Crime de Guerra no Sudão: Relatos de agressões e abusos sexuais
A violência sexual constante no Sudão em meio à guerra civil entre as Forças Armadas Sudanesas e os rebeldes paramilitares
Uma mulher dorme todas as noites com uma faca debaixo do travesseiro na esperança de se proteger contra possíveis ataques armados. Outra foi violentada repetidamente junto com suas filhas enquanto o marido e filhos assistiam. Essas histórias são apenas uma parte dos terríveis relatos de violência sexual cometida contra mulheres e meninas no Sudão, especialmente na capital Cartum.
Desde abril de 2023, quando a guerra civil entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e os rebeldes das Forças Paramilitares de Apoio Rápido (RSF) começou, o cenário de destruição e violência só se intensificou. O conflito reduziu bairros inteiros a escombros e se espalhou para outras regiões do país, incluindo Darfur. Uma situação devastadora que, segundo as Nações Unidas, representa um dos piores desastres humanitários da memória recente.
Relatório da Human Rights Watch Detalha Horrores Vividos por Mulheres em Cartum
O relatório da Human Rights Watch (HRW), lançado nesta segunda-feira (29), intitulado “Cartum não é segura para as mulheres”, revela um cenário aterrorizante para mulheres e meninas na capital sudanesa. A pesquisa, que entrevistou profissionais de saúde e assistentes sociais, mostrou que muitas delas foram sujeitas a repetidas violações, casamentos forçados e escravidão sexual.
Como os Conflitos Afetam as Mulheres no Sudão?
Desde o início dos combates, as mulheres se tornaram alvos fáceis nas áreas residenciais controladas pelas RSF. Segundo Laetitia Bader, vice-diretora para África da HRW, “as Forças de Apoio Rápido violaram, forçaram ao casamento e aterrorizam mulheres e meninas, impedindo-as de obter ajuda e serviços de apoio”. Esse cenário só aumenta o sentimento de desespero e desproteção entre as vítimas.
Qual é a Resposta Internacional?
Apesar da gravidade da situação, a resposta internacional foi mínima. A HRW apelou para que ambos os lados do conflito cessem imediatamente os ataques a instalações de saúde e prestadores de cuidados, permitindo a entrada de ajuda humanitária. O Conselho de Segurança da ONU deve pressionar as partes envolvidas a respeitar o direito humanitário internacional e impor sanções contra os responsáveis por essas atrocidades.
Problemas e Obstáculos no Terreno
A pesquisa enfrentou vários desafios, como a dificuldade de acesso a Cartum e de falar diretamente com os sobreviventes. Mesmo assim, 42 profissionais de saúde e outros trabalhadores de resposta foram entrevistados entre setembro de 2023 e fevereiro de 2024. Dos relatos coletados, 18 profissionais prestaram cuidados diretos a mais de 260 sobreviventes, cujas idades variavam de 9 a 60 anos.
Casos de Violência e Trauma
Os relatos são consistentes em demonstrar o trauma físico e psicológico das sobreviventes, muitas das quais lidam com lesões debilitantes. Em pelo menos quatro casos, essas lesões foram fatais. Um psiquiatra entrevistado ajudou mais de 40 vítimas de violação e relatou a história de uma mulher que, após ser violentada, descobriu que estava grávida de três meses. “Ela estava claramente traumatizada e tremendo, com medo de como sua família reagiria”, disse o psiquiatra.
Crimes de Guerra e Impunidade
O relatório da HRW acusa ambos os lados do conflito de violarem profundamente o direito humanitário internacional, com ações que podem ser categorizadas como crimes de guerra e contra a humanidade. A SAF e a RSF foram criticadas por impedir uma resposta adequada à violência de gênero, restringindo o acesso a suprimentos humanitários e perpetrando atos de violência sexual.
- Restrição de fornecimentos humanitários pelas SAF
- Saques de material médico pelas RSF
- Violência sexual contra prestadores de cuidados de saúde
Os autores do relatório apelam à comunidade internacional para que adote medidas concretas, como sanções direcionadas a comandantes e perpetradores envolvidos. A HRW enfatiza a necessidade de parar imediatamente os ataques e permitir o acesso a ajuda nas zonas de conflito.
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