Tio Barnabé: uma tipologia da fauna brasiliense
Vou tentar fazer uma tipologia do barnabé. Não é simples. Sei que podemos fazer várias. Farei a minha, idiossincrática.Existe o barnabé mesmo, aquele constantemente um coitado, criatura dos pequenos municípios, que arranjou uma boquinha depois de ficar horas balançando uma bandeira para algum político em época de eleição. Lotado em algum gabinete de Deputado ou Senador ou alguma repartição, não consegue acessar sequer o word e escreve gato com j e saudade com c (como no samba)...Agora chegou a minha vez!
Vou tentar fazer uma tipologia do barnabé. Não é simples. Sei que podemos fazer várias. Farei a minha, idiossincrática.
Existe o barnabé mesmo, aquele constantemente um coitado, criatura dos pequenos municípios, que arranjou uma boquinha depois de ficar horas balançando uma bandeira para algum político em época de eleição. Lotado em algum gabinete de Deputado ou Senador ou alguma repartição, não consegue acessar sequer o word e escreve gato com j e saudade com c (como no samba). Ganham um salário baixo, têm pouquíssima influência em assuntos relevantes, ficam por ali, meio deslocados, não são sequer acostumados com o chamado trabalho de escritório. Pode-se até dizer que ganham uma “bolsa” qualquer coisa, isto é, fazem parte daquela parcela que os estudiosos da desigualdade gostam de chamar de vulneráveis. Mas em épocas de eleição são aguerridos, às vezes tornam-se fanáticos e violentos.
Tem o barnabé baixo clero, uma turma que se subdivide em duas categorias: os que não tem jeito mesmo, pré-Constituição de 88 e não fizeram concurso e tiveram sua permanência assegurada pelo decurso de prazo. Eram faxineiros, copeiros, motoristas, que prestavam serviço ao Estado. Alguns são semianalfabetos que vagam pelos departamentos de escadas e corredores e somente causam prejuízo ao erário. Outros são os que entraram pela janela felicidade, como a famosa turma do trem da alegria do Moacyr Dalla de 1983, ex-presidente do Senado que efetivou mais de 1.500 pessoas naquela Casa Legislativa e ganham uma fortuna. Mais espertos, tem gente desse calibre que atingiu o ápice em suas respectivas carreiras e até se tornaram parlamentares ou Ministros de Tribunais Superiores. Acreditem! Não nominarei. A maior parte, todavia, não faz nada atualmente, pois tem adicionais diversos embutidos em suas remunerações. Nesse grande grupo o que se espera é a aposentadoria e o contribuinte brasileiro vai ajudá-los ainda durante muito tempo. São criaturas lacustres: habitantes dos Lagos sul e norte. Frequentam o Iate Clube (melhor clube de Brasília), tem o filho estudando na UnB de graça (aquele bônus do rent-seeking de que nos falava Mancur Olson e o Marcos Lisboa no Brasil não se cansa de repetir) e já matricularam o rebento em algum cursinho preparatório para concurso público.
Finalmente tem o barnabé alto clero, que, me perdoem, também pode ser dividido em categorias. Ambos têm uma característica em comum: passaram num concurso público! Por isso se julgam importantes. Concurso público que somente verifica a capacidade do sujeito para responder questões de muitas disciplinas de direito, o idioma pátrio, algum inglês, alguma informática e quase nada de economia. Concurso público que os chamados cursinhos preparatórios os adestram com milhares de questões recorrentes das chamadas bancas examinadoras. Nesses concursos passam, é claro, os loucos de todos gêneros. Também os cínicos e os perversos. Mas vamos lá para não confundir as criaturas.
Dos concursados, há aqueles que fazem atividades não típicas do Estado. Ganham muito para o que fazem. Poderiam ser perfeitamente terceirizados. Numa reforma do Estado vão perder a chamada estabilidade. São estafetas, amanuenses, escriturários de toda ordem, técnicos de nível médio. Hoje em dia, muitos são sobrecapacitados (em razão da atratividade da remuneração) para as atividades mecânicas, rotineiras, repetitivas que realizam. Os mais atilados continuam estudando para outros concursos na repartição. Os cínicos da categoria estão constantemente em licenças de saúde e não agregam muito valor ao trabalho. Repito: ganham bem. Modo geral, acima do mercado. Fazem parte da chamada “área-meio” das repartições. Mas não são a parte pensante. Apenas a executiva.
E há os de carreira de Estado. Cardeais. Topo da remuneração. Um belo espécime do Planalto Central. Habitante típico do Plano Piloto. Pode ser daqui mesmo, seguindo uma tradição familiar carioca ou oriundo de outros estados da federação.
São ótimos partidos. Devem fazer sucesso no Happn e no Tinder, quando solteiros ou descasados. Salário garantido. Férias no exterior também.
Mas nessa fauna, em grande parte dela, encontramos os perversos. São os caras que, depois de anos debruçados sobre as apostilas, os livros, a jurisprudência, depois de anos com a bunda amassada pelos bancos das bibliotecas e dos cursinhos preparatórios, depois de anos de finais de semana sem as festas com os amigos, finalmente entendem que podem ir à forra!
Essa turma entende que o cargo (o locus) lhes pertence. A premissa é a seguinte: agora chegou a minha vez!
A partir daí o roteiro é bem conhecido. Fazer o menos do mesmo. Dedicar-se com afinco ao tênis, à academia de ginástica, ao misticismo, àquela viagem ao Butão (e outras viagens exóticas para contar aos amigos). Alguns talentosos se tornaram Vinícius de Morais. Mas isso é outro tema, outra história e questão de genialidade. São pessoas com grande remuneração que não contribuem para a melhoria do Estado brasileiro. Ou porque não querem mesmo ou porque perderam o entusiasmo, pois a máquina burocrática, com suas “hidras regulamentaristas” et caterva, normalmente ancorados nos burocratas do direito administrativo mais pé de chinelo, não deixam.
Volto em outro momento para falar um pouco mais dessa turma.
Agora chegou a minha vez!
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