O beijo da morte de Janja
Foto com Anielle Franco publicada pela primeira-dama implodiu qualquer possibilidade de Silvio Almeida ficar no governo
Enquanto escrevo esta nota, o ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida continua no cargo. Mas ele já caiu.
O que me leva a dizer isso é a foto publicada por Janja em suas redes sociais. Nela, a primeira-dama beija a testa de Anielle Franco. A ministra da Igualdade Racial seria alvo de assédio sexual praticado pelo colega.
Em público, Anielle não confirma nem desmente a história. Mas a foto com Janja (uma imagem vale mais que mil palavras!) diz que ela precisa ser acolhida e consolada. Tacitamente, indica que não se deve pôr em dúvida a alegação de assédio: ele ocorreu.
Depois disso, como evitar a demissão de Almeida?
As mulheres estão com as mulheres
Seria preciso inventar alguma história mirabolante para desvincular a imagem publicada por Janja dos acontecimentos do dia. Ou dizer que a primeira-dama é uma paspalha que não sabia o que estava fazendo.
Para manter Almeida no cargo, Lula teria de desmoralizar tanto Anielle quanto Janja, comprando uma baita briga doméstica.
Nem passou pela cabeça dele fazer isso. Numa entrevista à rádio Difusora Goiânia no final da manhã desta sexta-feira (6), ele disse que a foto é “a demonstração inequívoca de que as mulheres estão com as mulheres”.
Esperança de acomodação
A primeira reação de Almeida, assim que o caso explodiu, foi posicionar-se como vítima de uma conspiração. “Há um ataque orquestrado pelo fato de eu ser negro”, disse ele.
Por trás da investida estaria a ONG Me Too Brasil, que afirma ter recebido denúncias, no plural, de comportamento indevido do ministro.
Almeida procurou escamotear o fato de que o nome de Anielle já estava ligado à denúncia. Talvez tivesse esperança de chegar a uma acomodação dentro do governo, transformando tudo em maldade da direita ou coisa do gênero.
A manifestação de Janja aniquilou essa possibilidade.
Lula não quer confusão
Durante a tarde, Lula vai conversar com Almeida, dando a ele a oportunidade de explicar-se. Vai também ouvir Anielle e outras ministras do seu gabinete. Nem é preciso dizer que a voz da primeira-dama está em seu ouvido.
São formalidades. Na mesma entrevista à rádio de Goiânia, o presidente disse que não quer confusão e que não vai permitir que o “erro pessoal” de algum integrante da equipe atrapalhe o governo.
Almeida já caiu. A questão agora é saber qual grupo político vai herdar o ministério dos Direitos Humanos.
PS:
Enquanto isso, Juscelino Filho (União-MA), ministro das Comunicações indiciado por corrupção pela PF, continua no governo…
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