Como usar o “mas…” no caso da cadeirada
Não vejo como relativizar ou desculpar o comportamento de Datena; há um remédio civilizado para crimes contra a honra: uma boa ação penal
A maior parte das reações ao episódio da cadeirada de José Luiz Datena em Pablo Marçal vem da seguinte forma: “Datena errou, mas Pablo Marçal…”.
Segue-se então uma lista das provocações de Marçal, das suas grosserias, acusações sem provas e desejo de atrair atenção a qualquer custo.
Num momento em que o Brasil discute incessantemente a liberdade de expressão, acho inaceitável que se tente dar o mesmo peso às agressões verbais e às físicas.
É preciso ressaltar, em vez de apagar cada vez mais, a fronteira entre as duas coisas.
Defesa da honra
No contexto de um debate político, é ainda mais importante estabelecer essa diferença, em vez de recorrer a desculpas como “não se pode exigir sangue de barata de fulano”.
Ou como a “defesa da honra”, que tem sido utilizada há milênios para justificar todo tipo de violência. Há um remédio civilizado para crimes contra a honra: uma boa ação penal.
Quem vai a um debate político sabe que seus adversários tentarão apresentá-lo sob a pior luz possível. Tentarão revelar o pior a seu respeito. Eventualmente, contarão mentiras.
Se a pessoa reage com agressão física em um evento desse tipo, fará o que se tiver o poder nas mãos?
Autocontrole é, sim, uma virtude necessária para quem governa. Gente desprovida de autocontrole não deveria sequer ser cogitada para ocupar cargos públicos. É prenúncio de tormenta.
Sem relativização
Não vejo como relativizar ou desculpar o comportamento de Datena.
Segundo a Lei dos Juizados Especiais, a lesão corporal leve sofrida por Marçal – sua costela foi trincada quando Datena o atingiu com a cadeira – é um crime de ação pública condicionada.
O que isso significa? Que a ação penal depende de uma representação da vítima para começar. Mas, depois disso, o Ministério Público assume a causa e tem de ir até o fim.
Como Marçal já fez a representação, é por aí que o caso deve seguir.
Esta é uma história em que o “mas…” só pode funcionar numa direção – e não é a que procura atenuar a gravidade do que fez o candidato Datena.
Assim:
Pablo Marçal aposta o tempo todo na confusão e na ofensa, engambela os eleitores com propostas absurdas, tem histórias duvidosas no passado e no presente. Mas… nada justifica a agressão que sofreu.
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