EUA são acusados de tolerar dopagem para espionar atletas
Denúncias expõem um embate entre a WADA e a USADA sobre métodos controversos usados para combater o doping esportivo
As agências antidoping global e dos EUA estão em confronto devido a alegadas táticas secretas utilizadas pela entidade americana para identificar infratores, conforme noticiou Reuters.
A Agência Mundial Antidoping (WADA) acusa a Agência Antidoping dos EUA (USADA) de violar o código global ao permitir que vários atletas pegos em infrações antidoping entre 2011 e 2014 continuassem competindo sem serem punidos, em troca de informações sobre outros violadores das regras.
A USADA defende essa prática, alegando que é necessária e permitida, e deseja continuar a utilizá-la. Segundo a WADA, essa tática contraria seu código, pois atletas flagrados em violações antidoping não deveriam competir e ganhar prêmios e medalhas sem serem, antes, processados publicamente e sancionados.
Acusação por permitir dopagem
As duas agências também divergem sobre o sistema global de policiamento do doping no esporte, especialmente após o caso de 23 nadadores chineses, que gerou polêmica às vésperas das Olimpíadas de Paris.
A WADA afirmou que, em pelo menos três casos, atletas que cometeram sérias violações antidoping foram autorizados a competir por anos enquanto atuavam como agentes secretos para a USADA, sem que fossem feitas notificações à WADA e sem regras que permitissem tal prática sob o código global ou as próprias regras da USADA.
Esses três atletas já se aposentaram, mas a WADA se recusou a nomeá-los, citando preocupações de segurança caso enfrentem retaliação. A agência global fez essa declaração após ser questionada pela Reuters sobre a prática, devido a especulações nas redes sociais.
O que diz a agência dos EUA
A USADA defendeu a prática de permitir que infratores das regras antidoping competissem para atuar como informantes secretos, afirmando que, em um caso, essa assistência forneceu inteligência crucial para uma investigação federal dos EUA sobre um esquema de tráfico de humanos e drogas.
O CEO da USADA, Travis Tygart, disse à Reuters que essa tática é uma maneira eficaz de abordar problemas maiores e sistêmicos no doping esportivo.
Tygart, conhecido por liderar a acusação contra o ciclista Lance Armstrong, acredita que usar atletas violadores para expor infratores mais seniores e reunir inteligência sobre criminosos organizados envolvidos no doping é a abordagem correta. Segundo ele, enfrentar agentes que exploram atletas e traficam substâncias proibidas é totalmente apropriado.
Código mundial antidoping
De acordo com o código mundial antidoping, ao qual a USADA é signatária, um atleta que “ajuda substancialmente” em uma investigação pode solicitar a suspensão de parte de qualquer proibição após a acusação. No entanto, não há especificação que permita que atletas violadores das regras antidoping continuem competindo sem serem primeiro processados e sancionados.
A WADA criticou a sugestão de que o código poderia ser usado para justificar a falha em processar casos por anos enquanto atletas dopados competem como informantes secretos, chamando essa interpretação de “obviamente errada“.
Tygart afirmou que, dada a posição da WADA, a USADA se absterá de usar essa tática novamente sem autorização da agência global, mas criticou a WADA por adotar uma “posição anti-esporte limpo“.
Luta contra o doping
A batalha contra o doping esportivo está em constante evolução, com as agências antidoping tentando acompanhar as mudanças nas substâncias e tecnologias usadas para obter vantagens injustas.
Atualmente, as agências armazenam amostras coletadas de atletas por 10 anos, permitindo re-testes para substâncias desconhecidas anteriormente. Retestes de amostras das Olimpíadas de Pequim 2008 e Londres 2012 resultaram em dezenas de desqualificações e realocação de medalhas.
Em 2021, a USADA informou à WADA que permitia que atletas infratores atuassem como informantes desde 2011, o que levou a WADA a ordenar a interrupção imediata dessa prática. A WADA revelou que dois dos atletas eram de baixo escalão, enquanto um tinha perfil mais alto. Apesar da prática ser considerada perigosa para a segurança dos atletas, a WADA concordou em encerrar o caso após a USADA informar que os atletas envolvidos já estavam aposentados.
A USADA rebateu, afirmando que a WADA estava ciente dos casos antes de 2021 e acusou a agência global de difamação, respondendo às críticas sobre a gestão do caso da natação chinesa.
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