Marçal põe à prova sua medalha de "imbrochável" Marçal põe à prova sua medalha de "imbrochável"
O Antagonista

Marçal põe à prova sua medalha de “imbrochável”

avatar
Rodolfo Borges
5 minutos de leitura 25.08.2024 13:24 comentários
Análise

Marçal põe à prova sua medalha de “imbrochável”

O constrangimento imposto por Pablo Marçal à família Bolsonaro é ser bolsonarista demais, mais até do que o próprio Jair está se permitindo nesta campanha municipal

avatar
Rodolfo Borges
5 minutos de leitura 25.08.2024 13:24 comentários 0
Marçal põe à prova sua medalha de “imbrochável”
Foto: Reprodução

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem o apoio declarado de Jair Bolsonaro na tentativa de se reeleger em São Paulo. Até ganhou uma medalha de “imbrochável”, “imorrível” e “incomível” (foto). Mas as palavras usadas pelo ex-presidente ao entregar a condecoração a Nunes não foram exatamente essas, e isso dá a dimensão da distância entre o prefeito e seu desafiante Pablo Marçal (PRTB), que recebeu a honra ao mérito bolsonarista antes dele.

Leia também: Bolsonaro é um cabo eleitoral ruim ou Nunes é um produto complicado?

Quando entregou a medalha a Nunes, o ex-presidente substituiu dois dos três “is” do “Clube do Bolsonaro”. Sobrou apenas o “imorrível” da condecoração original. As outras duas palavras, mais vulgares, foram substituídas por “insubstituível” e “inigualável”.

Marçal não impõe esse tipo de constrangimento ao ex-presidente, mas outro: hoje, o ex-coach é bolsonarista até demais, mais até do que o próprio Bolsonaro e sua família estão se permitindo nesta campanha municipal.

Após o candidato do PRTB monopolizar as atenções nos primeiros debates de São Paulo e aparecer subindo em pesquisa, o ex-presidente Jair e o deputado federal Eduardo (PL-SP) passaram a marcar posição contra Marçal — o vereador Carlos (PL-RJ) já tinha rebatido o antigo aliado nas redes sociais, por críticas pela sua atuação na campanha do pai em 2022.

Assine Crusoé e leia mais: Guerra nas redes

Valdemar Costa Neto

Em suas respostas públicas, Marçal toma o cuidado de não confrontar a essência do bolsonarismo, e principalmente a figura do patriarca, que ele defende como futuro presidente da República. O candidato à Prefeitura de São Paulo faz o contrário: joga na cara dos antigos aliados que quem mudou não foi ele.

“Entendo sua palavra ao Valdemar Costa Neto, mas a honra e a gratidão são frutos de um homem sensato”, disse Marçal em resposta à mensagem em que o perfil de Bolsonaro no Instagram pôs em questão se existia um “nós” entre os dois. Quer dizer, o Bolsonaro que não se curvava aos conchavos partidários (pelo menos no discurso) ficou para trás, e ele próprio admitiu isso ao lamentar que Nunes não é seu candidato dos sonhos, dando início aos embates púbicos que se seguiram.

O nome do presidente nacional do PL, responsável por costurar o apoio pela reeleição de Nunes e pela ambiciosa meta de conquistar mais de mil prefeituras Brasil afora, apareceu em outra mensagem de Marçal, desta vez dirigida a Eduardo Bolsonaro no X: “O Valdemar Costa Neto não representa o anseio dos conservadores de São Paulo. Você será o nosso Senador por São Paulo. Pra cima irmão”, escreveu o ex-coach.

Redes suspensas

Nesse contexto, a suspensão das redes sociais de Marçal se presta perfeitamente ao discurso de rejeitado pelo sistema. O fato de ele estar possivelmente burlando as regras eleitorais, ao se beneficiar de uma rede de distribuidores de conteúdo remunerada e não declarada, segundo alegação considerada pelo Ministério Público Eleitoral, virou um detalhe na corrida por votos.

Os eleitores de Marçal tentam rotular como censora a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), cujo partido questionou formalmente a estratégia de comunicação do ex-coach. É uma clara e conveniente reação à adversária que chegou mais perto de machucar o grande destaque da campanha até agora, ao associá-lo ao PCC usando métodos do próprio Marçal.

Por enquanto, o ex-coach se esquiva de Tabata, sem confronto direto, tratando a adversária como irrelevante, a partir do que indicam as pesquisas de intenção de voto. E o fato é que, de um dia para o outro, seu perfil alternativo no Instagram reuniu dois milhões de seguidores, desmoralizando a determinação da Justiça eleitoral.

Quem é mais bolsonarista?

Uma análise publicada por Yuri Sanches, chefe de Risco Político da AtlasIntel, instituto que registrou primeiro a influência dos debates protagonizados por Marçal nas intenções de voto da capital paulista, traduz em números o tamanho do buraco no qual a família Bolsonaro se meteu com a candidatura de Marçal:

“Na pesquisa Atlas de 08/08, Nunes tinha 55% do eleitorado de Bolsonaro em São Paulo em 2022, enquanto Marçal tinha 25%. Hoje, Marçal vira o jogo: conquista 42% do eleitorado bolsonarista e Nunes caiu para 39%. Está em jogo a influência política de Bolsonaro sobre sua própria base.”

A pesquisa Datafolha que confirmou a ascensão de Marçal captou o mesmo fenômeno. O ex-coach passou de 18% para 30% nas intenções de voto dos evangélicos, enquanto Nunes recuou de 26% para 22%. Entre os eleitores de Bolsonaro em 2022, o salto de Marçal foi de 25% para 46%.

As próximas pesquisas apontarão a relevância dos atritos públicos entre Marçal e os Bolsonaro para esta eleição. É difícil imaginar que a criatura ganhará esse embate contra o criador, mas já está evidente que a família do ex-presidente sairá politicamente ferida desta campanha, e em sua essência.

Leia mais: Pablo Marçal roubou o bolsonarismo de Bolsonaro

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Como usar o "mas..." no caso da cadeirada

Visualizar notícia
2

MP Eleitoral investiga cadeirada de Datena em Marçal

Visualizar notícia
3

Datena x Marçal: a cadeirada indefensável

Visualizar notícia
4

Caso Moraes: CPI é melhor que impeachment?

Visualizar notícia
5

Pedro Guimarães: Caixa paga R$ 14 milhões em acordos

Visualizar notícia
6

Marina deve voltar ao Congresso para explicar queimadas 'do amor'

Visualizar notícia
7

Agressão de Datena a Marçal vira caso de polícia

Visualizar notícia
8

Fortaleza: Girão (Novo) é expulso de debate após primeiro bloco

Visualizar notícia
9

Marido que dopava esposa para estupros coletivos admite crimes

Visualizar notícia
10

Impacto de cadeirada na TV para Marçal deve ser diminuto, dizem comitês

Visualizar notícia
1

Senador quer CPI para apurar inquéritos conduzidos por Moraes

Visualizar notícia
2

Após cadeirada, próximo debate terá cadeiras fixadas ao chão

Visualizar notícia
3

“Errei, mas de forma alguma me arrependo”, diz Datena sobre cadeirada em Marçal

Visualizar notícia
4

Conselho de Gayer a Datena: "Aposente"

Visualizar notícia
5

Marçal x Datena: estamos mesmo em São Paulo, em 2024?

Visualizar notícia
6

Após cadeirada, Malafaia diz que Marçal é 'psicopata' e 'desqualificado'

Visualizar notícia
7

Crusoé: Por evangélicos, Lula cria Dia do Pastor

Visualizar notícia
1

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
2

Democracia enfrenta pior crise global em meio século

Visualizar notícia
3

Fortaleza: Girão (Novo) é expulso de debate após primeiro bloco

Visualizar notícia
4

Papa Francisco celebra avanços com a China, apesar de críticas

Visualizar notícia
5

Marido que dopava esposa para estupros coletivos admite crimes

Visualizar notícia
6

Pai preso por abusar sexualmente da filha de 8 anos

Visualizar notícia
7

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
8

Pedro Guimarães: Caixa paga R$ 14 milhões em acordos

Visualizar notícia
9

Impacto de cadeirada na TV para Marçal deve ser diminuto, dizem comitês

Visualizar notícia
10

MP Eleitoral investiga cadeirada de Datena em Marçal

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Carlos Bolsonaro Eduardo Bolsonaro eleições 2024 Jair Bolsonaro Pablo Marçal Partido Liberal Ricardo Nunes Valdemar Costa Neto
< Notícia Anterior

Incêndios em São Paulo alcançam número recorde em agosto de 2024

25.08.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Descoberta de rara manopla de ferro em Oslo

25.08.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Rodolfo Borges

Rodolfo Borges é jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Como usar o "mas..." no caso da cadeirada

Como usar o "mas..." no caso da cadeirada

Carlos Graieb Visualizar notícia
Marçal, Datena e a distorção da masculinidade

Marçal, Datena e a distorção da masculinidade

Felipe Moura Brasil Visualizar notícia
Hora de pagar a conta

Hora de pagar a conta

Rodrigo Oliveira Visualizar notícia
Marçal x Datena: estamos mesmo em São Paulo, em 2024?

Marçal x Datena: estamos mesmo em São Paulo, em 2024?

Ricardo Kertzman Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.