A agonia da democracia francesa
A procrastinação em torno da nomeação de um primeiro-ministro revela a agonia da democracia francesa e uma profunda crise de regime
Segundo o ensaísta e historiador, Maxime Tandonnet, a França não está vivendo uma simples crise política, mas uma crise de regime: “os alicerces da Quinta República e, para além disso, os alicerces da República e da democracia francesa, estão em entrando em colapso”, afirma
O partido de extrema esquerda, La France Insoumise (LFI), lançou um procedimento pelo impeachment de Emannuel Macron que não tem hipóteses de sucesso.
Para além disso, “um profundo mal-estar democrático nasceu de uma dissolução percebida na França como um golpe de raiva contra o povo por ter ´votado mal´ nas eleições europeias.”
Desde 16 de julho a 4 de setembro, a França permanece sem governo. Um mês e meio sem primeiro-ministro ou ministros é um fato sem precedentes na Quinta República como, ao que parece, nas Repúblicas anteriores.
O bloqueio é total. A imagem da instituição presidencial está permanentemente manchada. Da mesma forma, o princípio da maioria presidencial, outro pilar do regime francês, no contexto de um sistema político-partidário destroçado, também pertence ao passado.
O resultado das últimas eleições legislativas talvez não seja acidental: a esquerda, mesmo unificada, com 28% dos votos, não consegue chegar à maioria, pois suas várias vertentes nada têm em comum além do ódio ao que chamam de “extrema direita”.
Já o Rassemblement National (RN) não atinge nem metade do número de deputados necessários para formar maioria.
Segundo analisa Tandonnet, “os partidos políticos atomizados, radicalizados, dilacerados por ódios neuróticos, são fundamentalmente incapazes de trabalhar em conjunto. Nenhuma perspectiva de maioria é possível hoje, nem hoje, nem provavelmente amanhã”.
Ultimo prego no caixão da democracia francesa
Depois de mil caminhos explorados, consultas e articulações, a escolha soberana do presidente está, segundo as últimas notícias, entre Xavier Bertrand (ex-ministro de direita do LR de Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy) e Bernard Cazeneuve (ex-ministro e primeiro-ministro socialista sob François Hollande).
Em suma, o chefe de Estado tem o poder de inclinar o governo francês para a esquerda ou para a direita.
O problema, segundo Maxime Tandonnet, é que o povo francês não terá palavra a dizer nesta escolha. A escolha do novo primeiro-ministro não corresponderá aos desejos expressos por mais de 80% dos franceses.
A conclusão do historiador e ensaísta é que “a democracia francesa – tal como a vida política deste país – precisa de ser repensada e reconstruída de A a Z”.
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