Cadeirada ressuscita Datena
Outrora tachado de fascista pela esquerda por defender a polícia, Datena agora é comemorado pela agressão a Marçal
A cadeirada que Datena deu em Pablo Marçal no debate da TV Cultura ressuscitou a sua imagem de forma inesperada. Mas vamos esclarecer: não se trata de achar certo ou errado, e sim de entender um fenômeno. O público brasileiro, ao contrário do mito de ser pacífico, tem um gosto pelo discurso violento. A violência se tornou um espetáculo que, para muitos, lava a alma. Quem não gosta de Pablo Marçal provavelmente sentiu um certo prazer com a cena da cadeirada, um sentimento que os alemães chamam de “Schadenfreude” — o prazer de ver quem você não gosta se dar mal.
E é aqui que a coisa fica perigosa: Datena, outrora tachado de fascista pela esquerda por defender a polícia, agora é comemorado por uma parte dessa mesma esquerda que vibrou com a agressão a Marçal. O cinismo chegou a tal ponto que a linha entre agressão física e verbal se borrou no imaginário coletivo, como se fossem a mesma coisa. Não são. O público gosta de quem humilha, seja na TV, seja nas redes sociais. É por isso que influencers ganham espaço, não pelo conteúdo mas pelo ódio direcionado a alvos específicos.
Marçal, por outro lado, tentou transformar a agressão em um espetáculo próprio, saindo para o hospital, mas a dissonância foi evidente. Afinal, ele é o mesmo que incitava seus seguidores a “dar um soco na cabeça do tubarão” e que chamava os outros de frouxos por não nadarem com cobras. Quando ele toma uma cadeirada de um senhor idoso e faz cena de hospital, algo não bate com a imagem de durão que ele construiu. Datena, por sua vez, não chamou para um duelo justo; atacou de maneira inesperada, quase pelas costas. É uma ação que, em culturas onde brigas corporais são comuns, seria vista como covardia.
Esse cenário reflete uma sociedade adoecida, onde a violência virou centro dos debates políticos. E por quê? Porque o público gosta. Na política, isso se torna um jogo de quem consegue ser mais violento, mais agressivo, mais reativo. É uma espiral que desce cada vez mais para a lama moral, não só na política, mas em todas as esferas de liderança.
Nenhum grupo de primatas evolui com uma liderança reativa ou violenta. O macho alfa, de fato, é quem mantém o grupo unido com autoridade, não com reações descontroladas. Mas na nossa sociedade, o conceito de “ser homem” se perdeu em atos de covardia mascarados de bravura. O confronto de Datena e Marçal, com a troca de ofensas e cadeiradas, reflete essa distorção: o que é ser homem? É bater? É ser reativo? A resposta deveria ser muito mais profunda do que isso.
Nosso desafio agora é sair dessa lama. Agressividade e violência como métricas de liderança não nos levarão a um país melhor, seja pela direita ou pela esquerda. Precisamos de uma bússola moral clara para avaliar o certo e o errado, independente de quem está envolvido. Enquanto continuarmos aplaudindo o espetáculo da violência, vamos escolher lideranças descontroladas em todas as áreas: na política, nas empresas, no entretenimento. A mudança começa com o eleitor, com o cidadão comum, impondo respeito e exigindo mais do que show e agressão. Precisamos de líderes que façam a diferença pelo que constroem, e não pelo risco que representam. E só quando entendermos isso, talvez, possamos virar a página para um futuro melhor.
Cadeirada ressuscita Datena
Outrora tachado de fascista pela esquerda por defender a polícia, Datena agora é comemorado pela agressão a Marçal
A cadeirada que Datena deu em Pablo Marçal no debate da TV Cultura ressuscitou a sua imagem de forma inesperada. Mas vamos esclarecer: não se trata de achar certo ou errado, e sim de entender um fenômeno. O público brasileiro, ao contrário do mito de ser pacífico, tem um gosto pelo discurso violento. A violência se tornou um espetáculo que, para muitos, lava a alma. Quem não gosta de Pablo Marçal provavelmente sentiu um certo prazer com a cena da cadeirada, um sentimento que os alemães chamam de “Schadenfreude” — o prazer de ver quem você não gosta se dar mal.
E é aqui que a coisa fica perigosa: Datena, outrora tachado de fascista pela esquerda por defender a polícia, agora é comemorado por uma parte dessa mesma esquerda que vibrou com a agressão a Marçal. O cinismo chegou a tal ponto que a linha entre agressão física e verbal se borrou no imaginário coletivo, como se fossem a mesma coisa. Não são. O público gosta de quem humilha, seja na TV, seja nas redes sociais. É por isso que influencers ganham espaço, não pelo conteúdo mas pelo ódio direcionado a alvos específicos.
Marçal, por outro lado, tentou transformar a agressão em um espetáculo próprio, saindo para o hospital, mas a dissonância foi evidente. Afinal, ele é o mesmo que incitava seus seguidores a “dar um soco na cabeça do tubarão” e que chamava os outros de frouxos por não nadarem com cobras. Quando ele toma uma cadeirada de um senhor idoso e faz cena de hospital, algo não bate com a imagem de durão que ele construiu. Datena, por sua vez, não chamou para um duelo justo; atacou de maneira inesperada, quase pelas costas. É uma ação que, em culturas onde brigas corporais são comuns, seria vista como covardia.
Esse cenário reflete uma sociedade adoecida, onde a violência virou centro dos debates políticos. E por quê? Porque o público gosta. Na política, isso se torna um jogo de quem consegue ser mais violento, mais agressivo, mais reativo. É uma espiral que desce cada vez mais para a lama moral, não só na política, mas em todas as esferas de liderança.
Nenhum grupo de primatas evolui com uma liderança reativa ou violenta. O macho alfa, de fato, é quem mantém o grupo unido com autoridade, não com reações descontroladas. Mas na nossa sociedade, o conceito de “ser homem” se perdeu em atos de covardia mascarados de bravura. O confronto de Datena e Marçal, com a troca de ofensas e cadeiradas, reflete essa distorção: o que é ser homem? É bater? É ser reativo? A resposta deveria ser muito mais profunda do que isso.
Nosso desafio agora é sair dessa lama. Agressividade e violência como métricas de liderança não nos levarão a um país melhor, seja pela direita ou pela esquerda. Precisamos de uma bússola moral clara para avaliar o certo e o errado, independente de quem está envolvido. Enquanto continuarmos aplaudindo o espetáculo da violência, vamos escolher lideranças descontroladas em todas as áreas: na política, nas empresas, no entretenimento. A mudança começa com o eleitor, com o cidadão comum, impondo respeito e exigindo mais do que show e agressão. Precisamos de líderes que façam a diferença pelo que constroem, e não pelo risco que representam. E só quando entendermos isso, talvez, possamos virar a página para um futuro melhor.