Crusoé: A eleição no ouvido
Mesmo na era das redes sociais, o jingle —uma tradição brasileira por excelência— ainda é um queridinho das campanhas políticas
Candidatos em todo o país colocam, desde a semana passada, a bilionária máquina eleitoral pública na rua. Santinhos já indicam seus números, bandeiras são vistas nas principais avenidas das cidades brasileiras e os primeiros vídeos de campanha estão nas redes sociais. Ao mesmo tempo, o jingle começa a ecoar pelos ares — às vezes começa a ecoar tanto que acaba grudando no ouvido e se transforma, de fato, em símbolo de um candidato.
Em uma era de campanhas rápidas e conteúdos instantâneos, compositores e cantores trabalham não apenas para criar uma “musiquinha”, rápida e fácil de decorar, mas uma identidade sonora completa de um candidato, acompanhando todo tipo de conteúdo que o envolva.
O Brasil domina a arte do jingle há décadas e não são poucos os clássicos: o “Retrato do Velho”, marchinha tratada como uma das precursoras da tradição, impulsionou Getúlio Vargas nas eleições de 1950; em 1989, o retorno das eleições a presidente gerou uma explosão de composições, mas nenhuma tão eficaz quanto o “Lula Lá”. Quando os petistas reuniram celebridades para regravar a canção em 2022, havia uma concorrente à altura nos alto-falantes brasileiros: “O capitão do povo” exaltando Jair Bolsonaro. Em cidades grandes e pequenas, exemplos de jingles efetivos são ainda mais fartos, apelando a paródias muitas vezes não autorizadas pelos seus compositores.
“Nenhuma campanha do Brasil pode prescindir de música. O nosso povo é muito musical e muito emotivo e a música consegue contextualizar o sentido do que se quer fazer”, diz Felipe Soutello, marqueteiro que atuou nas campanhas de Bruno Covas (PSDB) a prefeito de São Paulo em 2020 e de Simone Tebet (MDB) em 2022.
No caso da presidenciável, a canção tinha uma missão: em 97 segundos, uma voz feminina apresentou a história de um nome não conhecido nacionalmente, seus valores, seus planos — e claro, colou o nome quantas vezes fosse esteticamente possível em uma música sertaneja leve, típica do Mato Grosso do Sul onde a atual ministra do Planejamento começou a carreira política, sob as bênçãos do pai.
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