emblemáticas, Walsh convence pedestres a assinar uma petição para renomear o Monumento a Washington como “Monumento George Floyd”, elevá-lo em 30% e pintá-lo de preto — uma crítica clara às políticas de justiça racial defendidas por muitos especialistas em DEI.

Riley aponta que o filme não busca apenas fazer rir, mas expor a natureza do que ele descreve como uma “indústria milionária”, na qual os profissionais lucram com a perpetuação de divisões raciais. Ao longo do filme, Walsh, disfarçado de um “consultor DEI trapalhão”, entrevista especialistas sem confrontá-los diretamente, permitindo que se desacreditem por conta própria. Para Riley, o documentário revela “que a indústria DEI é algo como um esquema”, questionando a eficácia real dessas iniciativas em melhorar as relações raciais e sociais.

A crítica central do documentário é reforçada por dados apresentados por Riley, que cita um estudo publicado em 2012 no Harvard Business Review. Segundo esse levantamento, “um estudo de 829 empresas ao longo de 31 anos mostrou que os treinamentos de diversidade não têm efeitos positivos no ambiente de trabalho” e que milhões de dólares são gastos anualmente em programas que “não alteram comportamentos nem melhoram a diversidade”.

O filme também menciona uma pesquisa de 2018 dos sociólogos Frank Dobbin e Alexandra Kalev, que concluíram que o treinamento contra preconceitos “não reduz o preconceito, não altera comportamentos nem aumenta a diversidade gerencial”.

O sucesso de público de “Eu sou racista?” foi imediato, com o filme alcançando uma impressionante nota de 99% no Rotten Tomatoes, baseada nas avaliações do público. Walsh, em artigo publicado no The Daily Wire no dia 17 de setembro, criticou a ausência de críticas de veículos tradicionais como Time, The New York Times e Rolling Stone.

De acordo com Walsh, esses críticos estão evitando discutir o filme porque ele questiona a narrativa dominante em torno da DEI. Ele afirmou que “se o filme fosse ruim, os críticos fariam fila para destruí-lo, mas, como é eficaz, preferem ignorá-lo”.

Walsh também apontou a hipocrisia no tratamento dado a outros filmes lançados no mesmo fim de semana, como The Killer’s Game, que recebeu 30 críticas, mesmo tendo uma pontuação de 38% no Rotten Tomatoes, e arrecadado apenas 2,6 milhões de dólares — menos que “Eu sou racista?”, que atingiu 4,5 milhões de dólares em sua estreia. Outro exemplo é o filme My Old Ass, que teve uma exibição limitada em sete cinemas, arrecadando apenas 170 mil dólares, mas também recebeu dezenas de avaliações de críticos.

Segundo Walsh, os críticos “estão aterrorizados” com seu filme porque ele “exige que o público questione a validade da indústria DEI”, que, na visão do cineasta, só se mantém relevante se ninguém puder desafiá-la. Ele cita como exemplo o fechamento de um cinema na Califórnia que cancelou as exibições do documentário após “pressões da comunidade”.

A justificativa oficial do cinema mencionava preocupações com “a segurança dos funcionários”, mas Walsh ironiza essa decisão, afirmando que o verdadeiro motivo foi o medo da reação dos ativistas de esquerda. “A esquerda moderna é intelectualmente falida”, escreveu Walsh, acrescentando que “eles não podem defender suas ideias com argumentos reais, então recorrem a ameaças e histeria”.

Riley também ressalta no artigo que Walsh explora o contraste entre o movimento dos direitos civis — que buscava a igualdade por meio de políticas que transcendiam o racismo — e os atuais defensores da DEI, que insistem na necessidade de focar nas diferenças raciais.

Para ele, pensadores como Ibram X. Kendi, que defendem que “o único remédio para a discriminação passada é a discriminação presente”, estão perpetuando divisões raciais ao invés de promover justiça. Nas palavras de Walsh, o problema com a abordagem da DEI é que “se o foco principal não é acabar com o preconceito racial, mas apenas mudar a cor de quem o recebe, você não está buscando justiça, está buscando vingança”.

Por fim, Riley conclui que o filme de Matt Walsh se destaca não apenas pelo humor afiado, mas também pela sua capacidade de fazer o público refletir sobre questões que geralmente são tratadas de forma unilateral.

O sucesso de “Eu sou racista?” nos cinemas, mesmo sem o apoio da crítica tradicional, sugere que há uma demanda crescente por conteúdos que desafiem a ortodoxia atual em temas de raça e identidade.

Quem é Jason L. Riley

Jason L. Riley é jornalista e colunista do The Wall Street Journal, especializado em política americana, questões raciais e políticas públicas. Autor de livros como Please Stop Helping Us, onde critica as políticas de ação afirmativa, Riley é uma das principais vozes conservadoras no debate sobre igualdade racial nos Estados Unidos.

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