Papa Francisco celebra avanços com a China, apesar de críticas
A declaração foi feita em uma conversa com a imprensa durante o voo de retorno de Singapura a Roma
O Papa Francisco declarou estar “feliz” com o diálogo entre o Vaticano e o governo chinês, afirmando que “até mesmo para a nomeação de bispos se trabalha com boa vontade”.
A declaração foi feita em uma conversa com a imprensa durante o voo de retorno de Singapura a Roma. Embora o acordo entre as partes, firmado em 2018, tenha sido alvo de críticas, o pontífice demonstrou otimismo em relação aos avanços concretos alcançados nas relações com a China.
Entre os progressos mencionados, destaca-se o fato de que, desde a assinatura do acordo provisório em 22 de setembro de 2018, todos os bispos católicos da China estão em plena comunhão com o Papa, eliminando as ordenações ilegítimas que ocorriam desde os anos 1950. Além disso, nove novas ordenações episcopais foram realizadas e oito bispos não oficiais, que antes não eram reconhecidos pelas autoridades chinesas, tiveram sua situação regularizada.
Esses avanços têm proporcionado uma maior estabilidade na vida eclesial na China, com bispos chineses participando de Assembleias do Sínodo dos Bispos em Roma, além de católicos do país que puderam participar de eventos internacionais como a Jornada Mundial da Juventude. O número de dioceses vagas também tem diminuído, o que sinaliza um fortalecimento da comunhão entre a Igreja chinesa e o Vaticano.
Apesar dos avanços, o acordo enfrenta críticas, especialmente de setores que consideram a política de Francisco muito conciliadora em relação ao governo chinês. Há também preocupações sobre a liberdade religiosa no país, que permanece sob forte controle estatal.
O Papa, no entanto, defende que o diálogo com a China é uma necessidade pragmática para garantir a validade e eficácia dos sacramentos e manter a missão apostólica da Igreja. Ele reforçou que a tarefa da Santa Sé é apoiar os católicos chineses em sua fé e comunhão com Roma, sem buscar afirmação política.
Perseguição aos católicos na China
A história da Igreja Católica na China é marcada por uma longa trajetória de perseguições e tensões, que remonta ao século XVII, quando os missionários jesuítas chegaram ao país. Desde então, a relação entre a Igreja e o governo chinês passou por fases de tolerância, repressão e, mais recentemente, tentativas de diálogo.
A virada mais drástica ocorreu após a Revolução Comunista de 1949, quando o governo chinês, sob o comando de Mao Tsé-Tung, passou a perseguir severamente as religiões, especialmente o cristianismo.
Em 1951, o Vaticano rompeu relações diplomáticas com a China, após a expulsão de missionários estrangeiros e a criação da Associação Patriótica Católica, controlada pelo Estado. Essa entidade passou a supervisionar os fiéis e a nomear bispos sem a aprovação papal, o que resultou na divisão da Igreja entre uma “oficial”, reconhecida pelo governo, e outra “clandestina”, fiel a Roma.
Nas décadas seguintes, especialmente durante a Revolução Cultural (1966-1976), a repressão religiosa se intensificou, com o fechamento de igrejas, prisão de clérigos e destruição de símbolos religiosos. Mesmo com a gradual abertura econômica do país a partir dos anos 1980, a liberdade religiosa continuou restrita, e o controle estatal sobre a Igreja permaneceu rígido.
A assinatura do Acordo Provisório entre o Vaticano e a China em 2018 foi um marco importante nessa história. Embora tenha enfrentado críticas, o pacto é visto como um esforço para curar as feridas do passado, possibilitando a nomeação conjunta de bispos e pondo fim às ordenações ilegítimas.
Mesmo assim, a perseguição a líderes religiosos e a monitorização de igrejas ainda ocorrem, refletindo as dificuldades do governo chinês em conciliar o controle estatal com a autonomia da Igreja Católica.
O diálogo atual busca superar décadas de desconfiança e violência, mas a plena liberdade religiosa na China continua sendo um desafio que o Vaticano enfrenta com cautela e pragmatismo.
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