É possível despertar o desejo de consumir uma moda mais sustentável?
Nova edição da Copenhagen Fashion Week impõe 18 requisitos para seus participantes, entre eles que 50% da coleção seja feita com materiais reciclados
Por Bárbara Barroso Grecco*
O mercado da moda é uma indústria de grandes números: movimenta anualmente cerca de 1,7 trilhões de dólares para a economia global e emprega mais de 300 milhões de pessoas em toda sua cadeia de valor.
Tamanha proporção vem acompanhada de um alto custo para o meio ambiente. Estudos apontam que a indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo, emitindo por ano cerca de 2,1 bilhões de toneladas de carbono, o equivalente a 4% de todas as emissões globais e ao que França, Alemanha e Reino Unido emitem juntos.
É a segunda indústria que mais consome água no mundo e a quantidade de roupas descartadas é aterrorizante: só nos EUA, 2150 peças por segundo. Isso sem falar nos diversos escândalos de trabalho análogo à escravidão e a falta de transparência na cadeia produtiva.
Desejo de ter
Diante esse cenário, é evidente que a indústria precisa adaptar seus processos e buscar por matérias primas alternativas a fim de diminuir seu impacto negativo. Não só ambiental como social, se tornando mais justa com diferentes tipos físicos, pessoas e meio ambiente.
Mas como fazer isso se um dos objetivos da moda é despertar o desejo de pertencer, que por sua vez gera o desejo de ter?
Despertando novos desejos de pertencimento e consequentemente, de hábitos de consumo.
E essa é a proposta da Copenhagen Fashion Week, a semana de moda mais sustentável do mundo.
As semanas de moda são vitrines importantíssimas para a indústria, onde grandes marcas apresentam e ditam quais serão as principais tendências para a estação. São eventos que reúnem os mais importantes veículos de comunicação, designers, compradores, influenciadores e celebridades.
Sustentabilidade
Visto a influência que essas semanas tem nos mercados de moda do mundo todo, vem o questionamento: e se a influência fosse além do novo look do momento, mas também para se tornar mais sustentável?
Foi pensando nisso que, em 2019, a organização da Copenhagen Fashion Week anunciou sua intenção de mudar e tornar-se um evento pioneiro em sustentabilidade e uma plataforma de influência nesse sentido para a indústria da moda.
Em 2020 lançaram seu primeiro Plano de Ação de Sustentabilidade, um guia com os padrões que todas as marcas e desfiles devem cumprir para poder desfilar na semana dinamarquesa. Desde janeiro de 2023, as marcas presentes no evento precisam atender a esses critérios e comprová-los perante um comitê de sustentabilidade.
Materiais reciclados
O plano envolve desde estratégia ambiental, escolha de materiais até condições de trabalho. Alguns dos 18 requisitos são a proibição de destruir roupas não vendidas de coleções passadas (acredite se quiser, isso ainda acontece!); ter pelo menos 50% da coleção feita com materiais reciclados, reutilizados ou de origem mais sustentável e a compensação de carbono dos desfiles.
A próxima edição da Copenhagen Fashion Week começa em 5 de agosto e vai até o dia 9 com 46 marcas se apresentando, incluindo o brasileiro João Maraschin.
A expectativa da organização dinamarquesa é de crescimento da sua influência na indústria da moda global, impulsionando-a a aderir a medidas de sustentabilidade em todos os níveis de negócio.
*Bárbara Barroso Grecco é fundadora do Le Impact (@leimpact), que vai cobrir a Copenhagen Fashion Week.
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