Galípolo no BC: além de ser confiável, tem de parecer confiável
Indicado de Lula para comando do Banco Central a partir do ano que vem tem que reconstruir credibilidade danificada pelo próprio petista
Os investidores ainda digerem a indicação oficial de Gabriel Galípolo para o comando do Banco Central a partir do ano que vem. O atual diretor de Política Monetária da autarquia e ex-número 2 do Ministério da Fazenda de Fernando Haddad tem adotado postura austera nas falas sobre o combate à inflação, mas os laços com o petismo ainda prejudicam a credibilidade do ungido de Lula.
Convidado à festa de Zé Dirceu em março deste ano, Galípolo não esconde o alinhamento com os principais atores do partido e costumava se referir a André Lara Rezende (defensor de ideia consideradas bastante heterodoxas) como grande inspiração em teoria econômica.
Além disso, a insistência das hordas petistas em plantar notas estabelecendo estratagemas complexos para explicar o alinhamento de Galípolo à ala mais conservadora do BC, desde a decisão dividida do Copom em maio, contribui para gerar ainda mais desconfiança.
A estridência do próprio Lula contra Roberto Campos Netos e os juro altos, segundo o petista, para “sabotar” o Brasil e prejudicar os mais pobres também corrobora a ideia. Não à toa, os investidores estrangeiros ecoam essas preocupações.
Em nota, o jornal inglês Financial Times destacava na quarta-feira, 28, a indicação de “uma aliado político” de Lula para comandar o BC. “Os investidores aguardam ansiosamente por sinais se Galípolo adotará uma abordagem mais relaxada “(de política monetária) ou manterá uma postura mais dura“, destaca o texto.
O custo da falta de credibilidade de Lula, herdada pelos indicados dele, é o tal prêmio de risco do mercado – que cobra por uma remuneração maior para correr os riscos de acreditar no presidente. No caso em questão, são os juros mais altos.
O problema agora é que as falas afetivas sobre a importâncias das aulas econômicas da Dona Lindu, mão do petistas, e os discursos recentes com “voz grossa” de Galípolo sobre o combate à inflação exigem ação prática.
Quando Lula e o petismo aloprado começaram agressão ao Banco Central e ao presidente da autarquia, Roberto Campo Neto, plantaram as condições que serão colhidas agora por todos os brasileiros.
A volta da alta dos juros foi contratada naquela época e será paga agora para tentar recuperar a credibilidade de Galípolo.
Após a amplamente antecipada confirmação do diretor de Política Monetária do BC como indicado à Presidência da autoridade monetária, os juros futuros – que refletem as precificações do mercado financeiro às expectativas das taxas em diversos prazos – subiram, indicando o desconforto com a cristalização daquilo que era, praticamente, uma garantia
O efeito certeza explica parte do movimento. Esse conhecido viés cognitivo faz com que as pessoas atribuam importância muito maior a resultados garantidos do que a possibilidade notadamente prováveis. Mas além disso, demonstra que o desconforte e a falta de confiança no BC de Lula – que a partir de janeiro de 2025, além do presidente da autarquia, terá maioria dos diretores indicados pelo petista – ainda haverá de provar que é confiável.
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