Conflito no Sudão já deixou 19 mil mortos, diz ONU
Relatório aponta crise humanitária agravada por ataques a instalações médicas e deslocamento de 13 milhões de pessoas
O conflito no Sudão, que teve início em abril de 2023, mergulhou o país em uma das mais graves crises humanitárias do mundo.
De acordo com um relatório atualizado do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), divulgado nesta quinta-feira, 8, cerca de 19 mil pessoas foram mortas e mais de 33 mil ficaram feridas desde o início dos confrontos.
Além das mortes e ferimentos, a ONU documentou 83 ataques violentos a instalações médicas, que resultaram na morte de 54 pessoas e deixaram outras 104 feridas. As agressões têm como alvo não apenas os hospitais e clínicas, mas também o pessoal de saúde e os próprios pacientes, dificultando ainda mais o acesso a cuidados médicos em meio à guerra. O impacto desses ataques no sistema de saúde sudanês é devastador, com inúmeras unidades hospitalares fechadas ou operando com capacidade reduzida.
A crise no Sudão não se limita à violência física. O conflito forçou o deslocamento de cerca de 13 milhões de pessoas, muitas das quais foram obrigadas a deixar suas casas e buscar refúgio em países vizinhos como Chade e Sudão do Sul. Entre os deslocados, 2,3 milhões já cruzaram as fronteiras, gerando uma pressão adicional sobre as nações vizinhas, que lutam para acomodar o grande influxo de refugiados.
Além do deslocamento forçado, o Sudão enfrenta uma crise alimentar sem precedentes. O Programa Alimentar Mundial (PAM) afirmou nesta semana que quase 26 milhões de sudaneses não têm acesso adequado a alimentos, agravando a já desesperadora situação do país. Segundo o PAM, a crise alimentar é exacerbada pela falta de segurança, que impede o transporte de suprimentos básicos para as regiões mais afetadas.
O relatório da ONU também alerta para os riscos crescentes de surtos de doenças infecciosas, como cólera e diarreia, especialmente com a chegada da estação chuvosa. As fortes chuvas e inundações que atingiram recentemente várias regiões do país aumentam a probabilidade de epidemias em larga escala, colocando em risco a vida de milhares de pessoas.
As condições insalubres nos campos de refugiados e nas áreas urbanas superlotadas, combinadas com a escassez de serviços de saúde, criam um ambiente propício para a disseminação rápida de doenças.
A raiz do conflito está na luta pelo poder entre dois generais sudaneses: Abdel Fatah al-Burhan, líder do Exército Sudanês, e Mohammed Hamdan Dagalo, chefe das Forças de Apoio Rápido (RSF). Essa disputa transformou-se em uma guerra civil, com cada lado buscando controle total sobre o país. A rivalidade entre os dois generais levou o Sudão a um colapso total, com a economia destruída, o sistema de saúde em ruínas e milhões de vidas em risco.
Apesar da gravidade da situação, a resposta internacional tem sido limitada. Observadores internacionais têm comparado a falta de ação global no Sudão com a rápida mobilização de recursos e apoio vistos em outros conflitos, como a guerra na Ucrânia. A percepção de que o sofrimento no Sudão é ignorado pelo mundo preocupa organizações humanitárias, que clamam por uma intervenção mais robusta e efetiva para pôr fim ao derramamento de sangue e aliviar o sofrimento dos civis.
O Programa Alimentar Mundial está intensificando seus esforços para fornecer assistência de emergência, com a meta de ajudar 8,4 milhões de sudaneses até o final do ano. No entanto, com o conflito ainda em andamento e as condições de vida deteriorando rapidamente, as perspectivas para o Sudão permanecem sombrias. Enquanto os combates continuam, o país caminha para um desastre humanitário de proporções ainda maiores, com milhões de vidas em jogo.
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