Impactos das mudanças climáticas na vegetação ganha um estudo profundo
O impacto dos eventos de aquecimento rápido nos ecossistemas e o potencial para perturbações de longo prazo são discutidos, enfatizando a urgência de uma ação global para mitigação.
Em um planeta cada vez mais afetado pelas mudanças climáticas, um estudo multinacional aponta para os riscos que alterações significativas nos padrões de temperatura e precipitação podem representar para a vegetação. Ao estudar os três eventos mais significativos do tipo, incluindo a extinção em massa dos períodos Permiano-Triássico, os cientistas constataram que algumas espécies podem demorar milhões de anos para se recuperar.
“Hoje, enfrentamos uma grande crise bioclimática global”, diz Loïc Pellissier, professor de Ecossistemas e Evolução da Paisagem no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH) e principal autor do artigo, publicado na revista Science. “Nosso estudo demonstra o papel do funcionamento da vegetação para se recuperar de mudanças climáticas abruptas”, aponta.
Como a vegetação responde às mudanças climáticas?
Pellissier destaca que as situações estudadas pelos cientistas foram provocadas pela liberação de gases de efeito estufa por eventos vulcânicos. “Atualmente, a atividade humana tem levado à emissão desses gases em uma taxa mais rápida do que qualquer vulcanismo. Também somos a principal causa do desmatamento global, o que reduz fortemente a capacidade dos ecossistemas naturais de regular o clima. Este estudo, na minha perspectiva, serve como um chamado de atenção para a comunidade global.”
A história geológica da Terra é marcada por períodos de erupções vulcânicas catastróficas, que liberaram quantidades gigantescas de carbono na atmosfera e nos oceanos. O aumento do CO2 desencadeou um rápido aquecimento climático, que resultou em extinções em massa em ecossistemas terrestres e marinhos. O pior deles foi há 252 milhões de anos, nos períodos Permiano-Triássico, no que ficou conhecido como o Siberian Traps.
Como os cientistas investigam essas mudanças climáticas?
Os cientistas da ETH de Zurique, em colaboração com a Universidade do Arizona e outras instituições da Suíça, estudaram como a vegetação responde e evolui em resposta a grandes alterações climáticas. Eles investigaram o potencial dessas mudanças afetarem o sistema natural de regulação carbono-clima.
A equipe se baseou em análises geoquímicas de isótopos em sedimentos e comparou os dados com um modelo especialmente projetado para esse estudo. O programa incluía uma representação da vegetação e o papel desempenhado pelas espécies na regulação do sistema climático geológico.
O modelo demonstrou como o planeta responde à intensa liberação de carbono da atividade vulcânica em diferentes cenários. Um deles foi o Siberian Traps. “Esse evento liberou cerca de 40 mil gigatoneladas (Gt) de carbono ao longo de 200 mil anos. O aumento resultante nas temperaturas médias globais entre 5ºC e 10°C causou o evento de extinção mais severo da Terra no registro geológico”, disse Taras Gerya, coautora do estudo.
O que o estudo descobriu sobre a regulação climática?
Julian Rogger, da ETH Zurique, que liderou o estudo, explica que a recuperação da vegetação após o Siberian Traps levou vários milhões de anos. “Durante esse tempo, o sistema de regulação clima-carbono da Terra teria sido fraco e ineficiente, resultando em aquecimento climático de longo prazo”, diz ele.
Os pesquisadores descobriram que a gravidade desses eventos é determinada pela rapidez com que o carbono emitido pode ser devolvido ao interior da Terra — sequestrado pelos processos que desagregam e decompõem rochas e minerais ou pela produção do carbono orgânico, removendo o gás da atmosfera.
- Adaptação da vegetação ao aumento de temperatura está diretamente associada ao tempo em que o clima leva até voltar ao equilíbrio.
- Algumas espécies se adaptaram evoluindo, enquanto outras migraram geograficamente para regiões mais frias.
- Alguns episódios geológicos foram tão catastróficos que alguns vegetais não tiveram tempo suficiente para reagir.
A pesquisa também descobriu que uma interrupção da vegetação aumentou a duração e a gravidade do aquecimento climático no passado geológico. “Em alguns casos, pode ter levado milhões de anos para atingir um novo equilíbrio climático estável devido à capacidade reduzida da vegetação de regular o ciclo de carbono da Terra”, diz Loïc Pellissier.
“Esse trabalho confirma que a Terra pode responder às mudanças climáticas de maneiras muito perigosas para a vida”, diz Ben Mills, professor de Evolução do Sistema Terrestre na Escola de Terra e Meio Ambiente da Universidade de Leeds, na Inglaterra. “Períodos antigos de mudanças climáticas duraram muito além da cessação das emissões de carbono, e é possível que o clima possa transitar permanentemente para um estado mais quente.”
Os eventos estudados ocorreram há milhões de anos e se desenrolaram ao longo de centenas de milhares de anos. Eles contam uma história de advertência para os dias atuais.
Como prevenir consequências futuras semelhantes?
Para evitar um cenário catastrófico semelhante, é imperativo que ações globais sejam tomadas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e limitar o desmatamento. A conscientização sobre os impactos das mudanças climáticas na vegetação é crucial para promover políticas ambientais sustentáveis.
A comunidade global deve reconhecer os perigos potenciais e agir proativamente para mitigar os efeitos adversos do aquecimento global. Somente assim poderemos garantir a recuperação e a manutenção dos ecossistemas naturais, que desempenham um papel vital na regulação do clima da Terra.
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