Savodnik: mídia “bolchevique” altera narrativas para favorecer Kamala Harris
Editor sênior do The Free Press e ex-correspondente na URSS critica a mudança da mídia sobre o papel de Kamala Harris na crise migratória, acusando de distorcer os fatos para beneficiar sua campanha presidencial
Peter Savodnik, editor sênior da The Free Press, publicou um artigo intitulado “Enganando o Público sobre Kamala Harris como ‘Czar da Fronteira'” nesta quarta, 24. O autor aborda a confusão deliberada em torno do papel da vice-presidente Kamala Harris na crise migratória, destacando mudanças na narrativa da mídia que, segundo ele, favorecem sua candidatura presidencial.
O jornalista diz que a mídia está realizando um “gaslighting” – termo que descreve manipulação para fazer alguém duvidar de sua sanidade – ao redefinir o papel de Harris, em um esforço para proteger sua imagem. Ele acusa a imprensa de agir de forma “bolchevique”, revisando a história e apagando fatos para servir a objetivos políticos, similar à manipulação de informações que ele associa ao regime soviético, que ele conhece por experiência própria por ter morado e trabalhado na ex-URSS.
Savodnik inicia mencionando um artigo da Axios de março de 2021, que afirmava que Harris lideraria os esforços para enfrentar a crise na fronteira entre os EUA e o México, incluindo a gestão do fluxo de crianças desacompanhadas e famílias migrantes. “Biden coloca Harris no comando da crise na fronteira”, dizia o título original. Na época, a jornalista Stef W. Kight relatou que a vice-presidente lideraria os esforços com México e o Triângulo Norte para controlar o fluxo migratório.
Kight publicou um novo artigo recentemente intitulado “Confusão sobre o Papel de Harris na Fronteira Assombra sua Nova Campanha”, alegando que Harris foi encarregada apenas de uma parte do problema migratório. Savodnik observa que a Axios atualizou o artigo para esclarecer que o veículo estava entre aqueles que incorretamente rotularam Harris como “czar da fronteira” em 2021, incluindo uma nota do editor para corrigir o erro.
O autor critica essa mudança, afirmando: “Este pedaço de informação que antes era considerado um fato foi, nas últimas 48 horas, considerado politicamente prejudicial e, portanto, vamos apenas fazê-lo desaparecer.” Ele sugere que a Axios, uma publicação que ele considera crível, está sacrificando sua credibilidade em benefício da provável candidata democrata à presidência.
Savodnik aponta que outras mídias, como Time, USA Today, CBS e The New York Times, seguiram a mesma linha ao corrigir o papel de Harris, enfatizando que a vice-presidente não era a “czar da fronteira”, mas estava focada nas “causas raízes” da migração. Ele argumenta que essa correção é absurda, pois ninguém no governo dos EUA é tecnicamente um czar de qualquer coisa, e que o título era amplamente usado de maneira informal.
Segundo ele, as reportagens recentes falharam em abordar questões críticas sobre a situação na fronteira, como o recorde de 250 mil migrantes ilegais detidos em dezembro de 2023 e a violência e influência dos cartéis de drogas. “Se a fronteira não fosse um caos, Kamala Harris estaria fazendo campanha com esse tema agora”, afirma Savodnik, criticando a mídia por favorecer Harris ao invés de fornecer uma análise objetiva.
O cerne da acusação está na mudança de como diversos meios de comunicação se referem ao papel de Harris. Anteriormente, ela era frequentemente chamada de “czar da fronteira” ou descrita como tendo um papel significativo na gestão da crise migratória. Agora, esses mesmos veículos afirmam que ela nunca teve esse título ou responsabilidade.
Essa mudança na narrativa coincide com o momento em que Harris se torna a provável candidata democrata à presidência, levantando suspeitas de uma tentativa de protegê-la de críticas relacionadas à crise na fronteira. Alguns meios de comunicação, como a Axios, chegaram a publicar artigos recentes que contradizem suas próprias reportagens anteriores sobre o papel de Harris.
A acusação também aponta para uma aparente falta de transparência, com alguns veículos adicionando notas do editor ou atualizações em artigos antigos sem explicar completamente a razão da mudança na narrativa. Além disso, há uma percepção de que a mídia está evitando escrutinar o histórico de Harris na questão da imigração com o mesmo rigor aplicado a outros temas políticos.
A similaridade nas mudanças de narrativa entre diferentes veículos de mídia sugere uma possível coordenação, lembrando táticas de controle de informação. Essa acusação de comportamento “bolchevique” reflete uma preocupação com a integridade jornalística e a possibilidade de manipulação da opinião pública através da revisão seletiva de fatos históricos recentes.
Quem é Peter Savodnik
Peter Savodnik é um jornalista americano e editor sênior do The Free Press. Iniciou sua carreira escrevendo para semanais e diários, cobrindo campanhas em Washington, D.C. Posteriormente, trabalhou na ex-URSS, sul da Ásia e Oriente Médio, contribuindo para veículos como The New York Times Magazine, The Atlantic, Wired, Harper’s, GQ e outros.
Em 2013, lançou o livro The Interloper: Lee Harvey Oswald Inside the Soviet Union pela Basic Books. Migrou do impresso para o vídeo digital, lançando a plataforma Stateless e produzindo conteúdo para CNE, TechCrunch, Engadget, The Verge, The Guardian, BuzzFeed, boing boing, HuffPo e outros. Retornou ao impresso cobrindo a interseção entre entretenimento e as primárias democratas de 2020, principalmente para a Vanity Fair.
Atualmente é editor sênior do The Free Press (anteriormente Common Sense).
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