Cientistas indicam NÃO usar gelo em lesões
O protocolo PEACE and LOVE redefine o tratamento de lesões, focando na resposta natural do corpo e evitando abordagens que interrompem o processo inflamatório.
Parece contraditório, mas o uso de gelo, um método clássico de tratamento de lesões, começou a ser questionado por especialistas. A crioterapia traz alívio imediato ao reduzir a dor e a inflamação, mas estudos indicam que interromper o processo inflamatório pode não ser a melhor abordagem para a cura a longo prazo. O que exatamente mudou no entendimento sobre inflamação e recuperação de lesões? Vamos explorar essa questão.
A inflamação é uma resposta natural do corpo a lesões. Quando nos machucamos, os vasos sanguíneos inicialmente se contraem para impedir a perda de sangue. Logo em seguida, eles se dilatam e aumentam sua permeabilidade, permitindo a entrada de células e substâncias que iniciam o processo inflamatório. Esse é o momento crucial para os neutrófilos, células que “limpam” a área lesionada.
Protocolo PEACE and LOVE: A Nova Abordagem no Tratamento de Lesões
No auge do processo inflamatório, o acúmulo de substâncias e células na área da lesão inicia a fase de proliferação ou cicatrização do tecido. Compreender essa fase é vital para uma recuperação adequada. A prática tradicional de aplicar gelo pode, na verdade, atrasar ou prejudicar esse processo natural de cura.
Quais São as Mudanças no Protocolo de Tratamento de Lesões?
O protocolo RICE (Rest, Ice, Compression, Elevation), desenvolvido pelo Dr. Gabe Mirkin em 1978, foi um marco no tratamento de lesões, mas com o tempo, novas descobertas científicas sugeriram ajustes. Na década de 1980, o acrônimo evoluiu para PRICE, adicionando a proteção ao conjunto de cuidados essenciais. Em 2012, surgiu o protocolo POLICE, que introduziu o conceito de “carga ótima” (Optimal Loading), recomendando movimentos leves e controlados para acelerar a recuperação.
Por que o Gelo Pode Não Ser Eficaz?
O uso de gelo, embora eficaz na redução imediata da dor, pode alterar os processos de inflamação e recuperação. Estudos revelam que a crioterapia e até alguns medicamentos anti-inflamatórios modificam o curso natural de cura do corpo, potencialmente resultando em fibrose e má recuperação dos tecidos. Até o Dr. Mirkin, criador do protocolo RICE, revisou sua opinião, reconhecendo em 2015 que “o gelo retarda a cicatrização”.
Foi em 2019 que os especialistas canadenses Blaise Dubois e Jean-François Esculier propuseram o protocolo PEACE and LOVE. O “A” em PEACE significa “Avoid anti-inflammatory” (evitar anti-inflamatórios), incluindo o gelo. Essa abordagem é baseada em evidências científicas que mostram que a vasodilatação é crucial para uma recuperação eficaz.
Entendendo a Dor Nociceptiva
A dor nociceptiva é a dor que sentimos como resposta a danos aos tecidos. Essa dor atua como um sinal de alerta, desencadeando adaptações no corpo que promovem a cura, como a limitação de movimento. Usar gelo ou medicamentos anti-inflamatórios pode suprimir essa dor e, por consequência, retardar ou até piorar a recuperação da lesão, já que não permite que a dor cumpra sua função protetora natural.
Qual é o Papel da Alimentação na Recuperação?
Durante a fase de reparação dos tecidos, é recomendável consumir alimentos ricos em ômega-3 (EPA e DHA) e suplementar a dieta com vitamina C para favorecer a cura. No entanto, em casos de lesões graves, é essencial procurar orientação médica ou fisioterapêutica para um tratamento adequado e direcionado.
Em resumo, o protocolo PEACE and LOVE representa uma mudança significativa na abordagem do tratamento de lesões. Ao evitar o gelo e anti-inflamatórios, e promover a cura natural e o movimento controlado, essa nova metodologia tem ganhado aceitação e promete melhorar os resultados a longo prazo.
Beatriz Carpallo Porcar é fisioterapeuta, docente e pesquisadora dos cursos de Fisioterapia e Enfermagem da Universidade San Jorge. Membro do grupo de pesquisa iPhysio da Universidade San Jorge.
Paula Cordova Alegre é docente e pesquisadora dos cursos de Fisioterapia e Enfermagem da Universidade San Jorge.
**Este texto foi publicado originalmente no site do The Conversation Brasil**
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