Irmãos Brazão “botam e tiram o delegado de onde quiserem”, diz Ronnie Lessa
Lessa também relatou que os Brazão mandavam destruir inquéritos com fogo, mas que a digitalização dos registros dificultou o processo
O ex-policial Ronnie Lessa (foto), que confessa ter assassinado a ex-vereadora carioca Marielle Franco, descreveu detalhes de como os irmãos Brazão, suspeitos de orquestrar o assassinato, supostamente corrompiam a Segurança Pública no Rio de Janeiro.
Em quatro horas de depoimento à Polícia Civil fluminense nesta terça-feira, 27 de agosto, Lessa afirmou que Domingos e Chiquinho Brazão transferiam delegados que não lhe eram subordinados.
“Porque a corrupção tá em todas as esferas, pô! Então, simplesmente, o delegado não quer fazer o que eles querem, tira ele, pô! É assim que funciona. E eles, na verdade, deixa eu só concluir aqui, eles, na verdade, tanto o Chiquinho quanto o Domingos, eles próprios têm essa bagagem. Eles mesmos botam e tiram o delegado de onde quiserem. Seria influência política, mas acho que eles precisavam exatamente disso. A gente tá lidando com a cúpula, tá?”, disse Lessa.
O ex-policial também relatou que inquéritos eram destruídos com fogo, mas que a digitalização dos registros dificultou o processo de acobertamento.
“Então, vai lá e fala com ele (policial) que tem um negócio assim assado pra andar ou tem um inquérito pra jogar fora. Agora, como digitalizou, tá mais difícil. Mas antes, era pegar inquérito, jogar debaixo do braço, jogar gasolina e tacar fogo. Era por aí. Funcionava. Então sumiam estantes inteiras de processos. Isso quando era físico. Então, depois que digitalizou, a coisa ficou um pouco mais difícil. O que eles fazem hoje? Eles podem tentar manipular o processo. O inquérito manipula, desvia pra outro foco, por aí. Mas, antigamente, não. Pegava o processo dessa grossura, um palmo de grossura, botava debaixo do braço, apertava a mão, deixava R$ 50 mil e ia embora”, afirmou.
Terrenos clandestinos
Em delação premiada, Ronnie Lessa afirmou que Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão, ofereceram a ele e ao ex-PM Edimilson de Oliveira, o Macalé, assassinado em 2021, dois loteamentos clandestinos na zona oeste do Rio para a instalação de uma milícia.
“Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de 20 milhões de dólares. A gente não está falando de pouco dinheiro (…) Ninguém recebe uma proposta de receber 10 milhões de dólares simplesmente para matar uma pessoa. Uma coisa impactante realmente”, disse o ex-policial em um trecho da delação exibido no domingo, 26, pelo Fantástico, da TV Globo.
Ronnie Lessa não afirmou à Polícia Federal quando começaria a ocupação dos loteamentos.
Sociedade com os Brazão
Na delação, o ex-PM revelou à PF a promessa de que faria parte de uma “sociedade” com os irmãos Brazão no empreendimento.
“A gente ia criar uma milícia nova. Então ali teria a exploração de gatonet, a exploração de kombis, venda de gás… A questão valiosa é depois. A manutenção da milícia que vai trazer voto”, afirmou.
“Então, na verdade, eu não fui contratado para matar Marielle, como um assassino de aluguel. Eu fui chamado para uma sociedade”, acrescentou.
Marielle tinha que “sair do caminho”
Lessa disse ainda que a vereadora Marielle Franco era considerada uma pedra no caminho pelos irmãos Brazão.
“Ela teria convocado algumas reuniões com várias lideranças comunitárias, se eu não me engano, no bairro de Vargem Grande ou Vargem Pequena [zona oeste carioca], justamente para falar sobre esse assunto, para que não houvesse adesão a novos loteamentos da milícia. Isso foi o que o Domingos [Brazão] passou para a gente. Que a Marielle vai atrapalhar e para isso ela tem que sair do caminho.”
Rivaldo Barbosa
Na delação, Ronnie Lessa contou que ainda Domingos Brazão teria afirmado que o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Delegacia de Homicídios do Rio, participava do plano e atuaria para protegê-los da investigação.
“Falaram o tempo todo que o Rivaldo estava vendo, que o Rivaldo do já está redirecionando e virando o canhão para outro lado, que ele teria de qualquer forma que resolver isso, que já tinha recebido para isso no ano passado, no ano anterior, ele foi bem claro com isso: ‘ele já recebeu desde o ano passado, ele vai ter que dar um jeito nisso’. Então ali, o clima já estava um pouco mais tenso, a ponto até mesmo na forma de falar”, disse.
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